A comparação tem estado a ser feita de forma errada, avisa estudo que promete abalar a investigação criminal. Mas o documento “desapareceu”?
Engenheiros da Universidade Columbia, em Nova Iorque, descobriram com recurso à inteligência artificial (IA) que não são únicas as impressões digitais de diferentes dedos da mesma pessoa, destruindo uma antiga crença da ciência forense, divulgou a instituição esta quarta-feira.
O trabalho, publicado na Science Advances, a revista da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS), mostra que aquelas “impressões digitais intrapessoais (…) são semelhantes”, mas que a sua comparação tem estado a ser feita “de maneira errada”.
“Não são só os detetives da série norte-americana “Lei & Ordem” ou os cientistas forenses da “CSI”, sobre a investigação de cenas de crime que usam as impressões digitais como padrão para ligar criminosos a um crime. Na vida real os investigadores também o fazem”, refere um comunicado da Faculdade de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade Columbia.
Mas se um perpetrador deixar impressões digitais de dedos diferentes em duas cenas de crime é muito difícil relacioná-las, adianta.
A equipa que realizou o trabalho foi liderada por Gabe Guo, aluno do último ano de Engenharia na Columbia, sem conhecimento prévio de ciência forense.
Guo encontrou um banco público de dados com cerca de 60 mil impressões digitais e “inseriu-as aos pares num sistema baseado em IA, conhecido como rede contrastiva profunda”. Os pares podiam pertencer à mesma pessoa (mas de dedos diferentes) ou a pessoas diferentes.
Com o tempo, o sistema de IA, que a equipa projetou modificando uma “estrutura de última geração”, melhorou a capacidade de deteção das impressões digitais que pertenciam à mesma pessoa e das que não.
“A precisão para um único par atingiu os 77%. Quando estavam em causa múltiplos pares o grau de precisão era significativamente maior, aumentando potencialmente em mais de dez vezes a eficiência forense”.
Por outro lado, Guo percebeu que a IA “não utilizou os padrões usados na comparação tradicional de impressões digitais”, as ‘minúcias’ (“ramificações e extremidades das cristas”), mas sim algo “relacionado com os ângulos e curvaturas das espirais no centro da impressão digital”.
Embora a precisão do sistema não seja suficiente para decidir oficialmente um caso, ele pode ajudar a priorizar pistas em situações ambíguas. “Se esta informação fizer pender a balança, penso que casos arquivados poderão ser reabertos e mesmo que pessoas inocentes poderão ser absolvidas”, referiu Lipson, citado no comunicado.
Apesar de os autores do estudo terem apresentado provas de que o sistema de IA “tem um desempenho semelhante em relação aos diferentes géneros e raças cujas amostras estavam disponíveis”, estão cientes da possível parcialidade dos dados.
Assim, consideram que é necessária “uma validação mais cuidadosa, utilizando conjuntos de dados com cobertura mais ampla”, antes de a técnica ser usada na prática.
A divulgação do projeto – uma colaboração entre os laboratórios Creative Machines, dirigido pelo engenheiro Hod Lipson, e Embedded Sensors and Computing, de Wenyao Xu, professor na Universidade do Estado de Nova Iorque em Buffalo — foi rejeitada mais do que uma vez, a primeira das quais por uma revista forense. Lipson recorreu da segunda rejeição, considerando que a “descoberta era importante demais para ser ignorada”.
Curiosamente, o ZAP queria partilhar aqui, como sempre, a ligação para o estudo mas… não conseguimos. A página desapareceu; não aparece qualquer estudo no suposto link.
ZAP // Lusa