Carta de Bin Laden aos EUA torna-se viral no TikTok (e está a “abrir os olhos” sobre Israel)

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(dr) IST

Osama Bin Laden ensinava pessoalmente matemática e ciências às filhas todos os dias

A carta onde Osama bin Laden explica o que motivou os ataques do 11 de Setembro tornou-se viral no TikTok, com muitos jovens a afirmar que mudou a forma como encaram a política externa norte-americana.

Mais de 20 anos depois de ter sido redigida, a “Carta à América” de Osama bin Laden está novamente nas bocas do mundo, depois de se tornar viral no TikTok.

O texto com mais de quatro mil palavras justifica os ataques terroristas do 11 de Setembro, elencando o impacto das intervenções militares norte-americanas no Médio Oriente e do apoio ocidental à ocupação israelita dos territórios palestinianos.

Na mensagem dirigida aos EUA , o líder da al-Qaeda critica o seu apoio à criação de Israel, que define como “um dos maiores crimes” do país. “Faz-nos rir e chorar ver que ainda não se fartaram de repetir as vossas mentiras fabricadas de que os judeus têm um direito histórico à Palestina”, escreveu.

“A Palestina está sob ocupação há décadas e nenhum dos vossos Presidentes falou sobre isso até depois do 11 de Setembro, quando Bush percebeu que a sua opressão e a tirania contra nós eram parte da razão do ataque”, defendeu ainda Bin Laden.

Com a recente escalada de violência na Faixa de Gaza, a carta ganhou uma nova relevância e está a ser muito discutida no TikTok, especialmente pela geração Z, com muitos jovens a terem nascido já depois do 11 de Setembro e a desconhecer o contexto histórico e geopolítico no Médio Oriente.

Vários utilizadores afirmaram que as palavras do líder da al-Qaeda lhes abriram os olhos para a realidade da política externa dos Estados Unidos. Num vídeo que chegou às 1,6 milhões de visualizações, uma utilizadora afirmou que a carta a deixou numa “crise existencial“.

“Nunca mais vou olhar para este país (EUA) da mesma forma. Nos últimos 20 minutos, o ponto de vista em que acreditei em toda a minha vida mudou”, afirmou.

Já um outro vídeo com mais de 100 mil visualizações afirma que “se vamos chamar terrorista ao Osama bin Laden, então temos de fazer o mesmo com o Governo americano”.

O jornalista Yashar Ali fez uma compilação de alguns dos vídeos no TikTok, num tweet que também já tem mais de 40 milhões de visualizações. “Os TikToks vêm de pessoas de todas as idades, raças, etnias e origens. Muitos deles dizem que a leitura da carta lhes abriu os olhos e nunca mais verão as questões geopolíticas da mesma forma”, escreveu Ali.

Na quinta-feira à tarde, o TikTok anunciou que tinha banido a hashtag #lettertoamerica, cujos vídeos chegaram a alcançar 14 milhões de visualizações, e que estava a apagar os conteúdos.

“O conteúdo que promove esta carta viola claramente as nossas regras quanto ao apoio a qualquer forma de terrorismo. Estamos a remover este conteúdo, de forma proativa e agressiva, e a investigar como chegou à nossa plataforma”, afirmou num comunicado.

O jornal britânico The Guardian também decidiu apagar a sua tradução na íntegra da carta, substituindo-a por um artigo que oferece maior contexto. No entanto, o efeito desta censura poderá ter sido justamente o contrário ao desejado.

Ao remover a carta, o jornal despertou ainda mais o interesse das pessoas, contribuindo para torná-la viral, sendo este um exemplo do “efeito Streisand” — quando as tentativas de ocultar algo acabam por aumentar ainda mais a curiosidade sobre o que está em causa.

“Não transformem os delírios públicos de um terrorista em conhecimento proibido, algo que as pessoas ficam entusiasmadas em redescobrir. Deixem as pessoas lerem as exigências do assassino – este é o homem que alguns idiotas do TikTok escolheram para glorificar. Acrescentem mais contexto”, defendeu Renee DiResta, gerente de pesquisa do Observatório de Internet de Stanford.

Há quem critique a escolha selectiva dos trechos lidos nos vídeos, dado que para além dos comentários sobre a questão da Palestina, a carta inclui ainda ataques à “imoralidade e devassidão” ocidentais, incluindo “actos de fornicação, homossexualidade, intoxicantes, jogos de azar e comércio com juros”.

“Não foi carta que se tornou viral. Foi a leitura selectiva de partes da carta que se tornou viral. E não sei se é porque as pessoas não a estão a ler ou porque só lêem as partes que querem ler”, afirma Charlie Winter, especialista em assuntos militantes islâmicos.

Alguns dos criadores do TikTok que partilharam a carta publicaram vídeos a responder às acusações de apoiarem o terrorismo ou a violência. Uma das criadoras em causa falou ao Washington Post em condição de anonimato e defende que leu a carta apenas para “fins educacionais“.

A autora do vídeo acrescenta que não tolera nem justifica as acções de Bin Laden. “É um mundo triste se não conseguirmos sequer ler um documento público, simplesmente para nos educarmos, sem sermos difamados online”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

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3 Comments

  1. Acabei de ler o texto na íntegra, e de chegar à conclusão de que quase ninguém dos vídeos acima o fez. Ou então não estão mesmo bem psicologicamente

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