O Míssil do Juízo final da Rússia foi construído para aniquilar os EUA. E depois explodiu

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Russian Defense Ministry

Lançamento do ICBM russo RS-28 Sarmat, ou Satan-II

A nova arma do Apocalipse russa, que Putin apresentou como capaz de mudar as regras do jogo da guerra, já tem a alcunha não oficial de “Satan-II”. Mas o revolucionário míssil tem tido dificuldade em sair do seu silo sem explodir — e os militares russos não sabem bem porquê.

No passado mês de setembro, alguma coisa correu muito mal numa plataforma especial de lançamento de mísseis balísticos, concebida para testar protótipos de mísseis, no Cosmódromo de Plesetsk, na Rússia.

Correu tão mal, que fotos posteriores de satélite mostraram que a plataforma tinha sido reduzida a uma cratera fumegante com pelo menos 62 metros de diâmetro. Tinha sido vítima do revolucionário Míssil Balístico Intercontinental que alojava no seu interior.

Este ICBM, o RS-28 Sarmat, a que a NATO deu o nome de código SS-X-29 (ou SS-X-3), foi concebido para assegurar a aniquilação atómica o inimigo na eventualidade de uma guerra nuclear em grande escala entre os Estados Unidos e a Rússia.

Cada RS-28 Sarmat transporta até 14 ogivas nucleares, que consegue lançar contra alvos independentes a milhares de quilómetros de distância.

Isto é, se alguma vez o míssil conseguir sair do seu silo. A recente explosão em Plesetsk é o terceiro teste falhado ou cancelado do Sarmat, e o míssil só teve até agora um lançamento bem sucedido, conta o Popular Mechanics.

Num post no seu perfil no X/Twitter, George Barros, analista do Institute of the Study of War, diz que diversas provas, incluindo árvores em chamas a leste das instalações e a presença de vários camiões de bombeiros, “sugerem que o míssil explodiu pouco depois da ignição ou do lançamento”.

Também o especialista russo em armas nucleares Pavel Podrig considera, num artigo no Russian Forces, que as provas sugerem ter havido uma explosão no silo.

O incidente traz à memória a catastrófica explosão, em janeiro de 2019, do míssil de cruzeiro nuclear russo “Skyfall”, além de uma série de falhas recentes nos testes de mísseis dos EUA nos últimos três anos.

Haverá alguma razão para que estas armas modernas e muitas vezes com capacidade nuclear continuem a falhar? E haverá um fator comum por trás das dificuldades que tanto os russos como os norte-americanos estão a sentir para lançar com sucesso as suas mais poderosas armas de última geração?

O problema do combustível líquido

Até agora, os especialistas ainda estão a tentar descobrir a causa exata do mais recente acidente com o Sarmat.

Originalmente apresentado por Vladimir Putin em 2018 como uma arma capaz de contornar as defesas antimísseis dos EUA e mudar as regras do jogo da guerra, o Sarmat tem sido atormentado por falhas nos testes e desafios operacionais, revelando vulnerabilidades na tecnologia e estratégia de mísseis da Rússia.

A 17 de setembro, foi emitido um aviso aos pilotos sobre um teste de voo de mísseis agendado entre 19 e 23 de setembro, que foi abruptamente cancelado dois dias depois. O aviso coincidiu com um grande incêndio no Cosmódromo de Plesetsk, a 20 de setembro, que foi detetado pelos satélites da NASA.

O incêndio ocorreu no silo de lançamento de teste Yubileynaya, plataforma que foi recentemente melhorada em relação à sua construção original, na década de 1990 — inicialmente concebida para lançar o ICBM Topol-M — para facilitar o lançamento do míssil Sarmat, de muito maiores dimensões.

As imagens de satélite de alta resolução obtidas pela NASA após a explosão revelaram danos substanciais nas instalações, dando origem a debates sobre a causa do incidente, quer se trate de um lançamento falhado ou de um acidente durante os processos de manuseamento do combustível.

O Sarmat, já apelidado oficiosamente de “Satan-II”, é significativamente maior e mais potente do que os seus antecessores e principais concorrentes — incluindo o Minuteman III dos EUA.

Usa um combustível líquido volátil composto por um oxidante N204 e UDMH (dimetil-hidrazina não simétrica), que apresenta sérios riscos durante as operações de abastecimento e descarga, devido à sua elevada inflamabilidade e toxicidade.

Diversos peritos em assuntos militares manifestaram já a sua preocupação com os protocolos apressados de desenvolvimento e ensaio do programa Sarmat, que foram acelerados na sequência do aumento dos compromissos militares e das ambições geopolíticas da Rússia após 2014.

Apesar de um teste bem sucedido em abril de 2022, os lançamentos subsequentes têm sido repletos de problemas. Em fevereiro de 2023, um teste foi abortado devido a uma falha no impulsionador da segunda fase e, meses mais tarde, em outubro , um míssil Sarmat caiu pouco depois da descolagem.

Esta série de erros não só atrasou a entrada em serviço operacional do míssil, como também lançou dúvidas sobre a sua fiabilidade e prontidão de combate.

As comparações entre as abordagens seguidas no desenvolvimento de mísseis dos EUA e da Rússia revelam que os militares dos dois países apostam estratégias bastante diferentes.

Enquanto a Rússia dá ênfase à velocidade e à capacidade de carga útil para garantir a sobrevivência, os EUA dão prioridade à precisão e à invisibilidade.

Os recentes esforços dos EUA no domínio da tecnologia hipersónica refletem uma ligeira mudança nesta abordagem, mas continuam a existir desafios, evidenciados pelo cancelamento recente de vários testes de armas hipersónicas, como o Dark Eagle e o AGM-183A ARRW, devido a falhas técnicas.

Mas as implicações mais vastas das dificuldades do programa Sarmat vão para além dos desafios tecnológicos, afetando o equilíbrio militar estratégico e as capacidades de dissuasão nuclear.

À medida que os EUA e a Rússia continuam a desenvolver e a aperfeiçoar os seus arsenais de mísseis, cada vez mais capazes de assegurar a sua destruição mútua, as lições aprendidas com os falhanços nestes programas de alto risco vão influenciar provavelmente as estratégias de defesa dos dois países — e a sua  predisposição para ponderar dar início a um conflito nuclear global.

Armando Batista, ZAP //

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2 Comments

  1. “cada vez mais capazes de assegurar a sua destruição mútua” não me façam rir, vesse logo que esta geração não faz ideia da potencia destas armas, o correcto será dizer em vez de destruição mútua, destruição total, ou se preferirem, ir toda a gente para os anjinhos….

    Eu resumo, apenas um destes misseis, com 14 ogivas, se conseguir atingir o almo, lixa-nos a todos, pois será suficiente para envolver o planeta num “inverno nuclear” por décadas, das quais provavelmente nenhum ser vivo escapará vivo…

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