Apesar de haver relatos escritos do ritual de esfolar gatos no Portugal medieval, esta é a primeira vez que são encontradas provas arqueológicas.
Uma escavação recente em Almada, ao longo da Rua do Registo Civil, revelou um achado arqueológico perturbador: duas fossas de armazenamento medievais com mais de 200 fragmentos de ossos de gatos domésticos.
Esta descoberta, relatada num estudo publicado na Journal of Archaeological Science: Reports, lança uma nova luz sobre as práticas medievais com gatos e sugere que o ritual de esfolar gatos para obter as suas peles estava presente em Portugal durante os séculos XII e XIII.
O estudo relata a descoberta de 202 fragmentos de ossos pertencentes a 13 gatos, tendo a análise indicado que os animais eram provavelmente esfolados para a obtenção de peles. As incisões superficiais encontradas nos ossos, particularmente à volta do focinho e do crânio, eram consistentes com as práticas de esfolamento documentadas na Europa medieval.
Um exame mais aprofundado dos ossos revelou as idades dos gatos na altura da sua morte: seis tinham menos de quatro meses, um tinha entre cinco e seis meses e os restantes seis tinham mais de um ano. Nestas idades, os gatos teriam um pelo relativamente grande e bem conservado, o que os tornaria adequados para a recolha de peles, escreve o All That’s Interesting.
A descoberta de ossos de gato com marcas de esfolamento em Portugal é a primeira prova arqueológica desta prática no país. Embora alguns documentos medievais já tivessem relatado o esfolamento de gatos para a obtenção de peles, ainda não tinham sido encontradas evidências arqueológicas deste ritual em Portugal.
No entanto, Portugal está longe de ser o único país europeu onde o esfolamento de gatos era comum durante a Idade Média. Por exemplo, uma escavação de 2017 em El Bordellet, Espanha, descobriu mais de 900 ossos de gato com incisões semelhantes indicativas de esfolamento.
Os investigadores sugerem que a pele de gato era utilizada principalmente para fazer peças de vestuário, como casacos. Há também referências históricas às supostas qualidades curativas da pele de gato, embora alguns textos alertem para a sua possível nocividade.
As razões exatas para esfolar gatos em Portugal medieval permanecem parcialmente especulativas, mas a utilização da sua pele para vestuário e potenciais rituais parece plausível.