Nas Ilhas Antípodas no Pacífico Sul, os investigadores observaram um estranho comportamento parental em pinguins-de-crista-ereta, que punham um ovo condenado a morrer.
Em 1998, uma equipa de investigadores fez a caminhada de três dias até às isoladas Ilhas Antípodas no Pacífico Sul para estudar um dos seus poucos residentes: o enigmático e ameaçado pinguim-de-crista-ereta.
“Estes são realmente os pinguins esquecidos“, disse Lloyd Davis, biólogo e comunicador científico da Universidade de Otago na Nova Zelândia, que liderou a equipa há quase 25 anos. “Ninguém sabe praticamente nada sobre eles”.
Estes pinguins inspiraram Davis, após décadas de trabalho na comunicação científica, a analisar os dados que ele e os colegas reuniram em 1998. Os resultados da investigação foram publicados a 12 de outubro na PLOS ONE, e explicam a demografia das aves e o seu estilo único de criação — incluindo a negligência, e em alguns casos o abate, de potenciais crias.
A equipa de investigação chegou às ilhas em setembro de 1998 e permaneceu durante a época de reprodução até novembro. Marcaram as costas de 270 pinguins com tinta amarela para que as aves pudessem ser seguidas.
Os investigadores contaram as aves, observaram os seus comportamentos de cortejo, criação de ovos e incubação. Recolheram dados sobre uma das características mais desconcertantes da biologia do pinguim: põem sempre um ovo que nunca eclode.
Todos os pinguins põem dois ovos na época de reprodução — um primeiro ovo mais pequeno e um segundo ovo maior — embora esta diferença de tamanho seja mais extrema nos pinguins-de-crista-ereta, segundo avança o The New York Times.
Noutras aves, é normalmente o último ovo que é mais pequeno, destinado apenas a ser chocado e criado se os primeiros ovos morrerem — uma espécie de apólice de seguro. No entanto, os pinguins-de-crista-ereta expulsam imediatamente o “seguro”, como uma primeira tentativa de uma panqueca não destinada a ser comida.
Todos os ovos mais pequenos que a equipa observou em 1998 morreram, principalmente no dia anterior ou no dia em que o ovo maior foi posto, sugerindo que o ovo mais pequeno não evoluiu para ser um “plano B”.
O primeiro ovo ser mais pequeno do que o segundo ovo fez dos pinguins-de-crista-ereta um enigma “durante os últimos cem anos”, sublinhou Davis. “Ninguém encontrou uma boa explicação para este facto”.
Os ovos mais pequenos não são normalmente incubados, e a maioria acaba por sair do ninho ou acidentalmente ser esmagada. Ocasionalmente, os pinguins empurram deliberadamente os pequenos ovos para fora dos ninhos.
Em 1998, a equipa realizou uma experiência: Construíram anéis rochosos protetores em torno de alguns ninhos e compararam o destino desses ovos mais pequenos com os dos ninhos desprotegidos. Apesar da barreira ter salvo alguns deles de rolarem para longe, todos foram negligenciados e morreram.
“Pode-se ver que do ponto de vista do pinguim, eles querem o ovo maior, e por isso estão a favorecer o ovo maior”, explica Dee Boersma, bióloga de conservação na Universidade de Washington.
Enquanto o antepassado dos pinguins-de-crista-ereta criava duas crias, Davis suspeitava que a escassez de alimentos levava à seleção natural nas espécies atuais, para reduzir o tamanho da sua ninhada para um.
Esta especulação irá provavelmente continuar, uma vez que só está a tornar-se mais difícil estudar os pinguins-de-crista-ereta. Davis sublinha que é cada vez mais difícil obter licenças para viajar para estas ilhas isoladas.
Com o aquecimento da temperatura global a um ritmo alarmante e a exploração contínua dos oceanos pelos humanos, os pinguins enfrentam inúmeras ameaças.
Davis espera que o seu estudo volte a trazer ao mundo o pinguim esquecido e desencadeie mais investigação. “Se não sabemos nada sobre eles, não nos podemos preocupar com eles”, admite.
Até que a investigação seja mais aprofundada, a razão pela qual os pinguins-de-crista-ereta favorecem os segundos ovos vai permanecer um mistério. “É apenas especulativo porque não sabemos muito sobre estas aves“, conclui Davis.