Genoma de burro revela percurso até à domesticação

Cientistas sequenciaram o genoma do burro, revelando assim toda a trajetória em direção à domesticação. 

“Os burros têm alimentado a agricultura humana ao longo da história inicial, e continuam a fazê-lo em todo o mundo, especialmente nas nações em desenvolvimento”.

“Os burros são animais extremamente corajosos, são verdadeiros sobreviventes…” diz Samantha Brooks, professora associada de fisiologia equina na Universidade da Florida/Instituto de Ciências Agrárias e Alimentares.

Estes animais são por vezes negligenciados, mas têm a sua própria história única e significativa, que conta como evoluíram ao lado dos humanos.

A nova investigação publicada este mês na Science, esclarece o papel fundamental que os burros desempenharam na vida humana diária, que remota a milhares de anos atrás.

De acordo com a Futurity, os investigadores sequenciaram o genoma dos burros de regiões de todo o mundo. Para contar a história deste animal, os cientistas analisaram o genoma das populações existentes, bem como o ADN dos fósseis de burros.

A história da domesticação do burro é muito diferente da do cavalo. Os cavalos foram domesticados duas vezes, sendo que a primeira tentativa falhou. Os burros foram domesticados uma vez e expandiram-se rapidamente.

Entre as populações que foram analisadas pelos cientistas, os animais eram originários de África há cerca de 7.000 anos e espalharam-se rapidamente pela Ásia e Europa. Além disso, ao contrário dos cavalos, os burros parecem ter igual representação genética tanto para os machos como para as fêmeas.

Segundo a Universidade da Florida, antes deste estudo, não estava claro onde e quando é que os burros foram domesticados.

“A domesticação é uma experiência natural realmente pura”, diz Samantha Brooks.”A forma como utilizamos animais no nosso dia-a-dia muda a sua fisiologia“.

“Ver isto ao longo de milhares de anos de história genética foi realmente fascinante. Estas mudanças ilustram como a fisiologia única do burro domesticado lhes deu as ferramentas necessárias para sobreviverem e prosperarem à medida que trabalhavam e viviam ao lado dos humanos”.

Compreender a história do burro e a sua constituição genética não é apenas um conhecimento histórico divertido, ajudará a tomar decisões sobre a sua gestão futura sob cuidados humanos.

Cerca de 44 milhões de burros percorrem o globo, e em muitas partes do mundo continuam a ser animais de trabalho importantes. Com o aumento da temperatura, estes animais terão de se adaptar para resistir ao calor e ainda satisfazer as exigências do seu trabalho.

“Através do seu ADN, os animais contam eles próprios a sua história”, diz Brooks.

“Normalmente, só conseguimos o lado humano da história através de relatos escritos, mas é claro que a história escrita nem sempre regista exatamente como algo aconteceu. Ao olhar para estas sequências de ADN, obtemos um testemunho biológico do ambiente em que estes animais viveram e das experiências em que sobreviveram”.

Os resultados também ajudam os investigadores a compreender o que os humanos estavam a fazer em diferentes pontos da história. Descrever o movimento dos burros revela informação sobre o movimento humano e o transporte de mercadorias, métodos de criação de animais, e seleção de características únicas que de outra forma poderíamos não ter a oportunidade de observar num animal.

“Os burros têm alimentado a agricultura humana ao longo da história inicial, e continuam a fazê-lo em todo o mundo, especialmente nas nações em desenvolvimento”, diz Samantha Brooks.

“Os burros são animais extremamente corajosos, são verdadeiros sobreviventes, e estamos entusiasmados por aprender mais sobre as adaptações que lhes deram para sobreviver.

“Uma melhor compreensão de como eles conseguiram a sua ‘dureza‘ irá ensinar-nos muito sobre fisiologia animal e dar-nos novas ideias sobre o que poderá ser necessário para adaptar as nossas populações de gado para sobreviver num clima de aquecimento”.

Inês Costa Macedo, ZAP //

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