Mais casos e mais países infetados com a bactéria hipervirulenta, que está cada vez mais variada e resistente a antibióticos. Estirpes hvKp podem causar infeções graves em indivíduos saudáveis, “potencialmente intratáveis”.
A bactéria multirresistente hipervirulenta ‘Klebsiella pneumoniae‘ (hvKp) está a aumentar na Europa, alertou esta quarta-feira o Centro Europeu para a Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC), afirmando que subiram de 12 para 143 os casos reportados desde 2021.
Outra preocupação, segundo o ECDC, é o aumento de quatro para 10 do número de países com casos registados de infeção com hvKp do tipo 23, bactéria hipervirulenta que tem adquirido cada vez mais variedade de genes associados à resistência aos antibióticos de último recurso utilizados para o tratamento de infeções graves.
O aumento de casos de hvKp multirresistente é “motivo de preocupação, devido à gravidade das infeções, combinada com a resistência aos antibióticos de última linha, o que torna as infeções difíceis de tratar”, afirmou Dominique Monnet, chefe da secção de Resistência Antimicrobiana e Infeções Relacionadas com os Cuidados de Saúde do ECDC, citada num comunicado do organismo europeu.
“Espera-se que a disseminação de hvKp multirresistente em ambientes de saúde resulte em aumento da mortalidade entre populações de pacientes vulneráveis nesses ambientes”, advertiu o organismo.
De acordo com o ECDC, a avaliação rápida de risco atualizada “fornece provas da propagação sustentada de uma linhagem específica de hvKp ST23 (linhagem K1) entre unidades de saúde num país da União Europeia”, a Irlanda, durante um período de cinco anos, “apesar dos esforços de controlo reforçados”.
Casos de ‘hvKp ST23-K1’ com potencial transmissão dentro do país também foram detetados em outros três países da União Europeia/Espaço Económico Europeu (UE/EEE), designadamente França, Letónia e Lituânia, o que nestes casos não foi até agora confirmado com investigações epidemiológicas detalhadas.
“Até agora, não foram confirmados como sendo provavelmente devido à transmissão dentro do país com dados epidemiológicos. Uma propagação semelhante dentro e entre unidades de saúde pode já ocorrer em outros países da UE/EEE com vigilância menos estabelecida” reportou o ECDC.
O surgimento de casos da bactéria hipervirulenta combinada com a resistência a antibióticos de última linha, é “preocupante”, pois, “em contraste com as estirpes ‘clássicas’ de ‘Klebsiella pneumoniae’, as estirpes hvKp podem causar infeções graves em indivíduos saudáveis, muitas vezes complicadas pela disseminação para vários locais do corpo”, segundo o ECDC.
Anteriormente, as estirpes hvKp eram encontradas principalmente na Ásia e sobretudo adquiridas na comunidade, sendo raramente resistentes a antibióticos, explicaram os peritos.
“Existe a possibilidade de infeções potencialmente intratáveis em adultos previamente saudáveis”, referiu o organismo europeu.
“As opções de resposta incluem alertas para médicos e laboratórios de microbiologia clínica, o estabelecimento de capacidade laboratorial suficiente para detetar casos de hvKp, incluindo sequenciação do genoma completo, a submissão de todos os casos suspeitos de hvKp com ou sem resistência antimicrobiana adicional a laboratórios nacionais de referência, e uma melhor prevenção de infecções”, bem como medidas de controlo em unidades de saúde, disse ainda a entidade de controlo de doenças.
A superbactéria em Portugal
O relatório não refere diretamente Portugal, mas a perigosa bactéria já fechou um serviço do Hospital de Santa Maria no ano passado.
É gram-negativa, anaeróbica facultativa, do tipo bacilo, normalmente encontrada no trato intestinal humano, onde não causa doenças.
É uma importante fonte de infeções adquiridas em ambientes hospitalares, especialmente entre pacientes com o sistema imunológico enfraquecido ou que estão internados por longos períodos de tempo.
A bactéria pode causar variadas condições clínicas, incluindo pneumonia, meningite, e infeções no trato urinário, na corrente sanguínea, e em feridas.
A infeção não é espalhada pelo ar, sendo necessário o contacto direto para a transmissão da doença.
Em 2015, oito pessoas morreram em Gaia devido à mesma bactéria.
ZAP // Lusa