Chegaram as rosas sem espinhos

As plantas geneticamente adaptadas e de caule liso poderão eventualmente chegar a um horto perto de si.

As plantas e outros organismos evoluem naturalmente ao longo do tempo. Quando alterações aleatórias no seu ADN, chamadas mutações, aumentam a sobrevivência, são transmitidas aos descendentes.

De acordo com o Inverse, durante milhares de anos, os criadores de plantas tiraram partido destas variações para criar variedades de culturas de elevado rendimento.

Em 1983, surgiram os primeiros organismos geneticamente modificados (OGM) na agricultura. O arroz dourado, concebido para combater a deficiência de vitamina A, e o milho resistente às pragas são apenas alguns exemplos de como a modificação genética tem sido utilizada para melhorar as plantas cultivadas.

Dois desenvolvimentos recentes vieram alterar ainda mais a paisagem. O advento da edição de genes utilizando uma técnica conhecida como CRISPR tornou possível modificar as características das plantas da forma mais fácil e rápida.

Se o genoma de um organismo fosse um livro, a edição de genes baseada na CRISPR seria como acrescentar ou retirar uma frase aqui ou ali.

Esta ferramenta combinada com a facilidade crescente com que os cientistas podem sequenciar a coleção completa de ADN de um organismo — ou genoma — está a acelerar a capacidade de modificar previsivelmente as características de um organismo.

James W. Satterleeem, geneticista, e a sua equipa, descobriu recentemente o gene responsável pelo espinhoso numa variedade de plantas, incluindo rosas, beringelas e até algumas espécies de gramíneas.

Ao identificar um gene chave que controla os espinhos nas beringelas, a equipa conseguiu utilizar a edição genética para alterar o mesmo gene noutras espécies com espinhos, produzindo plantas suaves e sem espinhos. Para além das beringelas, conseguiram eliminar os espinhos numa espécie de planta selvagem adaptada ao deserto com frutos comestíveis semelhantes a passas.

Utilizaram também um vírus para silenciar a expressão de um gene estreitamente relacionado com as rosas, dando origem a uma rosa sem espinhos.

Em ambientes naturais, os espinhos defendem as plantas contra herbívoros que pastam. Mas, no cultivo, as plantas editadas seriam mais fáceis de manusear — e a após a colheita, os danos nos frutos seriam reduzidos. É de notar que as plantas sem espinhos continuam a manter outras defesas, como os pêlos epidérmicos carregados de químicos, os tricomas, que detêm as pragas de insetos.

Atualmente, as tecnologias de modificação do ADN já não estão confinadas ao agronegócio em grande escala. Estão a tornar-se diretamente acessíveis aos consumidores.

Uma das abordagens é a mutação de certos genes, como a equipa fez com as plantas sem espinhos. Por exemplo, os cientistas criaram uma mostarda verde de sabor suave, mas rica em nutrientes, inativando os genes responsáveis pelo amargor.

O silenciamento dos genes que atrasam a floração nos tomates deu origem a plantas compactas bem adaptadas à agricultura urbana.

Outra abordagem de modificação consistem em transferir permanentemente genes de uma espécie para outra, utilizando a tecnologia do ADN recombinante para produzir aquilo a que os cientistas chamam um organismo transgénico.

A introdução de plantas geneticamente modificadas no mercado do consumo traz consigo, tanto oportunidades interessantes, como potenciais desafios.

Com as plantas geneticamente modificadas nas mãos do público, poderá haver menos controlo sobre o que as pessoas fazem com elas. Por exemplo, existe o risco de libertação no ambiente, o que pode ter consequências ecológicas imprevistas.

Além disso, à medida que o mercado destas plantas se expande, a qualidade dos produtos pode tornar-se mais variável, exigindo leis de proteção do consumidor novas ou mais vigilantes.

As empresas podem também aplicar regras de patentes que limitem a reutilização das sementes, o que faz eco de algumas das questões observadas no setor agrícola.

O futuro da tecnologia genética vegetal é brilhante — em alguns casos, literalmente. Campos de golfe bioluminescentes, plantas domésticas que emitem fragrâncias personalizadas ou flores capazes de mudar de cor em resposta a tratamentos à base de spray são todas possibilidades teóricas.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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