Uma série de relâmpagos resultantes de erupções vulcânicas, nos primórdios do planeta, podem ter provocado vida na Terra, ao fornecerem o azoto fundamental.
Um novo estudo a rochas vulcânicas, publicado esta segunda-feira na PNAS, detetou grandes quantidades de compostos de azoto que terão sido formados por relâmpagos vulcânicos.
O cientistas sugerem que tal fenómeno poderá ter fornecido o azoto necessário para a evolução das primeiras formas de vida.
Como explica a New Scientist, o azoto é um componente essencial dos aminoácidos que são encadeados para fazer as proteínas das quais a vida depende.
Apesar da abundância de azoto, na atmosfera, as plantas não conseguem dar-lhe utilidade, ao contrário do que acontece, por exemplo, com o dióxido de carbono. Em vez disso, as plantas obtêm grande parte do seu azoto através bactérias que são capazes de “fixar” o gás, convertendo-o em compostos de azoto.
Contudo, uma vez que as bactérias capazes de fixar azoto não existiam, quando a vida surgiu pela primeira vez, é provável que, naquele período, tenha havido uma fonte não biológica de azoto.
A teoria do “relâmpago vulcânico”
Em 1950, a icónica experiência de Miller-Urey já tinha mostrado que os relâmpagos na atmosfera primitiva da Terra poderiam ter produzido compostos de azoto, incluindo aminoácidos.
Agora, os investigadores “de 2024” teorizam que os relâmpagos resultantes das erupções vulcânicas poderão ter sido uma das fontes de vida.
Rochas vulcânicas recolhidas no Peru, Turquia e Itália surpreenderam pelas grandes quantidades de nitratos, nalgumas camadas.
Apesar de uma análise isotópica dos fragmentos ter revelado que os nitratos eram de origem atmosférica e não vulcânica, o líder da investigação acha que as quantidades eram demasiado grandes para terem sido criadas por relâmpagos durante tempestades.
“Foi a quantidade que realmente surpreendeu. É realmente massiva. Há muitos relâmpagos quando há erupções vulcânicas massivas”, explica Slimane Bekki, investigador da Universidade Sorbonne, de Paris. “Olhando para as diferentes possibilidades, a mais provável é a de um relâmpago vulcânico“.
A Ciência desenvolve algumas certezas mas isso acontece pelo refinamento de suposições e casualidades. Ideias aparentemente absurdas e resultados opostos aos esperados estão na raiz de muitas descobertas e aprendizados. Muitas tentativas e erros para chegar em alguns acertos. Mas aprendendo sempre com tudo. As suposições sobre os relâmpagos vulcânicos, composição das bolhas de ar no gelo dos polos, aminoácidos formados nas fissuras rochosas e muitas outras são fascinantes, criativas, engenhosas e muito úteis, desde que mantenhamos a humildade científica de saber que, de certo, muitíssimo pouco sabemos. E, a cada nova descoberta, saudada como a ‘solução do mistério da vida´, abre-se um leque de novos pontos inexplicados, forçando-nos a hipótese de sempre: no início absoluto de tudo, deve haver algo superior e incompreensível para o ser humano, uma vez que, cientificamente, jamais conseguiremos explicar que do nada desenvolveu-se tudo o que hoje contemplamos. Ciência e Fé se complementam.