Novos dados do Observatório W. M. Keck, em Maunakea, no Hawaii, confirmam que o exoplaneta WASP-69b, conhecido pela sua atmosfera em fuga, está a formar uma cauda semelhante à de um cometa que é ainda mais longa do que a observada anteriormente.
De nome WASP-69b, os cientistas estudaram no passado este planeta do tamanho de Júpiter, concentrando-se na sua atmosfera em fuga e observando apenas um pequeno rasto de hélio gasoso.
Mas durante uma conferência de imprensa do 243.º Encontro da Sociedade Astronómica Americana, uma equipa de investigadores liderada pela UCLA (University of California, Los Angeles) anunciou que novos dados do Observatório Keck revelam que a cauda tem pelo menos 560.000 km de comprimento.
“Observações anteriores sugeriam que WASP-69b tinha uma cauda modesta, ou que não tinha cauda nenhuma”, diz Dakotah Tyler, doutorando em astrofísica na UCLA e primeiro autor do estudo.
“No entanto, conseguimos mostrar definitivamente que a cauda de hélio deste planeta estende-se pelo menos sete vezes o raio do próprio planeta gigante”, acrescenta.
O estudo foi publicado na revista The Astrophysical Journal.
Localizado a 160 anos-luz da Terra, WASP-69b está tão próximo do seu sol que um ano neste mundo alienígena dura apenas 3,9 dias terrestres. A sua proximidade sujeita o planeta à radiação extrema da sua estrela hospedeira, provocando a combustão da atmosfera do gigante gasoso.
A equipa observou este fenómeno utilizando o instrumento NIRSPEC (Near-Infrared Spectrograph) do Observatório Keck para captar imagens nítidas de WASP-69b, que revelaram a sequência de eventos que mostram a sua cauda a esticar-se à medida que o planeta liberta a sua atmosfera.
“O sistema WASP-69b é uma joia porque somos capazes de estudar a sua perda de massa atmosférica em tempo real”, diz o coautor Erik Petigura, professor associado de astronomia e astrofísica na UCLA.
“Isto constitui uma rara oportunidade para compreender a física crítica que molda milhares de outros planetas”, acrescenta o investigador.
“O que verdadeiramente distinguiu o Keck nas nossas observações foi a grande área de recolha do seu espelho, que nos permitiu detetar muito mais luz estelar. Isto, em combinação com as capacidades de alta resolução do instrumento NIRSPEC, deu-nos uma sensibilidade extremamente elevada da estrutura de velocidade e da absorção total da atmosfera em fuga, que os fortes ventos estelares esculpiram numa longa e fina cauda,” diz Tyler.
Embora WASP-69b tenha apenas cerca de 30% da massa de Júpiter, é 10% maior devido ao calor extremo da sua estrela hospedeira, que faz com que a sua atmosfera se expanda antes de se libertar.
A atmosfera que escapa produz então vento que interage violentamente com o vento da estrela hospedeira do planeta, formando a cauda de hélio de WASP-69b.
“Estas caudas, semelhantes às dos cometas, são muito valiosas porque formam-se quando a atmosfera planetária em fuga choca com o vento estelar, o que faz com que o gás seja arrastado para trás. A observação de uma cauda tão extensa permite-nos estudar estas interações em grande detalhe”, diz Petigura.
O estudo direto da perda de massa atmosférica é fundamental para compreender exatamente como os planetas da nossa Galáxia evoluem ao longo do tempo juntamente com as suas estrelas.
WASP-69b está a perder cerca de 1 massa terrestre por cada mil milhões de anos, mas com uma massa total quase 90 vezes superior à da Terra, o planeta não corre o risco de perder toda a sua atmosfera durante a sua vida.
“A resiliência deste planeta num ambiente tão extremo e hostil permite-nos estudar o processo de perda de massa atmosférica, o que nos ajuda a compreender como as estrelas podem provocar a evolução dos seus planetas. Mas também serve como um poderoso lembrete para todos nós”, diz Tyler.
“A perspetiva é tudo. Apesar da multiplicidade de desafios que podemos enfrentar, como WASP-69b, temos o que é preciso para continuar”, conclui.
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