Selfies com “talibros” e AK-47. Jovens ocidentais estão a fazer turismo no Afeganistão

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Stringer / EPA

Há cada vez mais vloggers de viagens a apostar em visitar destinos considerados perigosos no Ocidente, como o Afeganistão. Há até quem mostre o dia-a-dia dos talibã.

Um número crescente de YouTubers de viagens está a aventurar-se no Afeganistão, retratando o país devastado pela guerra e novamente nas mãos dos talibãs sob uma luz diferente.

Entre eles está o YouTuber canadiano Nolan Saumure, de 28 anos, que entrou no Afeganistão vindo do Paquistão no verão passado. O seu objetivo? Mostrar o que ele chama de “o outro lado do Afeganistão” — uma terra de beleza natural, hospitalidade calorosa e camaradagem inesperada.

No canal do YouTube Seal on Tour, onde soma mais de 650 000 subscritores,  mostra uma vida social esmagadoramente masculina — que Saumure descreve como um “festival de salsichas” — como consequência das restrições que os talibãs impõem às mulheres. O YouTuber mostra ainda momentos como andar de barco a pedais ou um abate de uma cabra, refere a Business Insider.

Ao longo da sua viagem, interage com membros dos talibãs, a quem ele e outros vloggers chamam “talibros”, ajudando-os por vezes com aplicações de smartphone como o Duolingo. Saumure também desvaloriza os alertas dos Governos ocidentais sobre perigos no Afeganistão: “Só nos baseamos no que os outros viajantes dizem.”

No entanto, até ele reconhece os problemas profundamente enraizados do Afeganistão. “Vi a opressão em primeira mão, as mulheres não podem entrar em certos parques e as leis de modéstia”, admite. “É um assunto delicado. Eu só queria dizer, ‘é assim que as coisas são aqui’, em vez de forçar as minhas crenças.”

Este envolvimento com talibãs é comum entre os YouTubers que procuram retratar o país para além da narrativa sinistra dos meios de comunicação ocidentais. Vídeos com títulos como ‘O Afeganistão NÃO É O QUE VOCÊ PENSA!’ atraem milhões de visualizações, pintando uma imagem de uma nação incompreendida.

Saumure é apenas uma parte de uma tendência mais alargada de normalização do regime talibã. O viajante britânico Miles Routledge — que foi para o Afeganistão após ver o país na lista de países mais perigosos do mundo — ficou retido em Cabul após a retirada dos Estados Unidos em 2021, mas descreveu a sua experiência como positiva, alegando que viu filmes e jogou Xbox com talibãs.

Outro vlogger popular, conhecido como Arab, tem um canal com 1,8 milhões de subscritores e apresenta-se como um viajante de aventura. Os seus vídeos incluem “Os Jovens Talibãs Treinam-me Para a Guerra” e “Passei 7 Dias a Viver com os Talibã”. Este tipo de conteúdo alimenta a curiosidade, ao mesmo tempo que suscita críticas por potencialmente normalizar um regime extremista.

A sede por turistas

O Afeganistão está ansioso por atrair turistas e tem promovido ativamente a sua indústria turística. Os dados governamentais sugerem que 14 500 estrangeiros visitaram o país desde 2021, na sua maioria homens.

A vlogger de viagens britânica Carrie Patsalis passou 10 dias no Afeganistão com um guia local e argumenta que evitar países devido aos seus governos faz mais mal do que bem. “Evitar esses lugares prejudica a economia e o povo afegão, que pode até não apoiar os talibãs”, diz.

Nem todos os criadores de conteúdos se concentram em interações controversas com os talibãs. Harry Jaggard, um vlogger britânico de 27 anos, viu a sua série sobre o Afeganistão tornar-se no seu conteúdo mais popular. Embora tenha conhecido membros dos talibãs, fez um esforço para destacar os cidadãos comuns, chamando-lhes “algumas das pessoas mais hospitaleiras que conheci” e frisa que “um governo e o seu povo são duas coisas diferentes”.

Adriana Peixoto, ZAP //

1 Comment

  1. Obsessão pela Sharia Law por os muculm… Só mostra que não existe no mundo muculm, radicais ou extremistas. Eles todos apoiam o “extremismo” porque é apenas islão e praticas aprovadas e praticadas pelo profeta…. Que a única profecia que fez foi que allah matava os falsos profetas com um corte na veia Aorta e é relatado que ele morreu a dizer que parecia que a Aorta dele estava a ser cortada.

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