Polémica no Reino Unido. Novo vice-presidente dos Conservadores apoia o regresso da pena de morte

David Woolfall / Wikimedia

A aposta de Sunak em Lee Anderson para seu número dois no partido está a suscitar muitas críticas devido aos comentários polémicos do deputado.

Foram precisos apenas dois dias para que a remodelação governamental de Rishi Sunak causasse polémica.

Perante a baixa popularidade do seu executivo, as críticas à sua resposta às sucessivas greves que têm paralisado o Reino Unido e recente demissão de Nadhim Zahawi — que foi afastado do cargo de vice-presidente dos Conservadores por não ter informado que estava a ser investigado devido a um erro nas suas declarações de impostos — Sunak tentou pôr ordem na casa e fazer uma mini-remodelação.

Mas a escolha do deputado Lee Anderson para suceder a Zahawi já está a causar problemas. Numa entrevista dada poucos dias antes da nomeação, Anderson afirmou que apoia o regresso da pena de morte e frisou que esta medida tem “100% de taxa de sucesso”, já que “nunca ninguém cometeu um crime depois de ser executado”.

A pena de morte por homicídio foi originalmente banida em 1969 no Reino Unido e foi abolida para todos os crimes em 1998. O país também assinou a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, que proíbe o regresso da pena capital.

No entanto, Anderson argumenta que os crimes hediondos em que os culpados são claramente identificáveis devem ser punidos com a morte. O deputado dá como exemplo os extremistas islâmicos Michael Adebolajo e Michael Adebowale, que em 2013 assassinaram o soldado Lee Rigby em Londres em plena luz do dia.

Adebolajo foi condeando a prisão perpétua enquanto que Adebowale foi condenado a 45 anos de prisão. “Temos de ter cuidado com isto, porque há sempre certos grupos que dizem ‘não se pode provar'”, explica Anderson sobre o risco de haver condenações erradas à pena de morte.

“Bem, podemos prová-lo se tivermos vídeo, como no caso dos assassinos de Lee Rigby. Eles deviam ter sido executados na mesma semana. Não quero sustentar estas pessoas”, argumenta.

Estes não são os únicos comentários polémicos do deputado. O novo vice de Sunak também tem opiniões controversas sobre a crise migratória e já comparou a resposta do Governo às travessias ilegais de pequenos barcos no Canal da Mancha à “banda do Titanic”, que tocava enquanto o navio se afundava.

No mês passado, Anderson esteve em Calais e encontrou-se com migrantes que se referem ao Reino Unido como o “El Dorado”. “Eles imaginam um país com as estradas feitas de ouro e onde, quando lá chegarão, já não têm de viver naquelas pequenas tendas enrugadas como o car****”, disse.

Sobre a sua solução para a crise, Anderson foi curto e grosso: “Enviá-los-ia de volta no mesmo dia. Eu pô-los-ia numa fragata da marinha ou algo assim e mandava-os para Calais. Eles iam deixar de vir”.

Lee Anderson também já boicotou abertamente a selecção de Inglaterra devido ao protesto dos jogadores contra o racismo e afirmou que os mais pobres “não sabem fazer orçamentos” e que devem fazer refeições de 30 cêntimos.

Mas estas posições de Anderson não parecem desagradar os eleitores. “Se eu disser algo que é supostamente escandaloso naquele lugar [Câmara dos Comuns], volto a Ashfield na quinta-feira e as pessoas saem das lojas e dizem ‘você diz aquilo que eu penso'”, explica.

O novo vice dos Tories é bastante popular entre os membros do partido e foi votado como o melhor deputado de 2022 num inquérito do blog Conservative Home.

A aposta de Sunak em Anderson pode ser assim uma tentativa de revitalizar o seu Governo com os eleitores. Uma sondagem do final de Janeiro deixou o primeiro-ministro mal na fotografia, com apenas 32% dos inquiridos a considerar que o sucessor de Liz Truss tem as qualidades certas para chefiar o Governo — uma quebra de 10 pontos em relação a Novembro.

43% dos britânicos acreditam ainda que Sunak não tem as características de um bom líder, uma subida de nove pontos, e 55% estão descontentes com o seu trabalho. Sunak tem também perdido cada vez mais terreno para Keir Starmer e 39% dos inquiridos já consideram que o líder dos Trabalhistas seria uma melhor escolha para ser primeiro-ministro.

“Não representa a minha visão”

A escolha de Anderson está a ser criticada mesmo dentro do partido. Um deputado Conservador revela à Sky News que o novo número dois de Sunak representa “tudo o que há de errado com a marca Conservadora de momento”.

“Ele parece gostar de provocar deliberadamente e fazer declarações agressivas e simplistas que não reconhecem as complexidades dos problemas do país. Se este é o novo partido Conservador, muitos serão perdoados se o desertarem”, acrescenta.

Outro deputado diz que acreditava que “Liz Truss já tinha matado a ala mais à direita do partido”. “Ninguém sabia que o Rishi tinha uma carta na manga ao fazer do Lee Anderson o rosto da direita, colocando o prego final no seu caixão“, considera.

Sunak já reagiu à polémica sobre os comentários de Anderson. “Essa não é a minha visão, não é a visão do Governo. Mas estamos unidos no partido Conservador em querer ser absolutamente implacáveis com o crime e garantir que as pessoas estão seguras e se sentem seguras”, afirma.

Adriana Peixoto, ZAP //

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