Quadro “horrível” encontrado por sucateiro há 60 anos era afinal um original de Picasso

Wikimedia

Pintura descoberta por sucateiro — que quase se desfez dela por a sua mulher a achar “horrível” — foi confirmada como autêntica por peritos. Pode valer 12 milhões de euros. Só falta validação da Fundação Picasso.

Um quadro descoberto numa cave por um negociante de sucata na cidade italiana de Capri — e frequentemente considerado “horrível” pela sua mulher — é na verdade um original do famoso pintor Pablo Picasso.

O retrato, que se crê representar Dora Maar, a musa de Picasso, foi encontrado por Luigi Lo Rosso em 1962, enquanto este limpava uma casa. Depois de o levar para a sua residência em Pompeia, o quadro ficou pendurado numa moldura barata na parede durante décadas, sem que a família se apercebesse do seu verdadeiro valor.

Apesar de ter a assinatura de Picasso, Lo Rosso não conhecia o artista nem o significado do quadro. Só muito mais tarde, quando o seu filho Andrea começou a estudar história da arte, é que a família começou a suspeitar que o quadro poderia ser original e muito valioso.

Andrea reparou nas semelhanças entre o quadro da família e as obras de Picasso, especialmente a assinatura. As suspeitas levaram finalmente a família a procurar aconselhamento junto de especialistas em arte.

Após anos de investigação, uma equipa de peritos confirmou a autenticidade do quadro, confirmam os próprios ao jornal italiano Il Giorno e ao britânico The Guardian.

Duas versões do mesmo quadro, “ambas originais”

Cinzia Altieri foi responsável pela verificação da assinatura de Picasso. Passou meses a analisá-la e não encontrou provas de falsificação, concluindo que a assinatura era efetivamente de Picasso.

“Trabalhei nela durante meses, comparando-a com algumas das suas obras originais. Não há dúvida de que a assinatura é dele. Não há provas que sugiram que seja falsa”, disse a grafóloga da Fundação Arcadia ao The Guardian.

Pensa-se que o quadro terá sido criado entre 1930 e 1936, durante uma das visitas de Picasso a Capri. A pintura é muito semelhante a outra obra de Picasso, Buste de femme (Dora Maar), também um retrato da sua amante e musa, Dora Maar que, curiosamente, foi dado como roubado do iate de um xeque saudita em 1999, tendo o original sido recuperado 20 anos mais tarde.

Christie's

Buste de femme (Dora Maar), de Pablo Picasso (1881-1973)

Luca Marcante, presidente da Fundação Arcádia, acredita que podem existir duas versões do mesmo quadro, “ambas originais”.

“Provavelmente são dois retratos, não exatamente iguais, do mesmo sujeito, pintados por Picasso em dois momentos diferentes”, disse ao Il Giorno.

A versão descoberta pela família Lo Rosso, foi agora colocada num cofre em Milão. “Uma coisa é certa: é autêntico”, garante Marcante.

Família quis desfazer-se do quadro “horrível”

Hoje com 60 anos, Andrea Lo Rosso continuou a investigação do seu pai para descobrir a verdade por detrás do misterioso quadro.

“O meu pai era de Capri e colecionava tralha para a vender por quase nada”, relata ao jornal britânico: “Encontrou o quadro antes de eu ter nascido e não fazia a mínima ideia de quem era Picasso. Não era uma pessoa muito culta. Enquanto lia sobre as obras de Picasso na enciclopédia, olhava para o quadro e comparava-o com a sua assinatura. Estava sempre a dizer ao meu pai que era semelhante, mas ele não percebia. Mas à medida que fui crescendo, fui-me questionando”.

Houve alturas em que a família pensou em desfazer-se do quadro, especialmente porque a sua mãe o achava “horrível”.

“A minha mãe não queria ficar com o quadro — estava sempre a dizer que era horrível”, diz Andrea.

Ninguém acreditou até agora

A família terá feito várias tentativas de contactar a Fundação Picasso em Málaga para verificar o quadro, mas os seus pedidos foram recebidos com ceticismo.

A Fundação Picasso, que supervisiona a autenticação das obras do artista, recebe diariamente numerosos pedidos de indemnização de pessoas que acreditam possuir um original de Picasso. O parecer da fundação será agora crucial para determinar oficialmente o estatuto do quadro.

Enquanto a família Lo Rosso aguarda a resposta oficial da Fundação Picasso, a sua motivação continua focada em descobrir a verdade.

“Tenho curiosidade em saber o que é que eles dizem. Éramos uma família normal e o nosso objetivo sempre foi estabelecer a verdade. Não estamos interessados em ganhar dinheiro com isso“, confessa Andrea.

O mundo espera agora para ver se a Fundação Picasso reconhecerá esta obra-prima escondida. Atualmente, o quadro já está avaliado em 6 milhões de euros, mas o valor pode atingir os 12 milhões de euros caso a obra venha a ser integrada no catalogue raisonné de Pablo Picasso.

Tomás Guimarães, ZAP //

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