Vacina administrada no sangue, combinada com tratamentos de imunoterapia, pode vir a revelar um “novo paradigma de combate ao cancro”. Projeto nasce em Guimarães e está a ser avaliado pelo Infarmed.
Uma vacina que atua contra vários tipos de tumores pode vir a ser feita em território nacional, na Stemmatters, empresa sediada em Guimarães que se dedica à produção de medicamentos experimentais.
Esta eventualidade deve-se ao trabalho desenvolvido pelo projeto DC Matters, que desde julho de 2021 esforça-se para associar a utilização de vacinas antitumorais de células dendríticas com anticorpos para o tratamento de tumores.
Ao contrário da vacina da covid-19, a futura vacina não será administrada no braço ou de forma superficial, mas será sim injetada diretamente no sangue do paciente.
Com um financiamento de 2,1 milhões de euros, o projeto visa construir uma vacina eficaz contra doenças oncológicas isolando as células dendríticas — responsáveis por identificar moléculas desconhecidas, como os tumores — a partir de uma colheita de sangue. Esta separação permite retirar uma amostra do tumor e “ensinar” as células dendríticas, em laboratório, a adquirir uma resposta imunológica àquele tumor. A solução final é, posteriormente, injetada de volta no sangue do doente.
O projeto explora um “novo paradigma de combate ao cancro”, ao combinar tecnologias de manipulação de células do sistema imunitário e de “bloqueio” dos mecanismos de controlo da resposta imunitária.
Mas a novidade não é a vacina de células dendríticas, mas sim a terapia à base de anticorpos.
“Combinar a vacina com tratamentos de imunoterapia é algo que nunca se fez”, refere o oncologista Lúcio Lara Santos ao JN.
Ao jornal, os envolvidos no projeto confessam que a combinação da vacina com a imunoterapia poderia eventualmente substituir os tratamentos de quimioterapia.
As vacinas antitumorais baseadas em células dendríticas constituem “uma imunoterapia atrativa” devido à sua capacidade de ativar os linfócitos T e “induzir resposta imunológica, protegendo os doentes da progressão tumoral e possíveis recidivas”, afirma o o médico Júlio Oliveira, do IPO-Porto.
A vacina está ainda em fase de desenvolvimento e longe da comercialização e o Infarmed ainda está a avaliar o processo de obtenção de autorização para o seu desenvolvimento e fabrico. Testes em animais poderão arrancar em breve.
Investigadores do Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde (CINTESIS) e especialistas do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO-Porto), da NOVA School of Science and Technology da Universidade NOVA de Lisboa e da empresa portuguesa Stemmatters integram este projeto.
Destacando que os dados disponibilizados pela Direção-Geral de Saúde (DGS) mostram que “a incidência das doenças oncológicas tem aumentado em Portugal, a par da mortalidade”, o CINTESIS diz ser “crucial” desenvolver novos tratamentos que se tornem eficazes “nos casos mais difíceis” de cancro, abrindo assim uma “janela de esperança” nos casos considerados incuráveis.
“Estudos revelam, no entanto, que apenas 10 a 25% dos doentes respondem bem a esta abordagem terapêutica”.
Vários tipos de tumores, como o do pulmão, bexiga ou cólon, podem ser abrangidos por esta solução.