Ex-marido de Gisèle Pelicot condenado à pena máxima de 20 anos de prisão

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Guillaume Horcajuelo/EPA

Gisèle Pelicot

Dominique Pelicot foi condenado por ter drogado a ex-mulher Gisèle e convidado mais de 50 homens desconhecidos a violá-la. O caso inspirou uma onda de manifestações em França.

O caso que chocou França já tem um desfecho. Dominique Pelicot foi condenado esta quinta-feira à pena máxima de 20 anos de prisão e considerado culpado de todas as acusações de violação contra a ex-mulher, Gisèle Pelicot.

Este processo é referente a acusações de que, ao longo de 10 anos, Dominique Pelicot drogou e violou a mulher inúmeras vezes, tendo ainda recrutado mais de 50 homens através da internet para também abusarem da esposa. Vários destes abusos foram filmados por Dominique.

Para além dos crimes contra Gisèle, Dominique foi também condenado por tentativa de violação agravada de Cillia, a mulher do co-arguido Jean Pierre Marechal, e por ter captado imagens íntimas sem consentimento da própria filha, Caroline, e das noras Céline e Aurore.

Em tribunal, Dominique Pelicot já tinha confessado que esmagava comprimidos na comida da mulher para a deixar inconsciente. “Sou um violador como os outros nesta sala. Eles todos sabiam, não podem dizer o contrário. Ela não merecia isto. Eu era muito feliz com ela. Eu peço perdão, apesar de ser inaceitável”, declarou.

“Acabávamos de comer. Ela trazia o meu gelado de framboesa para a cama, o meu sabor preferido. E eu pensava, que sorte a minha, ele é um amor. Como é que me pôde trair até este ponto? Como é que trouxe estes estranhos para o meu quarto?”, relatou a vítima.

O caso de Gisèle ganhou notoriedade devido à sua decisão de deixar que o julgamento fosse aberto ao público. A sua defesa alega que esta decisão serviu para que a “vergonha” fosse sentida pelos acusados e não pela vítima.

Desde então, Gisèle tornou-se um símbolo da luta contra a violência sexual e o caso inspirou uma onda de protestos em França, com os detalhes sórdidos da sua história fizeram manchetes na imprensa um pouco por todo o mundo.

Várias dezenas de pessoas também se reuniram esta manhã à porta do tribunal onde foi proferida a sentença, em Avignon, para manifestarem o seu apoio a Gisèle e aos seus filhos.

Para além de Dominique Pelicot, Jean-Pierre Maréchal também foi condenado a 12 anos de prisão por ter violado a sua mulher. Maréchal era o único arguido que não estava a ser julgado pela violação a Gisèle, mas antes por ter também drogado e abusado da própria esposa, seguindo o exemplo de Dominique.

Entre as dezenas de outros arguidos, a maioria foi considerada culpada de violação agravada de Gisèle Pelicot, mas há exceções. Saifeddine Ghabi foi considerado culpado de agressão sexual em grupo, já que negou ter penetrado Gisèle e​ não há  imagens que mostrassem o contrário. Quatro arguidos foram ainda condenados por violação ou tentativa de violação e receberam penas de cinco anos de prisão parcialmente suspensas.

No geral, as penas oscilaram entre três anos de prisão, com dois destes anos suspensos, e os 20 anos aplicados a Dominique Pelicot. As penas aplicadas aos 50 co-arguidos ficaram aquém daquilo que foi pedido pelo Ministério Público, que condenações mínimas de 10 anos, mas o tribunal argumentou que queria demarcar bem a diferença entre as penas para Dominique e para os restantes arguidos.

Obrigada pela sua coragem, Gisèle Pelicot. Através de si, hoje ouvem-as as vozes de tantas vítimas, e a vergonha está a mudar de lado, o tabu foi quebrado. O mundo não é mais o mesmo, graças a si”, reagiu Yaël Braun-Pivet, presidente da Assembleia Nacional de França, nas redes sociais.

A Frente Feminista Internacional, um grupo que abrange 85 coletivos feministas de oito países, também já comentou a sentença. “Num país onde apenas 10% das vítimas dde violência sexual faz queixa e onde 94% dessas queixas são rejeitas, num país onde os violadores gozam de uma impunidade virtual, este verdito é histórico. A vergonha mudou de lado. Obrigada, Gisèle Pelicot!”, afirmou.

Adriana Peixoto, ZAP //

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2 Comments

  1. Ainda bem que foi na França onde existe prisão perpétua, dado que caso fosse em Portugal no máximo teria 5 anos de prisão visto que seria difícil de justificar que uma violação em grupo levasse 20 anos quando um homicídio em massa a pena máxima seria 25 anos. já para não falar que muito provavelmente esses a maioria desses crimes de violação iriam prescrerver

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