Há pedidos de ajuda, num narcótico particularmente perigoso. Última recomendação da DGS foi há 16 anos.
O fentanil está a causar problemas. O narcótico sintético potente tornou-se, há algum tempo, uma “epidemia” nos Estados Unidos da América.
Os números explicam esta preocupação: 75 mil mortos só em 2022. É a droga mais vendida nas ruas do país norte-americano.
Esse cenário ainda não chegou a Portugal, para já. Por cá, o fentanil só é vendido em farmácias.
Mas os casos de dependência já chegaram a Portugal.
É o quarto analgésico opioide mais vendido no país e já começou a originar dependência: mais de 300 mil embalagens ao longo de 2022 – e o número deve ser muito maior quando forem publicados os dados do ano passado.
O jornal Expresso lembra que o fentanil é administrado sob a forma de adesivos ou comprimidos (ou injectável nos hospitais) que tem efeitos mais rápidos do que outros tratamentos e, por isso, é muito usado para dores intensas, agudas ou crónicas.
Os doentes começam a tomar fentanil, prescrito pelos médicos, sobretudo médicos de família; mas depois ficam dependentes (é altamente viciante) e precisam de ajuda para largar o vício.
E o seu consumo é mais perigoso porque é mais ténue a diferença entre a dose recomendada e uma dose mortal.
Os dados do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências revelam que 12 pessoas pediram ajuda para serem tratadas por dependência de fentanil. Uma já neste ano, todos os outros em 2023.
A maioria ingeria também outras drogas, mas há quatro pessoas que ficaram dependentes apenas de fentanil.
Em Portugal, não há qualquer sistema de controlo de prescrição de fentanil, e há 16 anos que a Direcção-Geral da Saúde não emite qualquer recomendação sobre este assunto.
Mesmo na altura, em 2008, a DGS não dava importância aos riscos associados, já que não havia evidência científica suficiente para deixar qualquer alerta, mas já recomendava que o fentanil só deveria ser receitado em último recurso “e sempre com monitorização apertada” – dois avisos que podem não estar a ser seguidos.
A Polícia Judiciária não registou qualquer inquérito até agora mas está “muito atenta” ao tráfico de fentanil em Portugal.