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As renováveis tornaram a energia (temporariamente) grátis. Os mercados estão alarmados

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Não é que se note em Portugal, mas a recente super-abundância de oferta de energias renováveis continua a tornar a eletricidade temporariamente gratuita — e as campainhas de alarme estão a soar nos mercados.

A oferta de energia renovável está a aumentar em toda a Europa, ao ponto de o custo da eletricidade estar a descer para zero – e mesmo, em alguns casos, a ficar negativo.

Um caso paradigmático é o da Alemanha, país onde o corte dos fornecimentos de gás russo originou uma aposta tão grande na energia verde, que instalou mais capacidade solar do que a procura dos consumidores pede. Os preços da energia colapsaram.

Sintomática é também a inundação do mercado de painéis solares produzidos na China, que preocupa os fabricantes norte-americanos. E estão tão baratos, que são usados como cercas de jardim.

Por um lado, a superabundância de energia renovável é uma vantagem para muitos consumidores, para não falar do ambiente.

Mas as empresas começam agora a preocupar-se com o facto de esta economia invertida poder fazer com que a procura de maiores e melhores projetos de energia renovável diminua, reporta a Bloomberg.

Os preços negativos vão abrandar a implantação de capacidade renovável para a maioria dos intervenientes”, diz Axel Thiemann, diretor executivo da Sonnedix. “Isso afecta a sua capacidade de investir a níveis razoáveis”. Esta é, com efeito, um bizarra inversão de benefícios e incentivos, diz o Futurism.

Os preços negativos da eletricidade ocorrem quando a elevada produção de energia coincide com a baixa procura, algo que tende a acontecer mais frequentemente nos feriados públicos. Nestas situações, os fornecedores de energia renovável oferecem eletricidade a preços negativos.

Em suma, estão essencialmente a pagar aos compradores para receberem o excesso de energia. Na realidade, porém, impostos e custos de transporte fazem com que os consumidores acabem por ter que pagar qualquer coisita.

Os preços negativos ocorreram pela primeira vez na Alemanha em 2008 e, inicialmente, continuaram a ser raros. Mas, de acordo com um relatório da ACER, agência de monitorização de mercado da UE, estes casos aumentaram doze vezes — uma “explosão” — em 2023, em comparação com o ano anterior.

2024 tem mantido esta tendência.

Em maio, um número invulgarmente elevado de dias de sol fez com que os preços da eletricidade na Dinamarca caíssem abaixo de zero durante um período de tempo recorde.

Na Califórnia, que obtém um quarto da sua eletricidade a partir da energia solar, os preços chegaram a ser negativos durante o dia em abril, o que indica que está a ser desperdiçada muita energia.

Este fenómeno realça a necessidade crescente de armazenamento de energia que possa ser redistribuída quando a procura é elevada e a oferta é baixa – um problema irritante, que tem estimulado uma série de potenciais soluções exóticas.

Esse é o caso recente de um estudo sobre a forma como os iões se movem através dos minúsculos poros de um supercondensador — um dispositivo de armazenamento de energia com potencial para um carregamento muito mais rápido do que as baterias convencionais.

Otimizar o movimento dos iões nos poros de um supercondensador é o elo perdido que permitiria carregar um telemóvel em menos de um minuto e um carro elétrico em 10 minutos, dizem os autores do estudo.

Mas enquanto a ciência e tecnologia avançam com novas soluções para a recolha e armazenamento de energia a partir de fontes renováveis, os  investidores estão cada vez mais preocupados com a queda das receitas — o que pode ironicamente desincentivá-los a investir em novas fontes de energia renováveis.

Afinal de contas, money makes the world go round.

Armando Batista, ZAP //

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10 Comments

  1. Que tal tornarem a electricidade com preços que as pessoas possam gastar? Os capitalistas não sabem o conceito de oferta e procura?

  2. Pronto, vão começar a dizer que as energias renováveis afinal são más para o ambiente e vão começar a taxá-las pesadamente.

  3. Andam todos a ver passar comboios!
    Pois então ainda não viram nada!
    Porque dentro de muito pouco tempo, isso irá passar-se com toda a produção mundial da generalidade dos artigos de consumo!
    E não vai ser preciso mão de obra…
    O que parece ser uma coisa excelente, NÃO!
    Preparem-se para mas é para um GRANDE PROBLEMA!!!

  4. Para a energia renovável “ser grátis” era preciso que os electrões viessem pelo éter, entrar na instalação eléctrica lá de casa e fazer as coisas funcionarem. Como é necessário estruturas para a produzir, distribuir, reparar avarias, substituir fontes energéticas quando escasseiam (à noita não há sol, nem sempre há vento e cada vez há mais falta de água) é preciso (muito) dinheiro para investir para termos energia, logo, não há energia grátis seja ela renovável ou não.

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  5. Vamos lá a ver se entendo: o objectivo da energia renovável, além da questão muito importante, capital até, ambiental, não seria tornar a energia (muito) mais barata? É. Ou era. Aparentemente, é para tornar a energia mais barata na produção, para se conseguir vender mais cara sob o chapéu de renovável e ambientalmente responsável. Têm o troco. Por essa razão, no meu entender, a produção de energia de forma massificada teria de estar sob alçada do Estado, que a venderia aos comercializadores, e estes sim, e apenas, competiriam por clientes, domésticos ou institucionais. Deixar a produção para o sector privado dá nisto. Tal como a REN, rede de transporte de energias, teriam de estar na mão do Estado (opa, afinal está, mas na mão de um Estado estrangeiro). Barragens, idem. Sectores críticos, como os que referi, e outros (rede de infraestruturas de telecomunicações, redes viárias, etc) teriam de estar obrigatóriamente na mão do Estado. A comercialização, essa parte já deveria estar em mãos privadas. E não sou de Esquerda.

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