Nunca antes registada na Natureza, a intensa erupção de cores do camaleão, “como se proferisse as suas últimas palavras”, faz parte do processo de morte programada — o “adeus” que segue a reprodução.
Os últimos momentos de vida de um de um camaleão de Labord (Furcifer labordi) foram recentemente filmados e a intensa erupção de cores na sua pele está a impressionar os aficionados pela vida animal.
O fenómeno foi captado na Floresta de Kirindy, em Madagáscar, através de fotografia time-lapse e surge na nova série da PBS “Big Little Journeys” (“Pequenas grandes Viagens”).
O momento único da morte do camaleão foi capturado enquanto a equipa de produção tentava documentar o ciclo de vida completo desta espécie. A equipa reparou que um indivíduo estava a abrandar e montou uma câmara time-lapse para registar as suas últimas horas de vida.
Ao regressarem, descobriram que o camaleão tinha falecido — e as imagens revelaram uma exibição deslumbrante de cores nunca antes observada na natureza.
Já conhecidos pela sua incrível capacidade de mudar a cor da pele — um processo controlado por células especiais que contêm nanocristais que se expandem e contraem, afetando a reflexão da luz e, consequentemente, a cor exibida — a pele do camaleão exibe uma cintilante mudança de cor nos últimos momentos de vida, mais ou menos como um espetáculo de fogo-de-artifício.
“Nos seus últimos momentos, a sua pele irrompe com cor, como se proferisse as suas últimas palavras“, compara o narrador no vídeo.
Os caóticos padrões capturados em vídeo devem-se, segundo os investigadores, à continuação dos sinais nervosos que alteram a forma das células da pele.
No entanto, o evento faz parte de uma estratégia de sobrevivência mais ampla conhecida como morte programada, em que certos animais, como polvos e mariposas, morrem após a reprodução.
No caso dos camaleões de Labord, tanto os machos como as fêmeas morrem antes da estação seca, após esgotarem todos os seus recursos na reprodução. Consequentemente, durante uma parte significativa do ano, toda a população da espécie existe apenas sob a forma de ovos enterrados no subsolo, já que os adultos não evoluíram para sobreviver à estação seca.
Conhecido pela sua excecionalmente curta esperança de vida entre os vertebrados quadrúpedes (vive apenas quatro a cinco meses após a eclosão), o camaleão de Labord passa mais tempo na forma de ovo (oito a nove meses) do que após a eclosão.
As fêmeas empregam toda a sua energia na produção de ovos, que enterram na areia para proteger durante a estação seca. Tipicamente, morrem dentro de horas após terem posto estes ovos.
“Elas morrem apenas algumas horas depois de os terem posto, pois têm poucos recursos”, explicam a produtora da série Valeria Fabbri-Kennedy e o cientista Chris Raxworthy, herpetólogo no Museu Americano de História Natural, à Live Science.