A China está a aliviar ligeiramente as restrições que motivaram os protestos em várias cidades do país. Os manifestantes alegam estar a ser perseguidos pela polícia e os conteúdos sobre a contestação estão a ser abafados no Twitter.
Algumas cidades chinesas estão a recuar nas restrições de combate à covid-19 perante os protestos em massa que a população iniciou contra as medidas apertadas As manifestações representam a maior onda de contestação ao governo e ao Partido Comunista desde o massacre na praça de Tiananmen.
O país tem uma política de “covid zero” que chega a impedir a população de sair dos edifícios e a confinar distritos e bairros inteiros com milhões de pessoas. Nos últimos dias, têm sido batidos vários recordes de novos casos.
O governo de Pequim já anunciou que as saídas dos prédios vão deixar de estar bloqueadas e que as passagens ficarão abertas para casos de emergência, como resgates ou assistência médica.
A população de Pequim e de Guangzhou também poderá sair de casa, mesmo quando estão em quarentena e haverá alívio de medidas no comércio. Em Ürümqi, os mercados em áreas com o risco de infecção mais baixo serão reabertos e o serviço público de autocarros será retomado. Já em Cantão, a população de certas zonas já não terá de ser testada em massa, num esforço para se poupar recursos.
Apesar dos alívios, o jornal oficial do Partido Comunista Chinês já veio apelar a que a política de covid zero continue a ser executada.
Questionado sobre se a contestação levará a uma mudança radical da postura das autoridades, Mi Feng, um porta-voz da Comissão Nacional de Saúde, garantiu que a China continuará a “afinar e modificar”” as medidas “Vamos manter e controlar o impacto negativo no sustento e vidas das pessoas”, garantiu.
O país vai ainda intensificar a campanha de vacinação junto de pessoas com mais de 80 anos e da população entre os 60 e os 79 anos de idade.
Protestos abafados no Twitter
As pesquisas no Twitter sobre as manifestações também estarão a ser abafadas, de acordo com a CNN. As informações e vídeos das demonstrações estão a ficar esquecidos no meio de uma onda de spam e pornografia. Os especialistas em desinformação acreditam que isto se trata de uma tentativa deliberada do governo chinês de abafar as imagens da contestação.
Desde o fim da semana passada, as pesquisas em mandarim sobre os protestos mostram imagens pornográficas de mulheres ou tweets com frases e palavras aleatórias. Muitos dos tweets são feitos por contas que foram criadas há poucos meses, geralmente não têm seguidores e também seguem poucas pessoas.
Manifestantes alegam perseguição da polícia
Os participantes nos protestos avançam que estão a ser contactados pela polícia e que as autoridades exigem saber a sua localização.
Não se sabe ao certo como a polícia descobriu a identidade dos manifestantes, mas é conhecido o uso de tecnologias de reconhecimento facial na China, tecnologias essas que já foram aplicadas nos protestos em Hong Kong.
Na manhã desta terça-feira, a polícia estava a patrulhar pontos de encontro em Pequim e Xangai onde os no Telegram tinham sugerido reunir-se. Um pequeno protesto em Hangzhou na noite de segunda-feira também foi rapidamente dispersado e os manifestantes foram detidos, avança a BBC.
Há ainda relatos de que a polícia estava a parar pessoas e a revistar os seus telemóveis para verificarem que estas não usavam redes privadas virtuais (VPN), que escondem o endereço IP dos utilizadores e lhes permitem usar aplicações como o Twitter ou o Telegram, que estão bloqueadas na China.
Uma mulher avança que recebeu telefonemas da polícia, assim como cinco amigos seus que também protestaram em Pequim. Num dos casos, um agente foi até sua casa após a amiga não atender as chamadas, lembrando que o protesto era “ilegal”.
Outro manifestante revela que teve de ir a uma esquadra para entregar um registo escrito das suas actividades na noite de domingo.
“Estamos todos a apagar desesperadamente o nosso histórico de mensagens. A polícia veio verificar a identidade de uma das minhas amigas e depois levou-a. Algumas horas mais tarde libertaram-na”, revela um protestante anónimo.
A polícia chinesa tem também detido jornalistas que estão a cobrir as manifestações. A agência Reuters avança que um dos seus repórteres foi detido no domingo e um jornalista da BBC foi agredido pelas autoridades.