O empresário bilionário Narayana Murthy, cofundador da Infosys, chocou a internet ao defender uma semana de trabalho de 70 horas.
“Não acredito no equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal”, atirou o bilionário na Cimeira de Liderança Global da CNBC, argumentando que as longas horas de trabalho são fundamentais para o progresso económico e social.
Narayana Murthy, cujo património líquido está estimado em 4,8 mil milhões de euros segundo a Forbes, apontou a recuperação pós-guerra em países como o Japão e a Alemanha como exemplos dos benefícios do trabalho árduo e da dedicação à produtividade.
O empresário considera que, para a Índia, uma nação que ainda luta pelo crescimento económico, essa ética de trabalho é essencial para garantir um futuro melhor às próximas gerações.
“I don’t believe in work-life balance,” declares Infosys’ Narayana Murthy as he defends his infamous ’70-hour work-week’ comment while talking to Shereen Bhan at CNBC TV18’s Global Leadership Summit#CNBCTV18GLS #CNBCTV18at25 #cnbctv18digital @ShereenBhan pic.twitter.com/Hcrej8DUkw
— CNBC-TV18 (@CNBCTV18News) November 14, 2024
No entanto, a sua proposta choca diretamente com as leis laborais da Índia, que limitam a semana de trabalho a 48 horas. Os críticos argumentam que obrigar os operários a trabalhar muito mais tempo pode ter graves implicações para o seu bem-estar físico e mental.
Os especialistas em saúde no local de trabalho alertam para o facto de o excesso de horas de trabalho poder ter um efeito contrário. O excesso de trabalho tem sido associado à redução da produtividade, ao esgotamento e a problemas de saúde a longo prazo.
No Japão, por exemplo, o fenómeno do karoshi, ou morte por excesso de trabalho, tem sido uma consequência trágica de culturas de trabalho extremas. Isto até levou o governo japonês a introduzir políticas destinadas a reduzir o horário de trabalho e a incentivar o equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada.
Apesar destes avisos, Murthy defende a sua posição, citando a sua própria carreira como exemplo. O bilionário diz ter trabalhado 14 horas por dia durante o seu auge profissional e sublinha que a “qualidade” do tempo passado com os filhos era mais importante do que a “quantidade”.
Os comentários de Murthy surgem numa altura em que a Infosys, a empresa que ele cofundou, está a enfrentar acusações de más práticas laborais. Os relatórios do TechSpot destacam as alegações de que a Infosys manteve milhares de jovens engenheiros no limbo, oferecendo formação não remunerada e atrasando as ofertas de emprego formal.
No início deste ano, a empresa também obrigou os empregados a regressar ao escritório, uma medida que causou insatisfação entre os trabalhadores. Estas controvérsias reforçam as críticas de que a Infosys, tal como muitas grandes empresas, dá prioridade à produtividade em detrimento do bem-estar dos empregados.
Os comentários de Murthy provocaram reações negativas, sublinha o El Confidencial. Muitas empresas estão a experimentar semanas de trabalho mais curtas e horários flexíveis, com o objetivo de aumentar a produtividade sem sacrificar a saúde dos trabalhadores. Aliás, estudos sugerem que os empregados bem descansados são frequentemente mais eficazes e criativos.