Biden ameaça deixar de enviar armamento para Israel se a invasão de Rafah avançar

Ron Sachs/EPA

Joe Biden

Biden garante que os EUA vão continuar a apoiar os sistemas de defesa de Israel, como a Cúpula de Ferro, mas não vão fornecer armas e bombas que possam ser usadas em Rafah.

Em entrevista à CNN, Joe Biden deixou um aviso a Benjamin Netanyahu e ameaçou cortar o fornecimento de armas a Israel caso o país siga em frente com os planos de invadir Rafah. Esta posição do chefe de Estado norte-americano surge em resposta ao uso destas armas em ataques que mataram civis na cidade de Gaza.

“Civis foram mortos em Gaza como consequência dessas bombas e de outras formas como atacam os centros populacionais. Deixei claro que se eles forem para Rafah, não vou fornecer as armas”, declarou Biden.

Esta entrevista marca a primeira vez que o Presidente dos Estados Unidos reconheceu que o armamento norte-americano está a ser utilizado por Israel em ataques contra civis.

“Não estamos a abandonar a segurança de Israel. Estamos a recusar dar capacidade a Israel de travar uma guerra nessas áreas. Continuaremos a garantir que Israel esteja seguro em termos da Cúpula de Ferro e da sua capacidade de responder aos ataques que surgiram recentemente no Médio Oriente”, frisa Biden, referindo-se à crescente tensão entre Israel e o Irão. “Mas é simplesmente errado. Não vamos fornecer as armas e os projéteis de artilharia”, garante.

O Governo dos EUA confirmou ainda na quarta-feira que reteve o envio de um carregamento de armas para Israel, uma das medidas de Biden para pressionar o primeiro-ministro israelita.

“Neste momento, estamos a rever alguns envios de assistência de segurança a curto prazo, no contexto dos acontecimentos que se desenrolam em Rafah”, afirmou o chefe do Pentágono, o general Lloyd Austin, durante perante um subcomité do Senado.

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente estimou que vivam atualmente em Rafah cerca de 1,5 milhões de palestinianos deslocados pela ofensiva israelita contra o Hamas.

“Preferimos que não ocorram combates importantes em Rafah, mas o nosso foco principal é garantir a proteção de civis”, acrescentou Lloyd Austin, reiterando a posição que os EUA defendem desde há semanas.

O porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, Matthew Miller, foi mais além e anunciou que os EUA estão a estudar reter mais envios de armas para Israel.

Biden sob pressão

Esta era uma decisão exigida desde há semanas a Biden pelos sectores progressistas dos Democratas. Há um mês, cerca de 40 congressistas, a que se juntou Nancy Pelosi, ex-presidente da Câmara dos Representantes, pediram a Biden que tomasse esta medida. O apelo surgiu após um ataque israelita ter matado sete trabalhadores humanitários da organização não-governamental World Central Kitchen.

O chefe do Pentágono não deu detalhes sobre o conteúdo do carregamento retido, se bem que tenha avançado que se tratava de “munições de alto calibre”. Segundo a CNN, está em causa um pacote com 3500 bombas, das quais 1.800 com 907 quilos e 1.700 bombas com 226 quilos.

Os EUA estarão sobretudo preocupados com a possibilidade de Israel usar as bombas mais pesadas em zonas densamente habitadas.

Há ainda receios nos Democratas sobre o impacto que o apoio a Israel pode ter nas presidenciais de Novembro, já que o eleitorado muçulmano votou em força em Biden em 2020. O estado decisivo do Michigan — que em 2016 foi vencido por Donald Trump e em 2020 virou para Joe Biden — é a principal preocupação, dado ter uma comunidade significativa de muçulmanos e árabes.

Os recentes protestos nas universidades em defesa de cortes ao fornecimento de armas e boicotes a produtos israelitas também estão a deixar a nu o descontentamento de grande parte do eleitorado jovem — outro dos trunfos de Biden —, com muitos estudantes a apelidar o chefe de Estado de “Joe do genocídio”.

 

Israel lamenta ameaça de Biden

O embaixador de Israel na ONU disse que a ameaça dos EUA de suspender a entrega de certas armas em caso de uma grande ofensiva em Rafah, no sul de Gaza, foi “dura e dececionante“.

“Esta é uma declaração muito dura e dececionante de um Presidente a quem temos estado gratos desde o início da guerra”, disse à rádio pública israelita Gilad Erdan, referindo-se ao líder norte-americano Joe Biden.

“É evidente que qualquer pressão sobre Israel, qualquer restrição que lhe seja imposta, mesmo por parte de aliados próximos preocupados com os nossos interesses, é interpretada pelos nossos inimigos” e “dá-lhes esperança“, acrescentou.

Adriana Peixoto, ZAP // Lusa

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