Fim do mundo em Valência: 95 mortes, muitos desaparecidos e presuntos roubados. Tragédia podia ter-se evitado?

1

Miguel Angel Polo / EPA

Já há 95 mortes confirmadas, entre as quais uma mãe e o bebé de três meses, mas continua a haver muitos desaparecidos depois da tragédia que afectou Espanha, em particular a região de Valência.

As autoridades espanholas já confirmaram 95 mortes, 92 das quais na comunidade de Valência e outras três em Castilla-La Mancha e na Andaluzia.

A localidade valenciana de Paiporta foi onde se deu o epicentro da tragédia. É a “zona zero”, como nota o El Mundo, sublinhando que foi onde morreram mais pessoas – 45 no total, seis das quais num lar de idosos, onde os utentes foram encurralados pelas águas.

Nesta altura, continuam as buscas pelos “muitos desaparecidos” que ainda há, como assumiu a ministra da Defesa de Espanha.

A Agência Estatal de Meteorologia (AEMET) elevou, entretanto, o nível de alerta para o vermelho, o máximo existente, para o norte da província de Castellón, em Valência, devido a fortes chuvas.

Vigoram alertas laranja nas zonas de Tarragona, na Catalunha, e de Cádiz, na Andaluzia, no Golfo de Cádiz, já não tão longe assim da costa algarvia.

Imagens impressionantes (e difíceis) da tragédia

Nas várias localidades de Valência afectadas pelo dilúvio, resta um rastro de destruição e elevados prejuízos materiais.

Há 77 mil casas que continuam sem electricidade, muitas estradas cortadas, onde há milhares de carros que foram arrastados pelas águas.

A Alta Velocidade entre Valência e Madrid vai estar fora de serviço durante, pelo menos, 15 dias, anunciou o ministro dos Transportes, revelando elevados danos na linha.

Também há imagens aéreas impressionantes que mostram a dimensão da tragédia.

“Há pessoas com carrinhos com 10 presuntos”

Entretanto, há quem esteja a aproveitar a situação de caos para roubar supermercados e outros espaços comerciais.

Já foram detidas 39 pessoas envolvidas nas pilhagens.

Há pessoas com carrinhos [de supermercado] com 10 presuntos enquanto cobrimos cadáveres”, desabafa uma espanhola em declarações ao jornal El Español.

Alerta da Protecção Civil com cidades já inundadas

No meio da tragédia que deixa elevadas perdas, há críticas aos Governos central e regional, à Protecção Civil espanhola e até à AEMET. Em causa, estão os avisos à população antes das enxurradas.

O EL Mundo adianta que o aviso da Protecção Civil à população surgiu quando já havia cidades inundadas e milhares de pessoas já estavam encurraladas.

O líder do Partido Popular (PP), Alberto Núñez Feijóo, já veio acusar o Governo pelo tardio alerta à população, desculpando a intervenção do Presidente do Governo valenciano, o popular Carlos Mazón, que também está a ser criticado.

Muitos dos mortos estavam nos seus carros

Na linha do tempo, é possível perceber que a AEMET elevou o nível de alerta para a comunidade de Valência para vermelho às 07:36 horas de quarta-feira de manhã.

Às 08:04 horas reforçou esse aviso vermelho com uma publicação na rede social X, alertando para “chuvas de intensidade torrencial” e “acumulações de mais de 90 l/m2 numa hora que podem levar a inundações”, e recomendando “muita precaução” devido a “perigo extremo”.

Mas as autoridades valencianas só activaram o sistema de aviso à população muito depois dos alertas do AEMET – por volta das 8 da tarde, de acordo com o El País.

Os residentes na região receberam, nessa altura, uma mensagem nos telemóveis que dizia para evitarem “qualquer tipo de deslocação na província de Valência”.

Mas já era demasiado tarde. Muitas das pessoas que morreram estavam dentro dos seus carros, segundo o El País.

Um desses casos envolve uma mãe e a filha de três meses que morreram em Paiporta, depois de terem sido apanhadas pelas enxurradas dentro do carro quando iam buscar os outros dois filhos.

O pai foi arrastado pelas águas e acabou por ser resgatado. A mãe subiu com a sua bebé para o tecto do carro, mas acabaram por morrer ambas.

Pensávamos que o mundo estava a acabar“, conta ao El Mundo uma moradora de uma das zonas mais afectadas.

Outros moradores desabafam, depois de terem perdido tudo, incluindo as recordações de toda a vida, que estarem vivos é “um milagre”.

O milagre da barragem de Forata

No meio de tudo isto, há outro milagre que evitou uma tragédia ainda maior. O El Mundo destaca que a barragem de Forata, localizada na comunidade valenciana, alcançou a sua capacidade máxima, conseguindo estancar milhões de litros de água que podiam ter agravado as consequências das inundações.

Os seus técnicos são os heróis anónimos da tragédia”, escreve o jornal, sublinhando que em apenas três horas, entraram na albufeira da barragem “mais de 20 mil milhões de litros” de água.

“A estrutura aguentou o desafio”, acrescenta, frisando que “é uma das jóias da engenharia hidráulica espanhola” e que “foi determinante na contenção da força da água que entrou a uma velocidade até 2 milhões de litros por segundo”.

Susana Valente, ZAP //

Siga o ZAP no Whatsapp

1 Comment

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.