Num estudo inovador, cientistas identificaram uma mutação genética que afeta o tom da voz humana.
A pesquisa, realizada pela deCODE Genetics, é a primeira a localizar uma variante genética que afeta o tom da voz, independentemente do sexo.
O estudo, publicado na revista Science Advances esta sexta-feira, analisou quase 13.000 islandeses.
Historicamente, a influência genética na voz tem sido estudada através da identificação de mutações que causam distúrbios de fala.
No entanto, esta pesquisa é a primeira a mostrar a influência de uma variante genética no tom da voz numa grande população, explica Rósa Signý Gísladóttir, geneticista na deCODE Genetics e autora principal do estudo.
As hormonas e o tamanho do corpo moldam parcialmente a voz humana, o que explica porque as vozes femininas tendem a ter um tom mais agudo do que as masculinas. Contudo, explica a Nature, a genética também desempenha um papel significativo.
A deCODE, fundada em 1996, tem uma vasta base de dados de informação genética da população da Islândia, tendo-se tornado um importante centro de pesquisa genética.
Mais da metade da população adulta da Islândia participou num dos estudos da deCODE. Para a pesquisa do tom de voz, a equipa registou mensagens faladas de quase 13.000 islandeses e comparou as frequências das suas vozes com o seu banco de dados genético.
Os investigadores descobriram que as mutações partilhadas num gene, chamado ABCC9, estavam associadas a falar num tom mais agudo em diferentes idades e sexos.
O gene ABCC9 contém instruções que ajuda as proteínas de colagénio e elastina a funcionarem corretamente. Estas proteínas permitem que os tecidos do corpo se estiquem, uma característica crucial para a vibração das cordas vocais.
Além disso, os pesquisadores descobriram que os participantes com mutações de tom de voz alta eram mais propensos a sofrer de condições cardíacas.
Esta ligação parece lógica, pois o colagénio e a elastina ajudam no movimento adequado dos músculos do coração. Excesso de colagénio e elastina defeituosa podem fazer com que os tecidos do coração fiquem rígidos, o que também pode afetar as partes elásticas das cordas vocais.
A equipa acredita que outros genes também podem influenciar o tom da voz, pelo que são necessários estudos adicionais — com a participação de mais voluntários.