Em guerra civil há mais de 13 anos, a Síria despede-se agora de um longo regime tirânico. Tomada por rebeldes com diferentes interesses, o país enfrenta um recomeço cheio de incertezas — tal como a força russa no Médio Oriente.
Deposto do poder, Bashar al-Assad tornou-se vítima do mesmo destino que impôs a milhões de sobreviventes da guerra civil na Síria, desencadeada em 2011: é agora um refugiado.
O presidente sírio fugiu para Moscovo, onde foi acolhido por “razões humanitárias”, segundo fonte do Kremlin citada por duas agências russas. Fontes do Exército sírio confirmam que o líder abandonou o país a bordo de um avião e o governante interino, Mohammed al-Jalali, garante que já não tem contacto com ele.
A pergunta que resta agora é: o que acontecerá à Síria?
“Aos exilados de todo o mundo: a Síria livre espera-vos”, anunciou na manhã deste domingo a aliança islamista Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al-Sham, ou HTS).
Registos nas redes sociais mostram a libertação de detidos em várias prisões do regime, entre elas a famosa prisão de Sednaya, a norte de Damasco, onde milhares de opositores de Assad foram torturados e assassinados.
Islamistas moderados?
Mas quão livre será, de facto, a “nova” Síria? As atenções concentram-se neste momento sobretudo no líder do HTS, Abu Mohammed al-Jolani, que detém grande parte do controlo do país. Começam a surgir diferentes opiniões sobre qual será a sua visão para o futuro da Síria.
Especialista em Síria no Instituto Alemão para Estudos Globais e Regionais (GIGA, na sigla em alemão), André Bank acredita que o HTS se transformou ao longo do tempo e que o próprio Jolani há anos se distanciou da Al-Qaeda.
Além disso, o grupo é considerado um rival do Estado Islâmico – um sinal de que Jolani pode ter deixado a cruzada contra o Ocidente para se concentrar na Síria.
Contudo, é possível que o líder esteja agora a trabalhar para estabelecer no país uma ordem salafista (movimento ultraconservador dentro do islamismo sunita).
O próprio Jolani tem dado sinais de moderação. Ao investir contra Alepo, instruiu os seus comandados a poupar cristãos e outras minorias étnicas e religiosas. Em entrevista à CNN, afirmou ainda querer construir instituições de governo que contemplem todos os sectores da sociedade.
O facto de até agora não ter havido violência contra minorias é um “sinal esperançoso”, diz o analista James Dorsey, do Instituto para o Médio Oriente, uma entidade sediada em Washington.
Menos esperançoso mostrou-se o diplomata alemão Andreas Reinicke, ex-embaixador em Damasco, em entrevista à agência de notícias alemã KNA, que diz que o HTS continua enraizado na ideologia da Al-Qaeda, e que por isso o futuro de minorias cristãs e curdas está em risco.
O papel do Exército Nacional Sírio
Outros grupos além do HTS têm influência na Síria. É o caso do Exército Nacional Sírio (ENS), que surgiu do Exército Livre da Síria, uma coligação de milícias anti-Assad formada no início da guerra civil, em 2011, e que hoje luta ao lado das tropas de Jolani, com apoio da Turquia.
O ENS foi acusado várias vezes de crimes contra a humanidade, incluindo a tortura recorrente de curdos. Ao mesmo tempo, o grupo também terá mecanismos internos para impedir este tipo de crimes, segundo Omer Ozkizilcik, do think tank Atlantic Council, em entrevista ao Middle East Eye.
Tudo dependerá agora de quais correntes do ENS conseguirão impor-se internamente e de como será a sua relação com o HTS, que vê como concorrente.
Também as milícias anti-Assad no sul da Síria serão relevantes. Em comum com o HTS, têm apenas a oposição ao ditador, pois o seu posicionamento maioritariamente secular distancia-as ideologicamente dos islamistas.
No norte da Síria, os curdos tentarão prevalecer sobre o ENS, que conta com o apoio da Turquia. É outro conflito que tem potencial para violência.
Irão e Turquia: o papel de atores estrangeiros
A Turquia deverá tornar-se bastante influente, e poderá trabalhar para um governo islamista – não sem antes enfrentar eventuais desafios com os curdos e com o HTS.
Já o Irão pode ser o grande perdedor da queda do regime sírio. Durante anos, o país esteve ao lado de Assad. Estabeleceu-se militarmente na Síria – para o regime de Teerão, a oportunidade ideal de ficar mais próximo do seu arqui-inimigo Israel e, ao mesmo tempo, abastecer o Hezbollah com armas. Tanto o Irão como o Hezbollah retiraram-se agora da Síria.
Enorme golpe para Putin
Outro perdedor da revolta na Síria é a Rússia, que esteve ao lado de Assad desde 2015, promovendo na sua repressão. Em troca, o Kremlin conseguiu uma base naval em Tartus e uma base aérea em Latakia, na costa do Mediterrâneo, que deverá defender a todo o custo.
Os rebeldes sírios que tomaram Damasco “garantiram a segurança” das bases russas no país e há potencial para mais conflitos nessas zonas.
O Kremlin já disse esta segunda-feira que ainda é demasiado cedo para falar sobre o futuro das duas bases aéreas, mas a Rússia tem confiado na sua base aérea de Hmeimim, na província síria de Latakia, como um centro de projeção de poder no Médio Oriente.
Putin já disse, em 2017, que se “os terroristas” [opositores de Assad] voltassem a levantar a cabeça”, faria “ataques sem precedentes, como nunca viram”, a partir das duas bases, citado pela CNN.
O colapso do regime de Assad significa a perda total de um Estado aliado para o Kremlin, mas também um duro golpe na influência de Putin como mediador de poder no Médio Oriente.
ZAP // DW
Quero ver como vai ser a relação do próximo governo com a Rússia, quando há 2 semanas aviões russos bombardearam e mataram população civil.
É sempre a mesma história e não vai ser diferente desta vez. Os jornalistas (propagandistas) estão a usar exactamente os mesmos argumentos depois de “libertarem” o Iraque, Afeganistão e Líbia. Nenhum dos países ficou nem um pouquinho melhor.
Venham daí mais uns milhões de refugiados Sírios para a Europa, que é a melhor chance que têm para sobreviver, e nós temos alojamento e subsídios para todos. Não vale a pena ficarem num país controlado pela Al-Qaeda, Estado Islâmico e Israel. Qual deles o pior. Imagine-se os 3 juntos.
Atão agora apoiamos fundamentalistas islamicos? kkkk
Opa voces só me fazem rir , puros cata-vento
O CDU e BE apoiam….