“És um urso esfolado”. Só saiu disparate nas traduções de alerta para nativos do Alasca

Especialistas consideram que os erros de tradução podem levar à marginalização de comunidades indígenas.

Depois de serem atingidos polo tufão Merbok, em setembro, os nativos do Alasca socorreram-se da ajuda do governo para recuperarem da destruição causada pelo fenómeno natural.

No entanto, as indicações que receberam não podiam ser menos úteis. De facto, as instruções, que deviam estar em duas linguagens indígenas, um dialeto Yup’ik e Iñupiaq, estavam incoerentes.

Por exemplo, num dos documentos da Agência Federal de Gestão de Emergência (FEMA, na sua sigla em inglês) que era suposto ajudar os indivíduos a pedir ajuda, podia ler-se algo como “o seu marido é um urso polar, magro” ou “amanhã vamos caçar muito cedo e não vamos trazer nada”, cita a AP.

As traduções erróneas surgem do contrato da FEMA e a empresa californiana Accent on Language. Desde então, os seus serviços foram dispensados e um pedido de desculpas foi emitido.

Segundo a mesma, apesar de ter a função de produzir documentos informativos em Yup’ik e Iñupiaq para ajudar as pessoas afetadas pela tempestade, é provável que um dos seus funcionários tenha usado frases aleatórias de fontes online e tenha começado a escrever conteúdo sem sentido.

Esta situação parece ser um caso único, mas já fez suscitar questões sobre se a existência de traduções honra as linguagens indígenas e as comunidades que as falam.

Há ainda especialistas que suspeitam que haja mais informações governamentais com erros que ainda não foram descobertos. A questão ganha especial dimensão se se considerar que estas comunidades estão particularmente sujeitas às consequências das alterações climáticas e de fenómenos climáticos.

De acordo com Gary Holton, professor de linguística da Universidade do Hawai e antigo diretor do Arquivo da Linguagem Nativa do Alaska, “ninguém estava a tentar fazer uma tradução”. “As instruções eram uma espécie de salada de palavras composta por palavras aleatórias”, descreveu ao site Vice.

O especialista considera ainda que muitas pessoas que receberam a indicação acabaram por ser “marginalizados” pelo erro.

ZAP //

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