
Comício de Bernie Sanders e Alexandria Ocasio-Cortez em Los Angeles
O comício do senador Bernie Sanders e da congressista Alexandria Ocasio-Cortez, que decorreu em Los Angeles, atraiu 36 mil pessoas e teve a maior multidão de sempre num evento do ex-candidato à nomeação democrata para as presidenciais.
O senador Bernie Sanders e a congressista Alexandria Ocasio-Cortez levaram uma multidão às ruas de Los Angeles, num comício contra a “Oligarquia Americana”.
Com atuações dos músicos Neil Young e Joan Baez, o comício, que se realizou este sábado, fez parte do movimento “Lutar contra a Oligarquia” que Sanders e Ocasio-Cortez (conhecida como AOC) estão a organizar por todo o país.
O comício dos dois políticos norte-americanos, da ala de extrema-esquerda do Partido Democrata, decorreu em frente à câmara municipal de Los Angeles e durou seis horas, com múltiplos intervenientes de sindicatos, movimentos cívicos e representantes eleitos.
“A vossa presença está a deixar Donald Trump e Elon Musk muito nervosos”, exclamou Bernie Sanders, usando um boné da equipa de beisebol local, Dodgers, e galvanizando as dezenas de milhares de pessoas que cantavam “Bernie, Bernie” em uníssono.
“Estamos a viver num momento de perigo extraordinário e a forma como respondermos vai não apenas ter impacto nas nossas vidas, mas também dos nossos filhos, das próximas gerações e do planeta Terra”, afirmou.
O discurso de Bernie Sanders, senador independente de Vermont, centrou-se no papel que os milionários têm tido na nova administração de Donald Trump, em especial Elon Musk.
“Vivemos num momento em que uma mão cheia de milionários controla a vida política e económica do país”, criticou, “com um Presidente que não compreende nem respeita a Constituição dos Estados Unidos e está a mover-nos em direção a uma forma de sociedade autoritária”.
Esta é a “oligarquia americana” que Sanders e AOC consideram estar em efeito com o objetivo de obter cada vez mais cortes de impostos para os mais ricos e manter os restantes a sobreviver de salário em salário.
Ambos criticaram Musk por estar a intervir no sistema e pagamentos de Segurança Social, com o propósito de reduzir os benefícios pagos para compensar os cortes de impostos que aí vêm.
“A oligarquia não é só economia. Estamos a viver sob um sistema de financiamento de campanhas corrupto, que permite aos milionários comprar eleições”, acusou Sanders, mencionando que Elon Musk gastou 237 milhões de euros na campanha para eleger Donald Trump.
Os oligarcas, afirmou Bernie Sanders, “são muito religiosos” mas a sua religião é “baseada na ganância e não no amor” ou na justiça. “Musk e os seus amigos veem-vos como trabalhadores dispensáveis e não querem saber de vocês”, continuou.
Bernie Sanders também falou da política externa desta administração, afirmando que é a primeira vez que um presidente norte-americano se alinha com ditadores. Criticou a posição de Trump em relação à Ucrânia e o envio de milhões “para a máquina de guerra de Benjamin Netanyahu” em Israel.
“A oligarquia não fará concessões. Eles têm dinheiro, poder, o Congresso, a Casa Branca e os média. Mas não são os nossos donos”, disse Bernie Sanders, senador independente pelo Vermont, que em novembro arrasou os Democratas após a derrota de Kamala Harris nas eleições presidenciais.
David Swanson / EPA

Alexandria Ocasio-Cortez em comício com Bernie Sanders em Los Angeles
O ódio é uma armadilha que nos afunda
Sanders foi precedido de Alexandria Ocasio-Cortez, que também criticou Musk e as políticas mais controversas de Trump e pediu a todos que ajudem a derrotar o congressista luso-americano da Califórnia David Valadão, que votou a favor do orçamento republicano.
“Eles não estão aqui para vos servir, estão para se servirem a si próprios e aos milionários que lhes pagam”, acusou AOC. “Donald Trump não é uma aberração, é a conclusão inevitável de um sistema dominado por dinheiro obscuro. Para o derrotarmos, temos de derrotar o sistema que o criou, o dinheiro na política”.
AOC apontou para a recente hecatombe dos mercados financeiros e subsequente recuperação quando as tarifas a outros países foram suspensas por 90 dias.
“A mudança nas tarifas foi para manipular os mercados, para que Trump pudesse enriquecer os amigos”, considerou, defendendo que os congressistas não devem poder comprar ou vender ações com base em informação privilegiada.
“O que eles querem é que as nossas vidas sejam o mais caras possível com os salários mais baixos”, afirmou. “É isto que é a oligarquia. Trouxe-nos a administração mais corrupta da história e maiorias republicanas para a apoiar”.
A congressista disse que é preciso um partido democrata que lute com mais força e ligou “a destruição dos direitos e da democracia” à desigualdade económica na América.
Também apelou para que as pessoas não cedam ao medo e às táticas de intimidação, elogiando a ação de duas escolas primárias de Los Angeles – um distrito escolar liderado pelo português Alberto Carvalho – que impediram agentes de imigração de interrogarem crianças.
“O ódio é uma armadilha que nos afunda a todos. Juntarmo-nos para rejeitar a divisão é a única maneira de conseguirmos vencer”, exclamou. “Este movimento não é sobre etiquetas partidárias ou testes de pureza, é sobre solidariedade de classe”.
Filha de uma empregada de limpeza porto-riquenha e de um pequeno comerciante do bairro nova-iorquino do Bronx, Alexandria Ocasio-Cortez, a imigrante latina que se tornou a mais jovem congressista dos EUA, é apontada a “esperança” da ala esquerda do Partido Democrata.
Antes de AOC entrar em palco, Neil Young interpretou a sua lendária canção “Rockin’ in the Free World” e liderou o cântico “Take America Back”, que a multidão entoou sob o intenso calor do sul da Califórnia.
Joan Baez cantou “Imagine”, tema de John Lennon e Yoko Ono, e a artista folk Maggie Rogers deu as boas-vindas ao “Berniechella”, uma referência ao festival de música Coachella, que decorre este fim de semana no deserto californiano.
“O poder será sempre do povo”, disse a cantora.
ZAP // Lusa