Coldplay em Coimbra custam um milhão de euros à autarquia. “É o melhor negócio de sempre”

A Câmara de Coimbra vai ter um custo total da ordem do um milhão de euros com os concertos dos Coldplay na cidade, segundo as contas do PS que está na oposição. “É o melhor negócio de sempre”, diz o presidente do município.

A resposta do autarca surgiu após a vereadora do PS Carina Gomes, que falava durante a discussão em reunião do executivo, ter referido que “o apoio global directo e indirecto aos concertos dos Coldplay vai rondar um milhão de euros”.

O acordo entre a Câmara de Coimbra, a promotora Everything is New e a Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol (AAC/OAF), para a organização dos concertos dos Coldplay a 17, 18, 20 e 21 de Maio foi aprovado com os votos a favor da coligação Juntos Somos Coimbra (PSD, CDS-PP, Nós, Cidadãos!, PPM, Aliança, RIR e Volt) e um voto contra do vereador da CDU.

Os quatro vereadores socialistas recusaram-se a participar na votação, considerando estar em causa “um simulacro de democracia” por o acordo ser debatido 19 dias antes de entrar em vigor.

O acordo, para além de estabelecer um apoio de 440 mil euros à promotora, obriga a autarquia a ficar responsável pela substituição do relvado do estádio após os concertos, por assegurar a limpeza do espaço antes, durante e após os espectáculos, e isenta a Everything is New de qualquer taxa, tendo direito a utilizar o estádio entre 1 e 25 de Maio.

PS critica “dados ocultos” sobre o negócio

Carina Gomes sublinhou que o PS não duvida de que os quatro concertos “darão visibilidade a Coimbra“, mas criticou “dados ocultos” quanto ao negócio, nomeadamente a receita global de bilheteira e custos globais de produção associados ou o valor que a promotora irá pagar à AAC/OAF.

A vereadora, que assumiu a pasta da cultura no anterior mandato (onde o PS tinha maioria), vincou que o apoio dado à promotora não tem associados quaisquer critérios ou fundamentos e questionou o porquê de não estar contabilizado o valor das isenções de taxas.

“Não faz sentido, com contas saudáveis como as que a Câmara tem, gastar 440 mil euros nestes concertos, tendo cancelado a superespecial do rali [que teve um custo para a autarquia de 630 mil euros em 2022] e o Prémio Estação Imagem, estando a diminuir o orçamento de eventos culturais consolidados na cidade e não tendo criado uma única medida de apoio social extraordinário às famílias neste período de graves carências financeiras”, protestou ainda a vereadora.

“Quem lucra é a empresa promotora”

Também o vereador da CDU Francisco Queirós considerou que trazer uma banda da dimensão dos Coldplay para Coimbra é “uma ótima ideia”, mas questionou as condições em que os concertos acontecem, questionando até a legalidade do acordo.

“A atribuição de 110 mil euros por espectáculo a uma empresa privada é um avultado subsídio directo da Câmara a uma grande empresa privada de produção de eventos culturais”, salientou ainda.

Para Francisco Queirós, o acordo “não é aceitável”, considerando que, mais do que as empresas de restauração ou hotelaria, “quem na verdade lucra e brutalmente é esta empresa promotora, a juntar aos lucros de bilheteira”.

“Um dos melhores negócios de sempre”

Já o presidente da Câmara, José Manuel Silva, realçou, em resposta ao PS, que o acordo feito com a Everything is New é “exatamente semelhante” ao protocolo feito pelo anterior executivo socialista para o concerto de Andrea Bocelli, em 2021, com excepção do pagamento directo à promotora.

“Os que criticaram a não realização da superespecial [do rali], são os mesmos que agora criticam a realização dos concertos dos Coldplay. Em vez de trazermos 20 mil, trazemos mais de 200 mil pessoas a Coimbra. O retorno financeiro é incomparavelmente superior”, vincou.

Segundo o edil, o valor de apoio definido surgiu com base numa negociação com a promotora, assegurando que havia outros municípios interessados nos quatro concertos dos Coldplay.

“Negociámos bem, e ficando aquém do que nos era pedido, conseguimos uma proposta competitiva e lançar Coimbra na rota dos grandes eventos internacionais na área artística”, argumentou.

Na óptica de José Manuel Silva, estes concertos são “um dos melhores negócios de sempre nesta área para a cidade de Coimbra e para a sua região”.

“Se cada pessoa deixasse 500 euros, haveria um retorno tangível de 100 milhões de euros. Se cada uma só deixar 100 euros – e isso não chega para a dormida da maioria – são 20 milhões de euros. Portanto, teremos um retorno tangível entre 20 e 100 milhões de euros”, sustentou.

O autarca justificou o apoio também apontando para o exemplo de outras autarquias, que também dão apoio ou isentam de taxas grandes eventos culturais.

ZAP // Lusa

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