Indústria energética e oposição alemãs criticam o “apagão nuclear” e apontam riscos para a segurança energética e prejuízo ambiental, já que o carvão irá continuar a ser usado. O Governo diz que a decisão é irreversível e garante o abastecimento de energia.
A indústria e a oposição conservadora da Alemanha criticaram esta semana o “apagão nuclear” no país, que é concluído este sábado com o encerramento das últimas três centrais nucleares, e negaram que o fornecimento de energia esteja garantido, como afirma o governo.
“A segurança energética não está garantida. Também devemos pensar nisso a longo prazo”, disse Peter Adrian, presidente da Câmara de Indústria e Comércio Alemã (DIHK), ao jornal Rheinische Post.
“A Alemanha deveria valorizar a diversificação com o objetivo de superar possíveis futuros problemas de abastecimento ou para evitar aumentos de preços da energia”, acrescentou o presidente da DIHK.
Jens Spahn, vice-presidente do grupo parlamentar conservador no Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), considera que o encerramento de centrais nucleares, enquanto os combustíveis fósseis como o carvão continuam a ser usados, é contrário aos objetivos de neutralidade climática.
“Este sábado é um dia mau para a luta contra as alterações climáticas“, disse Spahn à emissora de televisão RTL.
Governo garante segurança energética
As declarações do setor industrial e da oposição surgiram após declarações do ministro alemão da Economia e Proteção Climática, Robert Habeck, do Partido Verde, que considerou a segurança energética garantida e afirmou que o encerramento nuclear é irreversível.
“A segurança energética foi alcançada no difícil inverno passado e assim continuará no futuro”, disse Habeck, vice-presidente da coligação tri-partida de social-democratas, verdes e liberais.
O ministro lembrou que as reservas de gás estão em níveis adequados, que os primeiros terminais de gás natural foram instalados e estão a operar, e que estão a ser feitos progressos no desenvolvimento de energias renováveis, que devem fornecer 80% do consumo do país até 2030.
Em outubro passado, o chanceler federal alemão, Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata, aprovou um adiamento no cronograma para o encerramento das três últimas centrais nucleares, inicialmente previsto para 31 de dezembro e adiado para 15 de abril.
O chanceler, que recorreu aos seus poderes constitucionais, dispensou o consenso com os seus parceiros. Os Verdes eram contra o adiamento, e os Liberais consideravam que as centrais deveriam permanecer em funcionamento até pelo menos 2024.
O adiamento do encerramento das centrais foi decidido numa altura em que havia receios pela segurança do abastecimento durante o inverno alemão, após a diminuição acelerada do fornecimento de energia da Rússia, precipitada pela invasão russa na Ucrânia.
Esta decisão implicou que as três últimas centrais nucleares em operação – Isar 2 e Neckar 2, no sul do país, e Lingen, no centro – permaneceriam em operação até este sábado, 15 de abril.
No final de 2022, as três últimas centrais nucleares forneciam apenas 6% do consumo total de eletricidade da Alemanha, mas foram consideradas necessárias para a segurança do abastecimento.
Enquanto procedia à eliminação progressiva da energia nuclear, processo iniciado em 2002, a Alemanha reativou várias centrais elétricas a carvão, embora ainda pretenda eliminar esta fonte de energia entre 2030 e 2038.