A radiação perigosa chega a Marte a níveis a que não estamos expostos na Terra, o que torna o Planeta Vermelho um local particularmente perigoso para se estar durante a gravidez.
Marte é muitas vezes apontado como o próximo planeta que as pessoas poderiam habitar, mas a quantidade de radiação a que estaríamos expostos aumentaria significativamente o risco de anomalias fetais, e as tecnologias existentes não conseguem contornar esse facto.
Comparativamente com a Terra, segundo o New Scientist, a superfície de Marte está exposta a níveis de radiação muito mais elevados, que podem matar as células e causar cancro.
No meio de planos para explorar mais o nosso sistema solar, Abdurrahman Engin Demir, da Universidade de Ciências de Saúde de Istambul, na Turquia, e os seus colegas questionaram-se sobre a segurança da gravidez para além da Terra, tanto durante a viagem para outros planetas como se lá formos viver.
A equipa analisou as várias durações possíveis dos voos para Marte e as estimativas da quantidade de exposição à radiação que ocorreria. Por exemplo, o rover Curiosity recebeu uma média de 1,8 millisieverts de radiação durante o mesmo período de tempo na Terra.
Um astronauta recebe cerca de 100 milisieverts de radiação durante uma estadia de quatro meses a bordo da Estação Espacial Internacional, em comparação com uma média de apenas 2,4 milisieverts durante o mesmo período de tempo na Terra.
Mas a quantidade de exposição à radiação no espaço também depende do clima solar, pelo que outras pessoas que viajam para Marte podem ter taxas de exposição diária tão baixas como 0,5 millisieverts.
Estas medições são compostas pela exposição aos raios cósmicos galáticos — radiação de alta energia proveniente do exterior do nosso sistema solar, considerada particularmente perigosa — e às partículas energéticas solares emitidas pelo Sol.
Com base numa análise de dados como estes, os investigadores calcularam que, durante um voo espacial de seis meses para Marte, um membro da tripulação acumularia entre 90 milisieverts e 324 milisieverts de raios cósmicos galáticos e radiação solar.
Este nível de exposição aumentaria provavelmente o risco de anomalias fetais, afirmam. A Comissão Reguladora Nuclear dos EUA recomenda uma dose máxima segura de radiação durante a gravidez de 5 milisieverts.
Em Marte, a exposição é de cerca de 0,64 milisieverts por dia, o que excederia a dose máxima de segurança recomendada em pouco mais de uma semana.
Uma das incertezas da investigação é o facto de se saber relativamente pouco sobre os impactos reais dos raios cósmicos galáticos, mas estes podem penetrar facilmente nas naves espaciais e no corpo humano, levantando preocupações de segurança.
“Embora Marte tenha menos radiação do que o espaço profundo, a atmosfera fina e a falta de proteção magnética ainda permitem que quantidades substanciais de radiação atinjam a superfície”, diz Demir.
Futuras inovações na proteção podem tornar a gravidez em Marte segura, “no entanto, para o conseguir seria necessária uma tecnologia muito acima das normas atuais”, afirma.
Mitra Safavi-Naeini, da Organização de Ciência e Tecnologia Nuclar da Austráli, em Sydney, diz que algumas pessoas que vivem nas montanhas estão expostas anualmente a 70 milisieverts e 110 milisieverts de diferentes tipos de radiação, sem que se registe um aumento das doenças associadas a essa exposição.
No entanto, tal como os investigadores, ela pensa que o maior risco numa missão espacial profunda é o aumento da exposição aos raios cósmicos galáticos.
“Quando se está no Espaço, não é como a radiação de fonte única na Terra, é como um cocktail de ponche — há de tudo”, diz Safavi-Naeini. “Embora não conheçamos os impactos, talvez a melhor abordagem seja adiar a gravidez no Espaço. É necessária mais investigação nesta área para tornar a exploração espacial mais segura para todos os astronautas, incluindo as mulheres, em vez de criar barreiras”.