Um grupo de cientistas descobriu que as pupas – formigas no seu último estágio de metamorfose – segregam um líquido que é consumido tanto pelas larvas como pelas formigas adultas. Essa substância, rica em nutrientes, parece ser vital para a sua sobrevivência.
“Identificámos um mecanismo que une a colónia, ligando as formigas nos estágios de desenvolvimento – adultos, larvas e pupas – numa entidade coerente, um superorganismo”, disse Orli Snir, primeiro autor do estudo e biólogo da Universidade Rockefeller, à Nature News.
O estudo, publicado recentemente na Nature, é “realmente interessante, porque identifica um novo tipo de transferência social que ninguém havia notado antes”, disse Adria LeBoeuf, da Universidade de Friburgo, na Suíça, que estuda a troca de fluidos entre formigas mas que não contribuiu para o estudo.
Orli Snir notou a substância pela primeira vez quando isolou pupas de formigas invasoras para estudá-las. Essas pupas produziram tanto líquido que se afogaram, relatou o New York Times.
Para descobrir se as pupas ainda produziam a substância na presença de formigas, injetou-lhes um corante azul, de acordo com a National Geographic.
No espaço de 24 horas, os cientistas verificaram que o corante estava presente nas formigas adultas e nas larvas, sugerindo que consumiam o líquido. A equipa observou ainda que as formigas colocavam as larvas perto das pupas para que se pudessem alimentar.
Os cientistas analisaram o líquido e descobriram que continha proteínas, aminoácidos, açúcares e vitaminas. Sem o líquido, as larvas tinham crescido de forma atrofiada e tinham menores taxas de sobrevivência.
Assim, o líquido parece funcionar como uma espécie de “leite”, fornecendo nutrientes essenciais para as formigas em desenvolvimento.
Os cientistas não têm certeza se os adultos se beneficiam diretamente do consumo dessa substância. Mas ajuda as pupas – se não fosse consumida, as pupas morriam devido a infeções fúngicas.
A equipa analisou igualmente outras espécies de formigas encontradas no Central Park, na cidade de Nova Iorque, de acordo com o Scientist. Os cientistas descobriram que as pupas produziam leite que outras formigas consumiam – espécies presentes em cada uma das cinco maiores subfamílias de formigas.
O facto de esse comportamento ser visto em subfamílias sugere que pode ser encontrado em muitas espécies de formigas, disse Daniel Kronauer, que estuda formigas na Universidade Rockefeller, outro dos autores do estudo.
Esse leite de pupa também pode ser parte da razão pela qual as formigas evoluíram de forma a se tornarem insetos socialmente codependentes. “Esse fluido pode ter ajudado na evolução do cuidado cooperativo das crias [das formigas], pois incentivou os adultos a cuidar dos filhotes”, referiu Adria LeBoeuf.
Os investigadores querem agora analisar como o leite pode moldar o comportamento e a fisiologia das formigas adultas e das larvas.