Cientistas acreditam ter descoberto um novo fungo parasita que se alimenta de aranhas alçapão na floresta tropical do Brasil.
O organismo raro, que tem a cor roxa, pertence a um grupo de fungos que infetam invertebrados e tomam conta do hospedeiro, relatou o Guardian.
Os investigadores não têm provas de que o novo fungo parasita controle o comportamento das aranhas alçapão antes de as matar, como acontece com os zombie-ant fungi. Estes últimos enganam os insetos, levando-os a deixar os seus ninhos, e tornaram-se famosos devido à série “The Last of Us”.
O fungo foi encontrado em novembro durante uma viagem às florestas atlânticas a norte do Rio de Janeiro, que tinha como objetivo documentar a biodiversidade da área e procurar novas espécies. A descoberta precisará de uma descrição científica formal antes de ser confirmada como uma nova espécie.
“É uma coisa realmente bela”, disse o João Araújo, micólogo brasileiro responsável pela descoberta. “O fungo infeta aranhas alçapão, e é um dos poucos cordyceps que são roxos”, explicou o especialista, que trabalha no Jardim Botânico de Nova Iorque, nos Estados Unidos.
“Não sabemos muito sobre este grupo fúngico, porque é muito pouco estudado. Este tipo de fungo tem sido recolhido muito poucas vezes no mundo, principalmente na Tailândia. Esta será provavelmente a primeira vez que sequenciamos uma espécie como esta no Brasil”, continuou.
A floresta tropical atlântica é um dos ecossistemas mais ameaçados do mundo. Outrora cobriu 15% do Brasil mas tornou-se altamente fragmentada, restando agora 20% da área original. Um ‘hotspot’ de biodiversidade, ostenta várias espécies que não se encontram em mais lado nenhum na Terra, incluindo o macaco-leão dourado e o rato arbóreo pintado.
A expedição, que foi uma colaboração entre o Jardim Botânico Real, o Jardim Botânico de Nova Iorque, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro e outras organizações, incluiu especialistas em plantas, fungos, sapos, cobras e aves que queriam ver o que restava na floresta. Os cientistas utilizaram a mais recente tecnologia portátil para sequenciar o genoma do fungo no local.
“A nova espécie que ataca aranhas alçapão pertence a um grupo diverso de fungos. Conhecemos cerca de 1% da sua diversidade, pelo que sabemos muito pouco”, referiu João Araújo.
“É necessário trabalho científico fundamental para que possamos, talvez, investigar novos compostos médicos ou utilizá-los para proteger as culturas contra pragas”, indicou igualmente.
O investigador principal, Oscar Alejandro Pérez Escobar, e Natalia Przelomska, que conduziu a sequenciação no campo, disseram que o trabalho poderia ser utilizado para acelerar a identificação de outras espécies em ecossistemas ameaçados.