As mudanças climáticas “podem ser tão mortais como o cancro”

blese / Flickr

Dhaka, Bangladesh

Se as emissões de carbono continuarem altas, o impacto das mudanças climáticas na saúde pode ser até duas vezes mais mortal do que o cancro em algumas partes do mundo.

A conclusão faz parte de novos dados divulgados esta sexta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD, e pelo Laboratório de Impacto Climático.

O estudo dá o exemplo de Dhaka, no Bangladesh, onde numa realidade de emissões muito altas até 2100, mortes adicionais devido às mudanças climáticas podem se tornar o dobro da taxa anual de mortalidade atual do país por todos os tipos de cancro, e 10 vezes por fatalidades anuais no trânsito.

As informações estão na nova plataforma Human Climate Horizons, que alerta também para o aumento das desigualdades se nada for feito para conter o aquecimento do planeta.

Com base nas análises dos Relatórios de Desenvolvimento Humano de 2020, 2021 e 2022, e alimentados por diversas pesquisas, os dados mostram como as mudanças climáticas podem afetar a vida das pessoas, da mortalidade aos meios de subsistência e uso de energia.

Embora temperaturas mais altas e um clima mais quente coloquem os sistemas cardiovascular e respiratório sob stress em qualquer local, os resultados variam entre as regiões, de acordo com as comunidades que têm recursos para se adaptar e as que não têm.

Os dados mostram por exemplo que as mudanças climáticas podem aumentar as taxas de mortalidade em Faisalabad, no Paquistão, em quase 67 mortes por 100 mil habitantes, causando mais mortes do que os acicentes vasculares, a terceira principal causa de morte no país.

Em Riad, na Arábia Saudita, no entanto, rendimentos mais altos podem manter o número de mortos em apenas 35 por 100 mil habitantes — ainda assim, uma taxa mais alta do que a doença de Alzheimer, a sexta principal causa de morte no mundo.

De acordo com a pesquisa, desde o final do século XIX, a temperatura média da Terra aumentou quase 1.2°C, alterando toda a superfície do planeta. No entanto, milhares de milhões de pessoas vivem em regiões que já experimentaram um aquecimento maior do que a média global.

Como exemplo, a plataforma aponta Maracaibo, na Venezuela, lembrando que na década de 1990 tinha uma média de 62 dias anuais com temperaturas superiores a 35°C. No entanto, em meados deste século, esse número aumentará provavelmente para 201 dias.

Impactos na energia e no trabalho

Para o PNUD, a disponibilidade de eletricidade e os combustíveis usados ​​para a gerar para alimentar ar-condicionado e aquecedores desempenham um papel crucial na capacidade de lidar com temperaturas extremas.

Ainda assim, os impactos das mudanças climáticas no uso de energia variam localmente, à medida que indivíduos, comunidades e empresas se adaptam às condições usando os recursos disponíveis.

Em Jacarta, por exemplo, prevê-se que o consumo de eletricidade em resposta a temperaturas mais quentes aumente em cerca de um terço do consumo doméstico atual na Indonésia. Isso exigirá planeamento de infraestrutura adicional crítica.

Temperaturas extremas mais frequentes e severas também afetam os meios de subsistência, afetando a capacidade de realizar tarefas e influenciando a intensidade e a duração do trabalho.

Segundo dados da plataforma, o impacto das mudanças climáticas difere consoante os setores da economia, com trabalhadores em setores de alto risco e expostos ao clima, como agricultura, construção, mineração e manufatura sendo os mais afetados.

Em Niamey, no Níger, em setores como construção, mineração e manufatura, o calor excessivo foi responsável por 36 horas a menos de trabalho por ano, afetando 2,5% do PIB futuro do país.

Como os impactos das mudanças climáticas não são distribuídos de forma uniforme globalmente, gerarão um aumento significativo nas desigualdades nos próximos anos e décadas.

Mas ao destacar que o futuro não é predeterminado, o PNUD espera que a informação possa sensibilizar as pessoas em todo o mundo a intensificar a ação climática.

ZAP // ONU News

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