Licores, voto (não) secreto e um candidato preso. 11 histórias do dia das eleições nos EUA

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creisinger / Depositphotos

Hoje os Estados Unidos vão a votos, numa das votações menos previsíveis da história. Mas o dias eleições nem sempre foi como é hoje. Eis algumas histórias e factos sobre as presidenciais nos EUA.

Há cerca de 200 anos, o dia das eleições nos Estados Unidos era bem menos solene. A escolha do presidente significava uma grande festa, com comida, bebida e desfiles. Mas não foi só isso que mudou.

As primeiras eleições nos EUA tiveram lugar em 1788, e George Washington, à falta de concorrência e até mesmo de partidos políticos, decidiu dar aos poucos eleitores algum divertimento.

E ao longo das décadas existiram mais histórias, umas divertidas, outras não tanto, que pautaram a história do dia das eleições presidenciais nos EUA.

Boletins já marcados e votos gritados

De acordo com o site Virginia.edu, as eleições eram, até à década de 1890, “grandes espetáculos públicos, com desfiles de tochas e ‘iluminações’ públicas em grande escala, tão populares na era vitoriana”.

Mas não era só a festa que era pública: o voto também. Há pouco mais de um século, era possível votar através de voz pública, e os homens expressavam a sua vontade oralmente.

Quando as votações se faziam de forma escrita, nem assim passavam a ser secretas: os partidos políticos distribuíam aos eleitores boletins de voto preenchidos “em casa”, para garantir que as pessoas votavam na lista do partido.

O presidente dos licores

O único presidente dos EUA a ser eleito (duas vezes) por unanimidade, sem qualquer voto contra no Colégio Eleitoral, foi George Washington, em 1789. Foi também, como se sabe, o primeiro presidente do país. Mas o que já não é tão sabido é a forma como Washington distribuiu (ou não) o dinheiro que tinha para a campanha.

À falta de Internet e outros recursos dispendiosos, o primeiro presidente dos EUA investiu toda a verba numa estratégia que nunca passa de moda: a bebida.

George Washington gastou todo o seu orçamento de campanha — 60 euros — em cerca de 600 litros de licor servidos a 391 eleitores. A compra de votos com bebidas alcoólicas já era um costume em Inglaterra, como explica o National Constitution Center. Esta era também uma tradição da Virgínia, onde se levavam barris de bebida para os relvados dos tribunais e para os locais de votação no dia das eleições.

O clima é que manda

No século XIX, a economia agrária era um dos fatores mais importantes nos EUA, e os agricultores não podiam viajar para exercer o seu direito nos centros urbanos até que a colheita terminasse.

Para além disso, o início do inverno tornava essas viagens, que podiam durar um dia inteiro, um problema, pelo que as eleições se realizavam sempre no final do outono — tradição que ainda se mantém.

Terça-feira porquê?

O domingo estava fora de questão, porque é dia de missa. E quarta-feira era “dia de mercado”, onde os agricultores vendiam os produtos.

Então, como domingo e quarta também não podiam ser considerados dias de viagem, a ideia de realizar a eleição na segunda ou na quinta-feira também foi descartada.

E é por isso que é às terças que se vota.

Não há independentes

Em toda a história dos EUA, só o primeiro presidente, George Washington, foi candidato sem o apoio de qualquer partido. E não terá sido por sua vontade — simplesmente os partidos não existiam.

Os partidos políticos só começaram a surgir durante o primeiro mandato do presidente, e a oposição chamava-se, ironicamente, Partido Democrata Republicano. E os americanos gostaram: desde então, não há presidentes “independentes” nos EUA.

Uma morte inconveniente

1872 foi um ano de muitos acontecimentos bizarros durante a história dos EUA. Foi o ano em que a primeira mulher se candidatou à presidência (Victoria Woodhull, do Partido Popular) — nenhuma mulher até hoje foi presidente do país —, e também o ano em que Susan B. Anthony foi presa por ter votado “ilegalmente”.

No meio do movimento sufragista, houve também um homem que nunca chegou a participar nas eleições: o próprio candidato Horace Greeley. O jornalista chegou mesmo a ver os 44% que obteve do voto popular, mas tinha já deixado de fazer campanha para apoiar a sua mulher, que morreu a uma semana das eleições.

