Cientistas descobrem a origem do misterioso asteroide Kamo’oalewa

Juan A. Sanchez/PSI

Seria de esperar que os astrónomos já tivessem descoberto todos os asteróides e cometas próximos da Terra. Mas não é o caso.

Segundo o Wired, alguns escondem-se em órbitas difíceis de detetar, porque a sua descoberta requer olhar diretamente para o Sol.

Um desses objetos — chamado Kamo’oalewa — escapou à deteção até há cerca de sete anos, mas a sua origem sempre foi misteriosa… até agora.

Os astrónomos detetaram, pela primeira vez, o Kamo’oalewa com um telescópio no cimo do vulcão Haleakalā, em Maui, no Havai, e deram-lhe um nome havaiano que significa “objeto celestial oscilante“.

É considerado um “quase-satélite” da Terra, uma vez que daqui parece ser um companheiro constante — embora fraco — como uma lua distante. Mas, na verdade, está a pairar além da esfera de influência gravitacional do nosso planeta e orbita o Sol e não a Terra.

Desde do início que Renu Malhotra, astrónoma da Universidade do Arizona, suspeitou que não provinha de um cinturão de asteroides — a origem da maioria dos objetos próximos da Terra.

“A partir das propriedades da órbita, percebemos que era diferente de outros asteroides próximos à Terra e poderia potencialmente ter uma origem diferente”, diz Malhotra.

A sua equipa mediu o espectro de luz, que se assemelhava suspeitosamente ao dos silicatos encontrados na Lua e não nos asteroides.

Os resultados publicados em 2021 demonstram que, em teoria, um rochedo espacial de 50 metros, que se move de forma descontrolada, foi expelido da Lua, devido ao impacto de um asteroide há milhões de anos.

Agora, a equipa descobriu que a órbita oscilante de Kamo’oalewa é, de facto, consistente com essa teoria e publicaram a sua descoberta no mês passado.

Malhotra e o estudante de doutoramento Jose Daniel Castro-Cisneros utilizaram modelos numéricos para simular as formas como um pedaço de rocha lunar poderia ter sido projetado para uma trajetória espacial.

Modelaram possíveis colisões de asteroides com a superfície da Lua que poderiam ter lançado pedaços de rególito com velocidade suficiente para atingir a velocidade de escape, o que significa que não cairiam de volta à superfície.

Depois, modelaram as órbitas subsequentes dessas rochas e avaliaram se alguma acabou numa trajetória semelhante à de Kamo’oalewa. Algumas acabaram.

Esta investigação envolve modelar uma ampla gama de trajetórias possíveis que os fragmentos lunares poderiam seguir após serem ejetados por um impacto.

Malhotra e Castro-Cisneros concluíram que uma órbita como a de Kamo’oalewa é rara, mas não é impossível, surgindo em 0,8% dos cenários que exploraram.

A sua análise parece convincente, diz Andrew Rivkin, cientista planetário no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, que estuda a composição dos asteroides e que não esteve envolvido no artigo.

Rivkin enfatiza que Kamo’oalewa é um objeto invulgar. Dos cerca de 80.000 meteoritos recolhidos na Terra, apenas uma pequena percentagem provêm da Lua, e dos 1.382 meteoritos que caíram e foram observados e documentados por pessoas, nenhum era lunar.

Os investigadores concluíram que Kamo’oalewa, provavelmente, tem estado por aí durante milhões de anos, mas a sua órbita não é estável, graças ao clássico problema dos três corpos, no qual a influência gravitacional caótica de três corpos — a Terra, o Sol e Kamo’oalewa —, eventualmente, o empurrará para fora e voará para longe.

A investigação astronómica continua. Os investigadores agora estão a tentar localizar a cratera precisa de onde Kamo’oalewa foi lançado.

A proveniência lunar de Kamo’oalewa também tem implicações para os asteroides potencialmente perigosos para a Terra que a NASA e outras organizações procuram nos céus.

Significa que as pessoas também devem considerar órbitas provenientes da Lua, não apenas rochas lançadas do cinturão de asteroides.

A NASA está à procura de asteroides com 140 metros de diâmetro e maiores, semelhantes em tamanho ao que a sonda DART colidiu para testar técnicas de deflexão.

Objetos próximos da Terra provenientes de impactos lunares antigos provavelmente teriam 100 metros ou menos, diz Malhotra, mas ainda assim são conhecidos como “assassinos de cidades“, suficientemente perigosos para causar destruição generalizada se atingissem a Terra.

Esse provavelmente não será o destino de Kamo’oalewa, mas a investigação de Malhotra e Castro-Cisneros mostra que, provavelmente, existem outros objetos semelhantes em algum lugar.

Teresa Oliveira Campos, ZAP //

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