“Relações Públicas das pombas”. A mulher que luta para limpar a imagem desta ave

Penny's Pigeon Aid

Hannah Hall, a ‘Relações Públicas das Pombas’

Ratos com asas, praga urbana e pássaros de sarjeta – são muitos os apelidos negativos que os pombos ganharam em várias partes do mundo. Mas uma mulher fez da missão de sua vida melhorar a imagem dessas aves.

A britânica Hannah Hall diz querer combater o “preconceito contra os pombos” com uma nova instituição de caridade.

Tudo começou durante um encontro casual num bar. Hannah estava reunida com alguns amigos num pub há dois anos, em maio de 2022, quando uma pombinha saltou para o banco em que ela estava sentada.

“A pomba sentou-se ao lado da minha amiga, que eu não sabia que tinha uma incrível fobia de pássaros, e ela passou-se, deu um salto e quis trocar de lugar”, lembra Hannah.

Mas a inglesa continuou a conversar com as amigas enquanto o pombo se sentava calmamente ao seu lado “E então a coisa mais estranha aconteceu. A pomba atravessou o banco e saltou para o meu colo”, diz Hannah.

Três horas e meia depois, a pomba ainda não tinha saído do lado de Hannah. “Foi uma loucura porque de repente ela estava no meu braço, depois no meu ombro e aninhada no meu cabelo“, conta.

Quando chegou a hora de Hannah voltar para casa, a empregada perguntou-lhe se iria levar a ave. Então, um grupo de estudantes que se encontrava no bar contou a Hannah que, ao início da noite, alguns outros jovens tinham estado a maltratar o pássaro, tentando fazê-lo voar.

Hannah sabia que a pomba estava carente e que não tinha coragem de a deixar para trás. “Ela pousou no meu ombro e eu levei-a até o meu carro”, diz Hannah. “Os meus amigos despediram-se de mim e disseram-me que eu estava absolutamente louca.”

Hannah, que trabalha no NHS, o serviço público de saúde do Reino Unido, recorreu às redes sociais para obter conselhos. Já tinha uma conta no TikTok; fez então um vídeo a contar a sua experiência com a pomba, e a pedir conselhos sobre o que fazer com a ave.

“E 27 milhões de visualizações depois, o mundo inteiro investiu nesta pombinha. A internet votou e escolheu o nome Penny“, diz Hannah.

Após o primeiro vídeo, Hannah criou uma conta TikTok para Penny, que já tem mais de 300 mil seguidores. A inglesa escreveu também um livro infantil sobre o seu pássaro, e Hannah e Penny apareceram num programa de TV.

Mas Penny, infelizmente, começou a ter problemas de saúde. “Ela tinha um problema de fígado, um abcesso que não sabíamos que existia”, diz Hannah. “O mais triste é que o veterinário disse que foi provavelmente causado por um pontapé.”

Hannah gastou milhares de libras tratando Penny, que foi medicada com antibióticos.

“Arrasada”

Mas um dia Hannah teve uma sensação estranha. “Eu e Penny sempre tivemos uma ligação. Eu sabia o que ela estava a tentar dizer-me algo e sabia o que ela estava a tentar comunicar”, diz Hannah. “Subi as escadas e quando cheguei ao quarto ela tinha morrido.”

Hannah tinha aprendido reanimação cardiopulmonar para pássaros e tentou ressuscitar Penny, mas era tarde demais. “Fiquei arrasada”, diz.

A britânica ficou com o seu aviário vazio e o coração demasiado partido para poder  pensar em adotar outro pombo. “Eu já não conseguia olhar para um pombo sem chorar”, diz.

Mas decidiu continuar – como diz, “pelo bem de Penny” – e ajudar a resgatar mais pombos. Inicialmente acolheu quatro pombinhos, que tinham sido encontrados num pombal e seriam abatidos.

Não contente em ajudar os pombos em casa, decidiu que queria ajudar mais aves. “As pessoas são tão cruéis com os pombos, não os veem como criaturas vivas”, diz Hannah.

“Então pensei comigo mesmo: ‘isto é horrível, não consigo assistir a isto’, e então decidi abrir uma instituição de caridade para o bem-estar dos pombos.”

A Penny’s Pigeon Aid foi fundada em janeiro com a ajuda de outras duas mulheres apaixonadas por pombos. Um dos objetivos da instituição de caridade é mudar a forma como as pessoas veem os pombos, na esperança de que sejam mais gentis.

Mas os pombos não são sujos e anti-higiénicos?

“É extremamente raro ficar doente através de contacto com excrementos de pombos ou contacto com um pombo”, diz Hannah, que atribui a culpa a imagem que estas aves têm a “propaganda não muito agradável” feita há 60 anos.

“Na década de 1960 um artigo atribuiu falsamente duas mortes ao contacto com pombos e, não muito depois disso, um membro do governo de Nova Iorque criou o apelido ‘ratos com asas‘”, explica.

“Na década de 1980, um filme de Woody Allen usou também a expressão ‘ratos com asas’, e então o público começou a usar esse termo. Desde então a reputação deles só piorou.”

Antes dos pombos terem ganhado uma má reputação, Hannah diz que eles eram valorizados e até salvaram vidas em tempos de guerra.

“Descobri que os pombos foram extremamente importantes durante a Segunda Guerra Mundial – 250 mil deles voaram sobre as linhas inimigas para transportar mensagens importantes”, diz Hannah. “Muitos pombos salvaram vidas por conseguirem entregar mensagens.”

Depois de alguma pesquisa, Hannah descobriu como os pombos são inteligentes. “Conseguem reconhecer o alfabeto, fazer matemática simples – provavelmente melhor do que eu -, reconhecer o seu próprio reflexo, o que é muito raro, e até identificar cancro em humanos“, diz ela.

O psicólogo americano BF Skinner fez inúmeras experiências com pombos, ensinando-os a jogar pingue-pongue e até os treinou para operar um míssil guiado na Segunda Guerra Mundial. No entanto, o míssil nunca foi usado, segundo Skinner, porque “ninguém nos levava a sério“.

Hannah acredita que um dos motivos pelos quais as pessoas não gostam de pombos é o facto de existirem muitos pombos selvagens e nas ruas.

“A razão pela qual existem muitos deles é porque quando não precisávamos mais deles, nós abandonamos os pombos. É como se de repente disséssemos que deveríamos deixar de ter cães como animais de estimação, e largar os nossos cães na rua — haveria cães por toda parte”, explica.

“Não esperamos que todos se apaixonem por eles de repente, apenas esperamos que as pessoas sejam humanas e não ajam com crueldade”, conclui Hannah Hall, a ‘Relações Públicas das Pombas’.

ZAP // BBC

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