O parasita da toxoplasmose é agora um Uber para proteínas que tratam doenças cerebrais

CDC

Quisto de Toxoplasma gondii

Uma equipa internacional de neurobiólogos desenvolveu uma forma de utilizar um parasita comum para administrar terapias proteicas através da barreira hemato-encefálica e tratar doenças das células nervosas.

O tratamento de algumas doenças cerebrais tem sido complicado, devido à dificuldade em administrar fármacos através da barreira hemato-encefálica.

Agora, uma equipa de investigação encontrou forma de ultrapassar este problema — com um parasita conhecido, que foi alterado para ser capaz de atravessar essa barreira.

Num novo estudo, publicado esta segunda-feira na Nature Microbiology, os investigadores criaram uma variante do parasita Toxoplasma gondii, que se mostrou capaz de entregar proteínas destinadas a tratar uma doença cerebral.

O T. gondii é um parasita comum em animais de sangue quente que provoca toxoplasmose, infeção que ocorre quando as pessoas ingerem cistos do parasita provenientes de fezes de gatos ou comem carne contaminada.

Geralmente, a infeção não provoca sintomas, mas algumas pessoas apresentam linfonodos inchados, febre, uma vaga sensação de mal-estar e às vezes dor de garganta ou visão embaçada e dor nos olhos.

Em alguns casos, a toxoplasmose pode causar doenças cerebrais, uma vez que este parasita consegue ultrapassar a barreira hemato-encefálica e viajar facilmente do estômago e o cérebro.

Esta capacidade foi agora aproveitada pelos cientistas para desenvolver uma nova forma de transportar fármacos até ao cérebro.

Segundo o Phys.org, o parasita tem três organelos que segregam substâncias para uso próprio. A equipa de cientistas alterou dois deles, que passaram a segregar proteínas atualmente utilizadas para tratar doenças neurológicas.

Os investigadores introduziram então nos organóides uma variação de T. gondii   que produz e entrega uma proteína chamada MeCP2, usada frequentemente como tratamento para a síndrome de Rett.

Num primeiro teste, a equipa  confirmou que os parasitas modificados conseguiram chegar aos neurónios pretendidos e libertar a proteína. De seguida, a equipa testou o parasita modificado em ratos vivos de três formas.

Em primeiro lugar, injetaram nos ratos soro fisiológico que continha T. gondii modificado.  No segundo ensaio, fizeram o mesmo com T. gondii que não tinha sido modificado e, no terceiro, introduziram solução salina sem o parasita.

A equipa descobriu que T. gondii não interferiu com a sua capacidade de atravessar a barreira hemato-encefálica ou de provocar inflamação — o que abre portas a que esta abordagem seja usada no futuro no tratamento de doenças neurológicas

Soraia Ferreira, ZAP //

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