A história da vida no planeta Terra começou a ser escrita há 3,8 mil milhões de anos com o aparecimento da primeira célula. Desde então, a sua história conta já com vários capítulos marcados por uma constante evolução química e biológica.
A biodiversidade de seres vivos que já habitou no nosso planeta é inquestionável. No entanto, os seus números exatos permaneciam numa incógnita que foi agora desvendada.
Qual é a quantidade exata de vida que conta a história de vida na Terra? Foi esta a pergunta que intrigou um grupo de investigadores da Universidade de Carleton e que serviu de pontapé de saída para uma investigação fascinante.
O trabalho da equipa, publicado em Outubro na Current Biology, apresenta uma perspetiva fascinante dos inúmeros aspetos que rodeiam o passado — e o futuro — da vida no nosso planeta.
Como surgiu a vida na Terra
O início da vida na Terra é uma história de extraordinária complexidade. Para a compreendermos precisamos de recuar há 4,5 mil milhões de anos, quando o planeta se formou através de detritos cósmicos e poeira interestelar.
Nos seus primórdios, a jovem Terra era um ambiente hostil e inadequado para a existência da vida tal e qual como a conhecemos hoje.
Mas, à medida que os milénios foram passando, o planeta Terra arrefeceu e o vapor de água começou lentamente a condensar e a formar os primeiros oceanos. E foi este o berço da primeira célula, que se terá formado há cerca de 3,8 a 4,1 mil milhões de anos.
Embora o processo exato da sua formação seja ainda um mistério por resolver, a teoria predominante sugere que a vida começou a partir de compostos inorgânicos simples.
Através de uma descarga elétrica, estes compostos condensaram-se e formaram os primeiros blocos essenciais à vida – os aminoácidos e nucleótidos.
E é aqui que se deu um dos vários saltos críticos que compilam esta epopeia – as moléculas orgânicas combinaram-se de uma forma perfeita para originar as primeiras entidades simples com capacidade de se auto replicar. Foi o início da fabulosa história da vida.
A mágica transformação do carbono
Os primeiros seres vivos não tiveram uma vida fácil já que foram incumbidos de uma importante função que viria a comprometer a evolução da vida nos milénios seguintes.
Para que a vida se pudesse desenvolver era necessário transformar o carbono inorgânico em formas compatíveis com a vida, tal como o dióxido de carbono atmosférico e o bicarbonato.
A este processo designa-se por produção primária e pode ser considerada uma versão simplista da fotossíntese, já que era realizada por organismos que não dependiam de oxigénio. Este processo foi executado com primazia pelos primeiros organismos e permitiu produzir as primeiras formas de carbono orgânico.
E foi até aqui que o grupo de investigadores, liderado por Peter Crockford, recuou para calcular a quantidade de vida que já existiu na Terra.
Inicialmente, começaram por estimar a quantidade de carbono que foi absorvida no planeta, recorrendo a dados de composição isotópica em depósitos de sulfato, estimativas de produção primária e dados presentes em fósseis moleculares.
E eis que chegaram ao número mágico: desde o início da vida foram processados cerca de 100 quintilhões de toneladas de carbono no planeta Terra.
Para melhor compreendermos a sua dimensão, basta pensarmos que este número é cem vezes maior do que todo o carbono existente na Terra.
Os investigadores estimaram ainda que, por ano, a produção primária seja responsável pela absorção de cerca de 200 mil milhões de carbono.
A fotossíntese a produção de oxigénio
Ao longo dos incontáveis milénios que se seguiram, estas simples formas de vida foram evoluindo, tornando-se cada vez mais complexas e diversas.
Desenvolveram a capacidade de aproveitar a energia do sol através da fotossíntese e alteraram dramaticamente a composição atmosférica da Terra, abrindo caminhos para formas de vida mais complexas. Este salto na evolução foi propiciado pelas primeiras algas, plantas e cianobactérias.
O aumento de oxigénio na atmosfera foi um verdadeiro ponto de inflexão que permitiu a evolução de organismos aeróbicos que utilizam o oxigénio como fonte de energia.
A partir daqui a história fica mais fácil de compreender. Os organismos marinhos viram reunidas as condições para saltar para a terra e eis que surgiram os primeiros artrópodes e crustáceos. A partir daqui seguiram-se os primeiros répteis, anfíbios, aves e mamíferos.
De quantas células se conta a história da vida?
Após correlacionar todos estes eventos biológicos, o grupo de investigadores conseguiu estabelecer um número aproximado para a quantidade de células que já existiram no planeta Terra.
O resultado a que chegaram foi de um duodecilhão de células. São necessários quarenta zeros, a seguir ao número um, para escrever o número de células que conta a história da vida na Terra.
Embora este número seja de uma dimensão quase imcompreensível, o número atual de células não é muito inferior.
Os cientistas calcularam que, aos dias de hoje, existam cerca de 10 nonilhões de células no planeta Terra, o que demonstra a incrível capacidade das moléculas biológicas em se reciclarem e transformarem em novos seres vivos de uma forma lenta, mas constante.
Apesar das suas origens humildes, a vida diversificou-se nas inúmeras formas que conhecemos hoje. Não restam dúvidas de que a epopeia da vida é um verdadeiro testemunho de resiliência e adaptabilidade.