62% dos portugueses confessa que já pagou mais por medicamentos devido às falhas de stock. Portugal ainda está abaixo da média da OCDE e de países como Chile, Alemanha, Reino Unido e Holanda na dispensa de genéricos.
A maioria dos portugueses (62%) já pagou mais por medicamentos devido à indisponibilidade de genéricos, enquanto 38% continuam a optar por medicamentos de marca seguindo indicações médicas, revela estudo da Deco Proteste que aponta para um aumento dos custos para as famílias e para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).
A situação é motivada por falhas de stock, como é o caso do rabeprazol, um medicamento para refluxo e úlcera gástrica, cujos genéricos estavam indisponíveis, forçando os consumidores a optarem por alternativas mais caras.
“Isto significa que o utente poderia pagar, em vez dos 13,44 euros que despende pelo mais barato nessa ocasião, 5,57 euros”, exemplifica a Deco Proteste.
Para combater estas questões, a Deco sugere duas medidas: a majoração da comparticipação do medicamento mais barato e a revisão dinâmica dos preços de referência.
O relatório também aponta diferenças regionais na dispensa de genéricos, com Braga e Viana do Castelo a liderar, enquanto distritos como Faro e Castelo Branco apresentam quotas mais baixas. Além disso, observa-se uma variação na prescrição de genéricos entre os cuidados primários e o setor privado.
“Os farmacêuticos têm de ter os genéricos mais baratos [de cada grupo homogéneo], mas antes disso estes têm de ser fabricados para poderem ser vendidos”, alerta ao Jornal de Notícias a presidente da Apogen, Maria do Carmo Neves.
A Associação Nacional de Farmácias (ANF) destaca a necessidade de reformular os incentivos atuais para promover a venda de genéricos.
“A fórmula que existe não valoriza o papel do farmacêutico”, explica a presidente da ANF Ema Paulino ao JN. “Temos contribuído para a quota de genéricos porque sabemos que é importante para a sustentabilidade do sistema [de saúde] e para as pessoas, mas na verdade implica uma perda de rentabilidade para as farmácias”, garante.
Embora 51,1% dos medicamentos dispensados em novembro passado fossem genéricos, Portugal ainda está abaixo da média da OCDE (54%) e de países como Chile (90%), Alemanha e Nova Zelândia (83%), Reino Unido (80%) e Holanda (79%), realça o JN esta segunda-feira, que cita dados do Health at a Glance 2023.
O estudo da Deloitte para a Apogen indica ainda que o uso de medicamentos genéricos permitiu uma poupança de 7 mil milhões de euros para o Estado e as famílias ao longo de 20 anos. Ademais, 70% das classes terapêuticas essenciais para doenças crónicas estão disponíveis no mercado de genéricos.