Uma equipa de investigadores observou duas comunidades de chimpanzés da Costa do Marfim a usar táticas militares antigas de vigilância para evitar — ou incitar — conflitos.
Os chimpanzés são capazes de usar estratégias militares até agora apenas observadas em humanos.
Este comportamento foi observado no Parque Nacional de Taï, na Costa do Marfim, e documentado num artigo publicado a semana passada na PLOS Biology.
De acordo com o estudo, estes primatas escolhem criteriosamente o seu posicionamento num conflito e preferem terrenos mais elevados — duas recomendações básicas de Sun Tsu, o filósofo e estratega militar chinês autor do famoso “A Arte da Guerra”.
“Esta é a primeira vez que se observa uma espécie não humana a usar estrategicamente terrenos elevados em conflitos territoriais”, explica Sylvain Lemoine, investigador da Universidade de Cambridge e autor principal do estudo, citado pelo Live Science.
O estudo, que envolveu o rastreamento extensivo dos movimentos e comportamentos de dois grupos de chimpanzés, revelou que estes preferem terrenos mais altos para avaliar riscos e tomar decisões estratégicas em disputas territoriais.
Esta abordagem reflete um nível avançado de metacognição, com a qual os chimpanzés refletem sobre o seu conhecimento e procuram mais informações para poder tomar decisões informadas.
Os chimpanzés, conhecidos pela sua capacidade de agressão coordenada e comportamento territorial, usam esses pontos de observação elevados para avaliar a presença e força de grupos rivais.
Esta estratégia permite-lhes decidir quando entrar em territórios disputados, seja para evitar conflitos ou encontrar oportunidades de ataque.
O estudo deixou claro que os chimpanzés estavam mais inclinados a mover-se em direção a áreas disputadas quando os seus rivais estavam distantes, sugerindo uma abordagem calculada para a gestão de conflitos.
Segundo os investigadores, esta tática não é apenas um comportamento aleatório, mas o resultado de capacidades cognitivas complexas moldadas pela seleção natural.
“Estas táticas de guerra podem ter raízes na evolução e serem semelhantes às proto-guerras observadas em populações humanas pré-históricas”, explica Sylvain Lemoine.
Embora este estudo se tenha concentrado nos chimpanzés do Parque Nacional de Taï, o investigador sugere que qualquer comunidade de chimpanzés pode usar estratégias semelhantes, dependendo das características do terreno no seu habitat.
Os chimpanzés vivem em comunidades que competem por espaço e recursos, e o seu comportamento envolve episódios frequentes de agressão coordenada — que, ocasionalmente, resultam em mortes.
Ainda assim, felizmente, estamos um pouco distantes do cenário distópico da icónica saga “Planeta dos Macacos”.