Mau tempo: uma morte, quase 850 ocorrências e mais de 100 pessoas obrigadas a sair de casa

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António Pedro Santos / Lusa

Inundações na zona de Alcântara, o distrito de Lisboa é o que está a ser mais atingido pelas fortes chuvadas que se fazem hoje sentir em Portugal continental

Os Sapadores Bombeiros de Lisboa registaram 292 ocorrências entre as 21:00 de quarta-feira e as 07:30 desta quinta-feira devido ao mau tempo que se abateu na capital, a maioria das quais inundações em habitações e na via pública.

Fonte dos Sapadores Bombeiros de Lisboa disse à agência Lusa esta manhã que das 292 ocorrências registadas, “a grande maioria, 162 foram inundações em espaços privados, habitações, e 96 na via pública”.

As zonas da cidade que foram mais afetadas pela chuva foram as de Benfica, nomeadamente a freguesia de São Domingos de Benfica e Alcântara, zona da avenida 24 de Julho.

De acordo com a mesma fonte, até ao momento, há a lamentar a morte de uma mulher de 55 anos na noite de quarta-feira em Algés, concelho de Oeiras, devido a uma inundação na sua habitação provocada pelas chuvas fortes.

Mais de uma centena de pessoas tiveram que sair temporariamente das suas casas na sequência das fortes chuvas de quarta-feira, que atingiram sobretudo os distritos de Lisboa e Setúbal, informou a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil.

O comandante de operações José Miranda disse à Lusa que desde o início do alerta foram registadas 849 ocorrências. “Destas, 71% ocorreram no distrito de Lisboa e 11% no distrito de Setúbal, sendo que 80 por cento – 673 ocorrências – se devem a inundações”, explicou.

A maioria das ocorrências deu-se ao início da noite de sexta-feira e entre as mais significativas, José Miranda destacou um aluimento de terras na freguesia de Mina de Água, concelho da Amadora, que “atingiu dois barracões, e que levou a que 100 pessoas tivessem sido deslocadas temporariamente das suas habitações”.

“De momento [07:45] só temos 14 ocorrências ativas, tendo em conta que a situação está estabilizada”, disse a mesma fonte, adiantando, no entanto, que “como as pessoas começam a acordar agora é possível que o número de ocorrências venha a aumentar”.

“Registámos também inundações na Costa da Caparica, em Almada, que provocaram seis deslocados das suas habitações e o resgate de 47 pessoas dos seus veículos”, disse ainda. O responsável adiantou que as inundações registadas na freguesia do Feijó, em Almada, provocaram 10 desalojados.

Os distritos de Lisboa, Faro e Santarém estiveram até cerca das 02:30 desta quinta-feira em aviso vermelho, devido às previsões de chuva forte e trovoada, o mais grave de uma escala de três, é emitido sempre que existe uma situação meteorológica de risco extremo.

Setúbal, Leiria e Beja foram colocados em aviso laranja e os restantes distritos em amarelo.

A Autoridade Nacional de Emergência e Protecção Civil (ANEPC) elevou o estado de alerta para laranja nos distritos de Lisboa, Setúbal, Faro e Santarém até às 14:00 devido às chuvas fortes que se fazem sentir no continente.

O comandante nacional de Emergência e Protecção Civil, André Fernandes, disse ainda que Leiria, Beja, Évora e Portalegre se encontram em alerta amarelo.

Falando na sede da ANEPC em Carnaxide, em Oeiras, ao início da madrugada, André Fernandes indicou que no distrito de Lisboa e Setúbal havia várias estradas e linhas de comboio cortadas.

Os 18 distritos de Portugal Continental encontram-se hoje sob aviso amarelo, devido à previsão de chuva por vezes forte, podendo ser acompanhada de trovoada e de rajadas fortes de vento. Também os arquipélagos dos Açores e da Madeira estão sob aviso amarelo devido sobretudo à agitação marítima e ao vento forte.

O aviso amarelo corresponde a uma “situação de risco para determinadas atividades dependentes da situação meteorológica”.

Marcelo visita zona mais afetada pelas cheias

O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa lamentou esta quinta-feira a morte de uma mulher devido às inundações na região de Lisboa, destacando a necessidade de serem realizadas “obras estruturais” para o escoamento de águas.

“Estava fora de Lisboa e fiquei surpreendido. O problema é mais vasto do que Lisboa, mas em Lisboa, ao final da tarde, início da noite, percebi que a situação estava mais grave”, sublinhou o chefe de Estado, em declarações aos jornalistas na zona de Alcântara.

Marcelo Rendereçou os sentimentos à família da mulher que morreu na noite de quarta-feira na zona de Algés, Oeiras, devido à inundação da sua habitação, sublinhando também que as inundações devido às chuvas fortes que atingiram a capital portuguesa mostram a necessidade de serem realizadas “obras estruturais”.

Moedas: Chuva faz “parte das mudanças climáticas”

O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, disse esta madrugada que as intensas chuvas que provocaram inundações na capital portuguesa fazem “parte das mudanças climáticas”, e prometeu a construção de dois túneis de drenagem até 2025.

“As mudanças climáticas levam-nos a acreditar que estas mudanças são terríveis. Temos de lutar para mudar esta situação e foi por isso que hoje [quarta-feira] aprovámos na Assembleia Municipal todo o orçamento que vai permitir fazer os grandes túneis de drenagem”, adiantou à imprensa.

Segundo Carlos Moedas, a obra dos túneis de drenagem já se fala há 20 anos.

“(…) Nós consignámos a obra. Vai começar em março. Vamos começar a escavar este túnel que vai estar a 70 metros de profundidade e que levará todas as águas da bacia até Santa Apolónia. Vamos evitar estas cheias de uma vez por todas”, salientou.

“É uma obra que vem de trás, mas agora sim vamos começá-la. Temos cá as máquinas, temos tudo o que é necessário. Vamos arrancar já”, acrescentou, revelando que será construído “um que vai de Campolide até Santa Apolónia e outro que vai de Chelas ao Beato”.

O autarca disse ainda que a situação em Alcântara é a mais complicada, mas também é grave nas zonas do Campo Grande, Campo Pequeno, Baixa, Avenida de Berna e Avenida Cinco de Outubro.

“Neste momento temos de resolver a situação das pessoas em concreto. Falei com os 24 presidentes de junta de freguesia. Foi o que estive a fazer. (…) Vamos estar no terreno toda a noite”, acrescentou.

ZAP // Lusa

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2 Comments

  1. Quais alterações climáticas!? Este tipo de chuvas intensas e prolongadas sempre aconteceram ciclicamente.

    A diferença é nas consequências, derivado à enorme impermeabilização das zonas densamente povoadas, pouco coberto arbóreo (que é a melhor forma de aumentar a permeabilização so solo e reduzir enxurradas) e também ao dimensionamento das condutas de escoamento pluvial que são calculadas para um caudal com base num cálculo estatístico dos registos udométricos da região do 30º dia mais chuvoso do ano. O que implica que estatisticamente falando, haverá 29 dias por ano em que as condutas não suportam temporariamente o caudal.

    Soluções? Minhas sugestões: Redução da densidade de construção e criar mais espaços “verdes” permeáveis, nomeadamente com hortas também e árvores. E redimensionar as condutas e estruturas de escoamento pluvial para estes picos.

  2. O nosso Dinheiro do Povinho, que os Políticos gastam ou vão gastar no Katar, daria para limpar e consertar as redes de Saneamento.

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