Starmer está sob fogo após suspender sete deputados que se rebeliaram e votaram a favor da reversão de uma medida polémica do Governo anterior.
Já é quase da praxe na política britânica. Keir Starmer ainda mal teve tempo para aquecer a cadeira de primeiro-ministro e já enfrentou a sua primeira rebelião interna, com sete deputados Trabalhistas a votarem contra o Governo.
Em causa está uma lei polémica dos Conservadores que impôs um limite de duas crianças às famílias que recebem subsídios do Estado — ou seja, os pais podem ter mais filhos, mas só os dois primeiros é que se qualificam para os apoios.
Starmer tem enfrentado muita pressão interna para reverter esta lei e esta terça-feira, o Partido Nacional Escocês decidiu convocar um voto de emergência no Parlamento para abolir a medida.
O primeiro-ministro ordenou que os Trabalhistas votassem contra a proposta dos nacionalistas escoceses, mas sete deputados rebeldes votaram a favor. Como retaliação, Starmer tomou uma decisão sem precedentes e suspendeu os deputados em causa.
A decisão do líder Trabalhista está a ser amplamente criticada, inclusivamente por deputados que votaram ao lado do Governo. John McDonnell, um dos deputados rebeldes, disse antes do voto que não gosta de votar a favor de emendas propostas por outros partidos, mas que decidiu “seguir o exemplo de Keir Starmer e priorizar o país antes do partido“.
A deputada Nadia Whittome, que não votou a favor da emenda, acredita que a abordagem de Starmer à disciplina partidária tem sido “pavorosa“. “Nenhum deputado deve perder o whip por causa do seu voto esta noite, principalmente quando está em causa uma medida a que quase todos os Trabalhistas se opõem”, aponta.
“O nosso partido tem uma grande maioria. Se quiser governar a partir de uma posição de força, deverá ser capaz de tolerar divergências sem fazer ameaças. Isto não alimenta uma cultura saudável. Se os deputados não podem contrariar a bancada quando acham que está errada, é mais provável que o Governo tome decisões erradas”, frisa.
Em declarações à Times Radio, Mish Rahman, membro do Comité Executivo Nacional dos Trabalhistas e um dos rostos da esquerda no partido, acusou Starmer de ser autoritário.
“Keir Starmer acha que isto mostra que ele é um líder forte, mas na verdade é mania do controlo e autoritarismo. Não creio que seja a coisa certa a fazer porque todos no Partido Trabalhista, incluindo Keir Starmer, criticarão o limite aos apoios. Isto mostra que os políticos dizem uma coisa e fazem outra, o que leva a um aumento da desconfiança dos políticos”, considera.
Apesar de os apelos à reversão da medida serem mais expressivos na ala mais progressista e Corbynista do partido, há um apoio generalizado para a sua abolição. De acordo com deputados ouvidos pelo The Guardian, a rebelião tornará agora mais difícil para o Governo ceder nesta questão e provavelmente alienará outros deputados caso haja um novo voto.
No que parecia ser uma tentativa de apaziguar potenciais rebeldes, Starmer indicou pela primeira vez na segunda-feira que irá considerar a possibilidade de reverter o limite, o que anteriormente foi considerado incomportável a nível financeiro.
Bridget Phillipson, Ministra da Igualdade, também já indicou que a remoção do limite está entre as medidas que o Governo consideraria como parte de um pacote de medidas para combater a pobreza infantil.