No entanto, antes do Colégio Eleitoral poder dizer de sua vontade, Horace Greeley acabou por morrer antes de poder cantar vitória ou chorar a derrota.

Os EUA contam também com um elevado número de mortes no ofício: 8 presidentes morreram durante o exercício de funções. De alguns, como John F. Kennedy, deve ainda recordar-se.

Campanha atrás das grades

O líder sindical Eugene Debs candidatou-se à presidência em 1900, 1904, 1908 e 1912, mas foi só na sua quinta candidatura, em 1920, que enfrentou um obstáculo difícil de demover: as grades da prisão.

Debs tinha já sido preso por ter dirigido uma greve dos caminhos de ferro, e fora agora condenado a 10 anos de prisão por acusações de espionagem, explica a CNN. Ainda assim, Debs não desistiu da campanha e chegou mesmo a obter uns não suficientes, mas ainda assim impressionantes 900 mil votos.

Quase, quase todos

Em 1820, James Monroe recebeu todos os votos dos representantes, exceto um. Foi a segunda vez em que este presidente foi eleito.

Um delegado do Colégio Eleitoral de New Hampshire queria que George Washington fosse o único presidente eleito por unanimidade, conta a World Strides. O mito corre nos EUA, mas, dois séculos depois, é difícil saber se foi mesmo essa a razão.

”Dewey derrota Truman.” Só que não

Harry S. Truman estava “acabado”, descreve a CNN. As eleições intercalares de 1946 tinham dado as duas câmaras aos republicanos pela primeira vez em quase 20 anos, e as sondagens de opinião mostravam que apenas um em cada três americanos aprovava a forma como Truman estava a desempenhar funções como presidente dos EUA.

No próprio dia da eleição, Truman lembrou uma reportagem da NBC que previa que perderia as eleições para Thomas Dewey. Foi-se deitar. Só às 4 da manhã é que os seus agentes dos Serviços Secretos o acordaram para lhe dizer que tinha ganho.

Mas a vitória foi demasiado tardia para que o diretor do Chicago Daily Tribune, que se referira já, num editorial, a Truman como “um idiota”, pudesse alterar a manchete da primeira página.

Devido a uma greve de tipógrafos, a publicação teve de seguir para impressão mais cedo, e o título do diário acabou por ser publicado: “Dewey derrota Truman”. O jogo virou, mas a página estava impressa.

Votados, mas não escolhidos

Existiram já 4 presidentes que foram os mais votados pela população, mas não obtiveram os votos necessários no Colégio Eleitoral para serem presidentes. O último caso deste tipo ocorreu em 2016, quando Hilary Clinton foi a escolhida pelo voto popular, mas Donald Trump foi mais votado no Colégio.

Isto acontece por diversos fatores, como a proporcionalidade de representantes no Colégio de cada estado, ou o facto de cada estado ser representado apenas por um partido, o que faz também com que quase metade dos votos populares sejam desperdiçados no país.

Só metade dos americanos vota

Nas eleições presidenciais de 2020 nos EUA, estima-se que 158 milhões de americanos tenham ido votar. Cerca de 66,5% dos eleitores elegíveis votaram nas eleições de 2020, e esta foi a maior afluência às urnas desde 1900.

Em 2016, apenas cerca de 55,72% dos eleitores elegíveis votaram. Mesmo nas eleições de 2020, a afluência às urnas nos EUA ficou aquém da de várias nações desenvolvidas em todo o mundo, explica a World Population Review.

Parece pouco, mas recorde-se de que, em Portugal, temos uma das piores taxas de afluência às urnas do mundo, que rondou os 40% nas últimas presidenciais, em 2021.

ZAP //

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1 Comment

  1. Nenhuma democracia é perfeita e certamente que a americana está longe desse ideal, porque, principalmente: 1, não é o voto popular directo que define o vencedor das eleições presidenciais; 2, só há dois partidos com hipótese realistas de eleger quer deputados, quer governadores, quer presidentes. Na conjuntura actual, cada vez mais polarizada e extremada, ou um partido ganha tudo (Trump/GOP é a única hipótese) ou não consegue levar as suas ideias avante porque o outro lado não deixa e não há mais ninguém com quem negociar.

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