Fantoches “vivos” substituem jovens em aldeia japonesa

AFP/Youtube

Fantoche na aldeia de Ichinono, Japão.

A vida fabrica-se na parada e silenciosa aldeia de Ichinono, desde que os mais jovens partiram para trabalhar e estudar. Só sobra uma criança e já há mais fantoches do que pessoas.

Os jovens de Ichinono são feitos de roupas e tecidos velhos, desde que as suas versões em carne e osso começaram a deixar a pequena aldeia do sul do Japão para trabalhar ou estudar.

A aldeia, que conta hoje com menos de 60 habitantes — na sua maioria idosos — encontrou em manequins com vida a solução ideal para lidar com a solidão provocada pelo êxodo rural.

Uma “rapariga” num baloiço, a sua amiga numa scooter e outra menina numa bicicleta, fotografados recentemente pela agência AFP, povoam agora a aldeia em representação das gerações mais jovens que ali viveram, noutros tempos. Noutra parte da aldeia, dois fantoches adultos e uma criança apanham troncos juntos. Todos fazem coisas diferentes, mas têm uma coisa em comum: sorriem para quem passa.

“Já somos, provavelmente, menos do que os fantoches”, disse uma local, Hisayo Yamazaki,à agência francesa.

A viúva, de 88 anos, diz que as famílias da aldeia encorajam os seus filhos a partir em busca de melhores oportunidades. “Estamos a pagar o preço“, reflete.

Mas no meio deste desespero, surgiu uma luz ao fundo do túnel na pequena aldeia. Dois jovens residentes, Rie e Toshiki Kato, mudaram-se de Osaka durante a pandemia de COVID-19 e tiveram um filho, Kuranosuke, que se tornou o primeiro bebé nascido na aldeia em mais de 20 anos, de acordo com dados do Ministério dos Assuntos Internos do Japão.

“Apesar de ainda não ter conseguido absolutamente nada na vida, o nosso filho beneficia do amor, do apoio e da esperança destas pessoas — só pelo facto de ter nascido aqui”, disse o pai da criança, surpreendido, à AFP.

Recorde de idosos no país

O envelhecimento da população é um problema que se estende a todo o país.

De acordo com dados recentes do governo japonês, 29,3% da população japonesa tem 65 anos ou mais — um recorde de 36,25 milhões de idosos. Mais de 20 mil comunidades têm uma maioria de residentes com 65 anos ou mais.

Entretanto, a população total do país continua a diminuir, com um mínimo recorde de 730 000 nascimentos em 2023 e 1,58 milhões de mortes.

Tomás Guimarães, ZAP //

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