Extrema-direita não consegue formar governo nos Países Baixos

Roel Wijnants / Flickr

Geert Wilders, líder da extrema-direita na Holanda

O líder de extrema-direita neerlandês, Geert Wilders, anunciou esta quarta-feira que não será primeiro-ministro dos Países Baixos devido à falta de apoio dos partidos com os quais tentava formar uma coligação governamental.

“Só posso tornar-me primeiro-ministro se todos os partidos da coligação me apoiarem. Este não foi o caso”, escreveu Wilders na rede social X, quase quatro meses após as eleições legislativas, marcados por negociações políticas para encontrar uma solução de governo.

Com um discurso abertamente antieuropeu e islamofóbico, em 23 de novembro, o Partido da Liberdade (PVV), liderado por Wilders, ganhou as eleições legislativas com uma margem esmagadora, mas sem maioria suficiente para governar sozinho.

Wilders apelou diversas vezes à proibição das mesquitas, de escolas islâmicas e do Corão, mas abandonou o projeto de lei sobre estas medidas em prol de uma possível coligação nestas eleições.

Os orgãos de comunicação social neerlandeses tinham noticiado nos últimos dias avanços nas conversações para a constituição de um executivo de base tecnocrática.

Os partidos políticos estão prontos para dar um “próximo passo” na formação de um governo ao final de dois dias de “boas” e “intensas” discussões, declarou na terça-feira o supervisor das negociações para a formação de um executivo, Kim Putters, que deve apresentar um relatório crucial na quinta-feira.

Geert Wilders surpreendeu os Países Baixos e o resto da Europa ao obter pela primeira vez para a extrema-direita uma vitória nas últimas legislativas.

Com 60 anos e conhecido como o “Donald Trump holandês”, Geert Wilders foi acusado de crimes raciais e precisa de proteção de segurança 24 horas por dia, 7 dias por semana, devido a todas as ameaças de morte que recebe.

O líder do Partido da Liberdade (PVV) tentou primeiro obter a maioria governamental com o partido liberal VVD, o partido agrícola BBB e o partido centrista Novo Contrato Social (NSC), mas as negociações chegaram a um impasse no mês passado.

Na altura, o líder desta última força política, Pieter Omtzigt, retirou-se abruptamente das conversações, apontando o estado sombrio das finanças públicas.

“Gostaria de um governo de direita. Menos asilo e imigração. Neerlandeses primeiro”, escreveu Wilders no X, acrescentando: “O amor pelo meu país e pelos meus eleitores é grande e mais importante do que a minha própria posição”.

Omtzigt já havia manifestado preocupações sobre o manifesto de Wilders, um texto islamofóbico e cético em relação ao clima, que defende nomeadamente a proibição das mesquitas e do Corão, livro sagrado islâmico, bem como a saída dos Países Baixos da União Europeia.

No sistema político neerlandês altamente fragmentado, onde nenhum partido é suficientemente forte para governar sozinho, o anúncio dos resultados marca geralmente o início de meses de negociações.

Na altura, o jornal Algemeen Dagblad descreveu as conversações como uma “catástrofe à espera de acontecer”, com “veneno, críticas mútuas, fofocas”.

Kim Putters, um antigo senador trabalhista, foi então nomeado para supervisionar o diálogo, trazendo com sucesso os líderes dos quatro partidos rivais de volta à mesa de negociações.

Mark Rutte permanece no cargo de primeiro-ministro enquanto se aguarda a formação de um novo governo, mas ao mesmo tempo aparece como o favorito para liderar a NATO.

Desde as eleições, o apoio ao PVV só se fortaleceu, segundo as sondagens.

ZAP // Lusa

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