A resistência aos antibióticos tem sido um dos problemas da Medicina que mais preocupação tem gerado. Um estudo recente estimou que, até 2050, este flagelo deverá matar perto de 40 milhões de pessoas em todo o mundo.
Em 2019, houve 1,27 milhões mortes em todo o mundo diretamente causadas por infeções bacterianas resistentes a antibióticos.
O estudo, publicado em 2022 no The Lancet, estimou que esse número deverá aumentar para 1,91 milhões em 2050; e até lá deverão morrer 39 milhões de pessoas.
A resistência aos antibióticos ocorre quando os micróbios desenvolvem mecanismos para sobreviver aos medicamentos anteriormente eficazes – tornando-se, assim, “imunes”.
Este fenómeno tem sido exacerbado pelo uso extensivo de antibióticos tanto na agricultura como na medicina; e levanta preocupações desde meados do século passado. Apesar da magnitude do problema ser vasta, a sua extensão exata permanece incerta.
Para estimar o número anual de mortes atribuíveis à resistência aos antibióticos entre 1990 e 2021, os investigadores do Institute of Health Metrics and Evaluation (IHME) em Seattle (EUA) analisaram mais de 500 milhões de registos de várias geografias e períodos.
Os resultados do estudo revelaram que, embora o total de mortes por esta causa tenha aumentado, o número de mortes entre crianças abaixo de cinco anos diminuiu mais de 50% devido a melhorias nos cuidados de saúde e vacinação. Em contraste, observou-se um aumento superior a 80% nas mortes entre adultos com mais de 70 anos.
Como detalha a New Scientist, as mortes atribuíveis à resistência aos antibióticos aumentaram de 1,06 milhões em 1990 para 1,27 milhões em 2019, reduzindo para 1,14 milhões em 2021, muito provavelmente devido às medidas de controlo da COVID-19, que temporariamente reduziram as infeções.
Mas as projeções indicam que o cenário mais provável é que as mortes por resistência aos antibióticos atinjam 1,91 milhões anuais até 2050.
Ainda assim, esta estimativa de 1,91 milhões é significativamente inferior a uma previsão anterior de 10 milhões de mortes em 2050, citada pela New Scientist, que incluía resistências a tratamentos de outras doenças, como o VIH e a malária.
Marlieke de Kraker, do Hospital da Universitário Genebra (Suíça), aponta à mesma revista que o presente estudo tem limitações: por exemplo, supõe que o risco de as infeções resistentes aos antibióticos causarem mortes é o mesmo em todo o mundo, o que não acontece.
“Se as infra-estruturas básicas de cuidados de saúde forem limitadas, as infeções resistentes aos medicamentos não provocam necessariamente mais mortes do que as infeções sensíveis aos medicamentos”, afirma a especialista.