Os oceanos absorveram mais de 90% do calor excessivo retido pelos gases com efeito de estufa desde 1971 e estão já a passar por mudanças que serão irreversíveis nos próximos séculos.
A Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou, esta segunda-feira, que os Oceanos absorveram 90% do aquecimento global, estando – como consequência – a registar mudanças irreversíveis.
Este cenário é exposto no relatório da OMM sobre o estado do clima no sudoeste do Pacífico no ano de 2023, pela secretária da organização, Celeste Saulo, e pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, que se encontra de visita ao Tonga durante a realização do 53.ª cimeira do Fórum de Líderes das Ilhas do Pacífico.
As ilhas paradisíacas do Pacífico estão em perigo devido ao “transbordamento” do oceano, disse Guterres, à medida que a subida média dos mares em todo o mundo ocorre a uma velocidade sem precedentes.
Mas o problema “está a chegar a todos nós, juntamente com a devastação da pesca, do turismo e da economia azul”, disse o líder das Nações Unidas.
O secretário-geral da ONU alertou ainda para a ameaça real de um degelo da Gronelândia e da Antártida ocidental, que colocaria em perigo aglomerações como Los Angeles, Lagos e as megacidades asiáticas de Xangai, Mumbai e Dhaka.
Tendo feito da crise climática uma das bandeiras do seu mandato, o secretário-geral da ONU deu como certo que haverá um aumento de um metro no nível do mar, mas insistiu que depende da ação humana “a escala, o ritmo e impacto” desse aumento.
O relatório da OMM indica que o degelo na Gronelândia e nos pólos, a que se soma a alta absorção do aquecimento global pelos oceanos, está a acrescentar água às grandes massas do planeta, que por sua vez aumentam a sua temperatura e se expandem, levando ao aumento dos seus níveis.
“Prevê-se que os 2.000 metros superiores do oceano continuem a aquecer devido ao calor excessivo acumulado no sistema terrestre pelo aquecimento global, uma mudança que é irreversível em escalas temporais de séculos e milénios”, avança o relatório.
Paga o justo pelo pecador
As ilhas do Pacífico estão na “linha da frente” da crise climática devido à sua elevada exposição aos efeitos das emissões de gases. Fatalmente, estes são locais que praticamente não contribuem para este cenário.
Estes locais são frequentemente afetados por ciclones tropicais e inundações, e fenómenos como uma erupções vulcânicas e que, em 2022, geraram um tsunami e uma forte produção de vapor.
“As atividades humanas enfraqueceram a capacidade do oceano de nos sustentar e proteger e – através da elevação do nível do mar – estão a transformar um amigo de longa data numa ameaça crescente”, lamentou a OMM.
“Já estamos a ver mais inundações costeiras, recuo da linha costeira, contaminação de reservas de água doce por água salgada e deslocação de comunidades”, acrescentou.
Entre 1993 e 2023, a mediana do aumento global do nível do mar foi de 9,4 centímetros, mas no Pacífico tropical foi superior a 15 centímetros em alguns pontos. Num cenário de aquecimento de três graus Celsius (em linha com a atual trajetória), o nível do mar na região poderá subir mais 15 centímetros até 2050.
Consequências irreversíveis
Entre as consequências do aquecimento global, que as organizações instaram a travar imediatamente, estão:
- aumento do nível do mar;
- maior intensidade e frequência das ondas de calor marinhas;
- mais calor na superfície e no conteúdo do oceano;
- mais acidificação dos oceanos.
Cada fenómeno tem as suas próprias ramificações.
“Há preocupações crescentes de que algumas ilhas-nação possam tornar-se inabitáveis”, alerta o documento, “com implicações para a sua realocação, soberania e estatuto de Estado”.
“São necessários agora cortes profundos, rápidos e sustentados nas emissões globais de gases com efeito de estufa para permanecermos numa trajetória de aquecimento a longo prazo de 1,5 graus”, insta o relatório.
É urgente melhorar a adaptação costeira e investir na resiliência em todo o mundo, especialmente nas pequenas ilhas.
ZAP // Lusa