Quem se lembra das cápsulas de hibernação do clássico de Kubrick “2001: Odisseia do Espaço” já fica com uma ideia do que é a criopreservação. Com o objetivo de ser reanimado no futuro, o bilionário Peter Thiel confirmou na passada semana que ambiciona ser preservado criogenicamente.
O bilionário tem o grande objetivo de enganar a morte e inclusivamente já declarou, em entrevista ao The Telegraph, ser contra o conceito de mortalidade — ideia que reafirmou a semana passada, no Honestly, podcast da jornalista Bari Weiss, onde o co-fundador da PayPal fez a revelação.
“Nós nem sequer tentamos (…) deveríamos conquistar a morte ou pelo pelo menos perceber porque é que isso é impossível”, afirma o empreendedor, de 55 anos.
O alemão-americano, nascido em Frankfurt, frisou, no entanto, que está cético em relação à eficácia do processo.
“Não espero que isto funcione necessariamente, mas acho que é o tipo de coisa que é suposto tentarmos fazer”, afirmou, de acordo com o The Byte.
Investimentos exorbitantes do ‘ativista anti-morte’
O bilionário — que segundo o Índice de Bilionários da Bloomberg tem um património líquido de oito mil milhões de dólares — já é conhecido por ser um entusiasta da imortalidade e tem feito largos investimentos em várias start-ups de extensão de vida.
Um deles foi feito na Unidade Biotecnológica da Califórnia, empresa que já angariou, segundo a Standard, 200 milhões de dólares (cerca de 182 milhões de euros) das mãos de investidores como Jeff Bezos e Thiel.
A empresa trabalha com drogas que atingem as células senescentes, aquilo que os investigadores denominam como “toxina zombie“, uma vez que tem a capacidade de tornar senescentes outras células e espalha inflamações crónicas pelo corpo.
Recentemente, o primeiro investidor externo do Facebook apoiou uma tecnologia que permite congelar animais domésticos para, um dia mais tarde, os trazer de volta à vida.
Em 2022, Thiel investiu milhões numa pesquisa de anti-envelhecimento através da Fundação Methuselah, organização sem fins lucrativos que quer redefinir o conceito de envelhecimento e, de acordo com o The Guardian, “fazer dos 90 os novos 50.”
Na sua tentativa de atrasar a morte, Thiel estaria alegadamente interessado no processo de parabiose, que passa por receber transfusões de sangue de dadores jovens, com o objetivo de melhorar a saúde e, idealmente, reverter o envelhecimento natural.
Alcor — a empresa que vai congelar Thiel
Thiel afirmou que, para ser congelado, está a pensar recorrer à Alcor, empresa que, na esperança de reviver cadáveres e respetivos cérebros, tem-nos congelado desde 1976.
A entidade com sede no Arizona ganhou fama em 2009 após ser acusada de congelar uma lata de atum na cabeça do infame jogador de basebol, Ted Williams. As latas, alegadamente usadas para alimentar um gato das redondezas, serviriam como pedestais para as cabeças, escreveu, segundo a ESPN, o acusador e ex-funcionário da empresa, Larry Johnson.
Tida como líder na área da criopreservação, a Alcor foi ainda acusada por Johnson de decapitar acidentalmente outros corpos congelados.
A empresa confirmou, em 2009, que treinou os socorristas pessoais do milionário Don Laughlin, de 91 anos, para preparar o seu corpo para a congelação no momento da sua morte.
A Alcor mantém atualmente cerca de 200 pacientes mortos nas suas câmaras criogénicas, congelados a temperaturas inferiores a 196ºC. Alguns deles, escreve a MIT Technology Review, celebridades que anseiam, um dia mais tarde, ser “reintegrados na sociedade.”
Está vivo o sonho da ficção científica
Tem décadas a ideia de que os cadáveres humanos podem ser congelados e, mais tarde, regressar ao mundo vivo.
A prática ainda se baseia, no entanto, na crença e na esperança ao invés de provas científicas concretas.
Muitas vezes desonrada pela comunidade científica, a técnica que surgiu na década de 1960 foi alvo de chacota por parte da Criobiologia — ciência que estuda como o congelamento e as baixas temperaturas afetam organismos vivos e materiais biológicos —, cuja Sociedade baniu os seus membros de se envolverem na prática descrita como uma “fraude em vez de fé ou ciência” pelo presidente da época.
“É uma aspiração sem esperança que revela uma terrível ignorância de biologia”, afirma, segundo a MIT, o neurocientista e professor na King’s College, em Londres, Clive Coen.
O otimismo alimenta-se da confirmação de que tecidos como o esperma, embriões ou células estaminais podem ser criopreservadas. Aliás, os cérebros de um coelho, em 2016, e de um porco, em 2018, já foram criopreservados, mas preservar a estrutura cerebral não implica preservar as suas funções.
Nenhum dos desenvolvimentos da criopreservação humana levaram a uma possibilidade de reviver um ser humano.