Numa descoberta sem precedentes, cientistas detetam reações de fetos à comida ingerida pelas mães

Sociedade Radiológica da América do Norte

Modelo 3D de um feto com 26 semanas

Os investigadores consideram que o estudo poderia ser também uma forma útil de falar com as mulheres grávidas sobre o que comem.

A couve é um alimento pelo qual poucas pessoas exprimem admiração, mas o problema (ou a implicância) parece surgir muito antes, ainda na barriga das mães. De facto, uma equipa de investigadores usou o vegetal para perceber se os fetos reagiam através de expressões faciais (como choro) quando expostos.

Apesar de investigações anteriores já terem sugerido que as preferências alimentares dos indivíduos podem começar antes do nascimento, por influência da dieta da mãe, a equipa responsável pelo presente estudo diz que este é o primeiro a analisar as respostas dos ainda fetos a diferentes sabores.

“Os investigadores anteriores limitaram-se a olhar para o que acontece após o nascimento em termos do que o bebé prefere, mas, na realidade, ver expressões faciais do feto quando estão a ser atingidos pelo sabor amargo ou doce, isto é algo completamente novo”, disse Nadja Reissland, da Universidade de Durham, co-autora da investigação.

Na revista Psychological Science, a equipa explica que os aromas da dieta da mãe estavam presentes no líquido amniótico. Como tal, as papilas gustativas podem detetar produtos químicos relacionados com o sabor a partir das 14 semanas de gestação e as moléculas odoríferas podem ser detetadas a partir das 24 semanas de gestação.

Para averiguar se os fetos diferenciam sabores específicos, a equipa analisou ecografias de quase 70 mulheres grávidas, com idades compreendidas entre os 18 e os 40 anos, do nordeste de Inglaterra, que foram divididas em dois grupos. Um grupo foi convidado a tomar uma cápsula de couve em pó 20 minutos antes de uma ecografia, e o outro grupo foi convidado a tomar uma cápsula de cenoura em pó. O consumo de legumes pelas mães não diferiu entre o grupo das couves e o grupo das cenouras.

A equipa também examinou as análises clínicas de 30 mulheres, retiradas de um arquivo, a quem não foram dadas quaisquer cápsulas. Foi pedido a todas as mulheres que se abstivessem de comer qualquer outra coisa na hora anterior às suas varreduras. A equipa efetuou então uma análise quadro a quadro da frequência de uma série de diferentes movimentos faciais dos fetos, incluindo combinações que se assemelhavam ao riso ou ao choro.

No total, os investigadores examinaram 180 ecografias de 99 fetos, feitas às 32 semanas, 36 semanas ou em ambos os pontos de tempo.

Entre os resultados, a equipa encontrou fetos com uma expressão de choro com uma frequência duas vezes maior quando a mãe consumiu uma cápsula de couve em comparação com uma cápsula de cenoura ou sem cápsula. Contudo, quando a mãe consumiu uma cápsula de cenoura, os fetos adotaram uma expressão de riso cerca de duas vezes mais frequente do que quando uma cápsula de couve ou nenhuma cápsula foi engolida pela mãe.

Benoist Schaal, autor da investigação, do Centre for Taste and Feeding Behaviour da Universidade de Borgonha, explicou ao The Guardian que a clareza dos resultados o surpreendeu. “Significa que a mãe ainda não terminou a sua refeição [quando] o feto já está consciente, ou capaz de sentir, o que a mãe comeu”, disse ele.

Beyza Ustun, primeira autora do estudo, afirmou que a equipa precisava agora de explorar a reação dos bebés após o nascimento aos diferentes sabores. “Esperemos ver menos reações negativas, se eles fossem expostos a couves prenatalmente”, disse ela.

Reissland acrescentou que o estudo poderia ser também uma forma útil de falar com as mulheres grávidas sobre o que comem. “O que [nós] sabemos de outras pesquisas é que se a mãe tem uma dieta variada, como vegetais e frutas, etc., os bebés são muito menos exigentes”, disse ela.

ZAP //

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