Marine Tondelier é líder do Partido Ecologista, um dos elementos-chave na Nova Frente Popular e no combate à União Nacional.
As eleições em França vão seguramente entrar na lista de maiores surpresas de 2024, quando forem publicados os habituais balanços do ano.
A vitória da União Nacional parecia certa, Jordan Bardella iria ser o próximo primeiro-ministro.
Mas afinal, chegados ao dia decisivo, no domingo passado, os franceses foram às urnas escolher outro caminho: ganhou a Nova Frente Popular, uma coligação de esquerda.
Foi uma vitória, foi uma surpresa, mas a maioria absoluta ficou longe. E a França ficou num impasse político inédito na sua história.
Não se sabe quem vai ser o próximo primeiro-ministro. Para já, até continua a ser Gabriel Attal (que pediu a demissão mas o presidente Emmannuel Macron rejeitou a sua saída imediata).
Jean-Luc Mélenchon é o líder da Nova Frente Popular, queria ser o líder do Governo – mas não vai acontecer.
O líder do partido França Insubmissa não agrada a Macron, não agrada a muitos políticos franceses de primeira linha, tem os conhecidos ataques de raiva, foi associado ao anti-semitismo e fez ataques cruéis aos seus adversários. Nem dentro da coligação é propriamente adorado.
Marine Tondelier
No meio da incógnita, surge um nome que pouco ou nada dirá aos portugueses: Marine Tondelier.
Aliás, até há poucos dias, a maioria dos franceses nem conhecia muito bem esta nova figura.
A Nova Frente Popular junta 9 partidos (!). Além do França Insubmissa, destacam-se a o Partido Socialista, o Partido Comunista Francês e os Verdes.
Marine Tondelier é secretária nacional, a líder desse partido, o Les Écologistes – Europe Écologie Les Verts.
Foi um dos rostos mais vistos nesta nova aliança da esquerda (onde subiu a número dois) e uma das vozes mais fortes contra a extrema-direita. Apelou cedo a uma “frente republicana”, que se traduziu num acordo entre a coligação e o Juntos.
O canal Euronews sublinha que Marine surge como um dos nomes mais fortes para o cargo de primeira-ministra.
Percurso
Marine Tondelier tem 37 anos. Estudou no Instituto de Estudos Políticos de Lille e tem um mestrado em gestão de estabelecimentos de saúde .
Iniciou sua carreira política há 15 anos, em 2009, juntando-se aos Verdes. Desde cedo começou a combater a extrema-direita (curiosamente nasceu numa cidade onde a União Nacional comanda, em Hénin-Beaumont).
Em 2014 foi eleita para o conselho municipal da sua cidade natal, onde se começou a destacar como voz da oposição à direita.
Também já emergiu a sua faceta de activista, quando relatou as experiências de bullying e intimidação de que foi vítima, ou participou numa marcha contra o anti-semitismo no ano passado.
Tem sido uma voz fundamental na defesa do ambiente e das causas sociais em França. Ainda nesta campanha eleitoral lançou um “recado” a Jordan Bardella, que recusou debater com Marine: “Ah, então é mesmo oficial: Bardella só quer debater com homens“.
Lidera os Verdes desde Dezembro de 2022. Agora integrada na Nova Frente Popular, terá sido fundamental para algumas promessas eleitorais da coligação: investir em energias renováveis, desenvolver a energia eólica offshore e a energia hidroelétrica, abandonar a energia nuclear e chegar à neutralidade carbónica até 2050.
Também encontramos, no programa eleitoral da aliança de esquerda, um plano nacional de adaptação climática para proteger as pessoas e os seus bens – inclui por exemplo limites de temperatura para os trabalhadores ao ar livre em condições de calor extremo.
Para se distanciar de Marine Le Pen, é conhecida como “a outra Marine”. Aliás, foi rival directa de Le Pen ao tentar conquistar o lugar de deputada no seu círculo eleitoral.
O blazer verde
E é também conhecida pelo blazer verde. Já é um ícone em França. A secretária-nacional dos Verdes usa constantemente o blazer verde (e só tem dois no roupeiro) como uma assinatura sua, com forte conotação semiótica, lê-se no Libération.
É um signo com sentido, é um manifesto político constante, se preferir.
A própria Marine admitiu ao mesmo jornal: “Quando tenho o blazer verde vestido, as pessoas vêm ver-me“.
De quase desconhecida passou a figura política popular em poucos dias.
O eurodeputado ecologista David Cormand disse que Tondelier é alguém que, “durante uma crise, é capaz de subir de patamar”, cita a agência France-Presse.
O próximo patamar será o cargo de primeira-ministra?
Não podiam ter muita direita, agora vão ter muita esquerda que é muito melhor.
Um dia não muito longe, teremos uma França com menos dinheiro que Portugal LOL