Neurocientista ensinou ratos a conduzir — e eles adoraram o passeio

A experiência permitiu aos cientistas testar o efeito que a antecipação por uma tarefa divertida tem no cérebro dos animais.

Cientistas da Universidade de Richmond criaram uma espécie de “carro” para ratinhos de laboratório — e eles gostaram tanto de andar motorizados que o foco do estudo até mudou, analisando como os roedores lidam com a antecipação e animação para a tarefa, revelando muito sobre o comportamento e o bem-estar dos bichinhos.

Mas as descobertas vieram desde o início: como esperado, os ratos com ambientes ricos em estímulos, como brinquedos, espaço e companhia aprenderam a conduzir mais rápido do que os confinados em jaulas comuns.

Isso mostra que ambientes complexos melhoram a neuroplasticidade, ou seja, a habilidade do cérebro mudar e se adaptar ao longo da vida para melhor lidar com os desafios. Mas os achados não param por aí.

Velozes e roedores

O parágrafo anterior descreveu apenas as primeiras descobertas, feitas no início da pesquisa — os cientistas aprimoraram o carrinho roedor e notaram o quanto eles passaram a gostar de conduzir em direção a cereais açucarados, prémio pelo fim do percurso. Normalmente, os ratos preferem terra, galhos e pedras a objetos plásticos.

Nós, humanos, também não evoluímos para conduzir — o nosso cérebro flexível, no entanto, permitiu-nos adquirir novas habilidades, manipulando fogo, ferramentas, linguagem e agricultura, e eventualmente inventando a roda e os carros.

Para os ratos, o carro também é totalmente diferente do que eles encontrariam na natureza, sendo a oportunidade perfeita de descobrir a extensão das suas habilidades em aprender coisas novas.

A motivação dos ratinhos impressionou os investigadores: muitas vezes, eles saltavam no carro e “pisavam no acelerador” antes de o veículo estar disponível para ser conduzido. Antecipação? Animação pela jornada? Aparentemente, sim! Eles foram de ações simples, como subir no veículo e manobrar uma alavanca simples, a complexas, como fazê-lo ir numa direção específica.

Percebendo a excitação dos animais para a atividade, os investigadores desenvolveram o programa “Espere por isso” (“Wait for it”, no original), onde os ratos recebiam um objeto na gaiola 15 minutos antes de comer ou tinham de ficar alguns minutos na contenção antes de adentrar o Parque dos Ratos, onde podiam brincar.

Com o condicionamento, a espera por atividades prazerosas passou a causar um comportamento otimista nos ratinhos, ficando cheios de dopamina desde a antecipação pelo evento positivo. Um dos sinais perceptíveis foi a Cauda de Straub, uma posição do rabo onde ele fica ereto, mas com um formato de “S” na ponta. Isso também acontece quando os roedores recebem morfina em laboratório.

A descoberta mostra que animais, tanto humanos quanto não-humanos, navegam a imprevisibilidade da vida melhor se há antecipação por experiências positivas, uma crença de que as recompensas virão.

Entre ter prazeres imediatos e saborear o planeamento aproveitando a jornada até a recompensa, os ratinhos escolheram a segunda opção — e talvez, para nós, convém fazer o mesmo para ter um cérebro e uma experiência de vida saudáveis.

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