A Coroa de Santo Eduardo está avaliada em 39 milhões de euros e é tão pesada que é apenas usada durante as cerimónias de coroação. Em 1671, as jóias da realeza britânica quase foram roubadas por um comandante irlandês.
São alguns dos maiores símbolos da monarquia britânica e daqui a uns meses estarão nas mãos (e na cabeça) de Carlos III, o novo rei do Reino Unido, na sua cerimónia oficial de coroação, que ainda não tem data marcada.
As colecção de jóias da família real britânica inclui algumas das peças de joalharia mais valiosas do mundo — tanto a nível monetário como sentimental e histórico — e a Coroa de Santo Eduardo é, literalmente, verdadeira a jóia da coroa.
Oficialmente, a colecção não tem valor, mas as estimativas apontam para que valha cerca de quatro mil milhões de euros. Só a Coroa de Santo Eduardo vale 39 milhões, com uma base metálica de ouro sólido de 22 quilos e 444 pedras preciosas e semi-preciosas usadas na sua decoração.
A peça tem aproximadamente 30 centímetros de altura e pesa 2,23 quilos. A falecida rainha Isabel II até chegou a dizer que, quando lia um discurso enquanto usava a coroa, não podia olhar para baixo porque o seu pescoço se “partiria”. “Há algumas desvantagens em usar coroas, mas fora isso até são coisas importantes”, brincou.
Dada a sua preciosidade e peso inconveniente, a coroa geralmente é apenas usada em cerimónias de coroação. Noutras ocasiões formais, o monarca usa antes a Coroa Imperial do Estado, que tem também cerca de 31 centímetros, mas pesa uns mais suportáveis 0,91 quilos.
A coroa nasceu à ordem do rei anglo-saxónico que a baptizou, Eduardo, o Confessor, que usou a sua versão original durante o seu reinado entre 1042 e 1066.
Mesmo depois da conquista normanda da Inglaterra, os monarcas continuaram a usar a opulenta coroa dourada nas suas coroações, um ritual que só chegou ao fim em 1547, quando a Igreja Anglicana denunciou o uso de relíquias medievais com ligações ao passado católico do país, conta o Ancient Origins.
A tentativa de roubo das jóias
Em 1645, quando a monarquia foi banida após a vitória de Oliver Cromwell durante a Guerra Civil, a versão original da coroa foi vendida ou derretida. A Guerra Civil em Inglaterra também desencadeou um dos episódios mais caricatos da história das jóias reais, protagonizado pelo comandante Thomas Blood — um nome que, diga-se de passagem, já é um mau agoiro.
Durante o conflito, Blood lutou ao lado dos Monárquicos, tendo depois trocado de fidelidade quando se tornou claro que os Parlamentares iriam sair vitoriosos. Quando essa vitória se concretizou, o irlandês foi recompensado com vastas terras que o tornaram rico.
No entanto, quando a monarquia foi restaurada em 1660, a troca de alianças saiu cara a Blood, que foi arruinado financeiramente após os seus terrenos serem confiscados. Tudo isto enraiveceu o comandante, que engendrou um plano em 1671 para se vingar com o roubo das jóias da coroa.
Para isto, fingiu ser um pároco de visita à Torre de Londres e aproximou-se de Talbot Edwards, um ex-soldado de 76 anos que era o responsável pela segurança das jóias. Blood até sugeriu que a amizade entre os dois fosse solidificada com um casamento, sugerindo que a filha de Edwards casasse com o seu “sobrino”, que na verdade era o seu filho, escreve o Ancient Origins.
Este plano digno de um vilão de um filme foi concretizado quando Blood levou o seu “sobrinho” para conhecer a família da noiva. Antes da esposa de Edwards chegar, Blood pediu ao amigo que lhe mostrasse as jóias da coroa. Foi aí que o comandante traiçoeiro e o seu filho prenderam e amordaçaram o segurança e tentaram fugir com os tesouros de valor incalculável.
Os ladrões teriam escapado sem problema, se não tivesse o alarme sido levantado. Uma versão especula que terá sido Edwards a conseguir tirar a mordaça e gritado “Assassino! Traidor! A Coroa foi roubada!“, outra diz que foi o filho do ex-soldado que alertou os guardas sobre o assalto.
Quando foi capturado, Blood recusou falar com qualquer pessoa que não o próprio rei, e o seu desejo foi concedido. O irlandês acabou por ser perdoado e Carlos II até lhe começou a pagar uma pensão de 500 libras por ano.
Não se sabe ao certo por que é que o rei foi tão generoso com Blood, com algumas teorias a indicar que o monarca fazia parte da conspiração e outras a dizer que temia uma rebelião dos apoiantes do ex-comandante.
O renascimento da coroa
No meio de todo este drama, a peça nunca foi esquecida, assim como a sua ligação com o rei Eduardo, que foi canonizado pela Igreja Católica em 1161.
A versão actual da coroa foi criada em 1661, para assinalar a restauração da monarquia britânica com o rei Carlos II. A nova coroa foi inspirada na primeira versão, mas inclui mais detalhes barrocos que não estavam presentes na original.
Depois da coroação de William III, em 1689, a coroa não foi utilizada durante mais de 200 anos, por razões desconhecidas. No entanto, foi novamente colocada na cabeça de um monarca na coroação de George V, avô de Isabel II, em 1911.
O rei inspirou-se no desejo do seu pai, Eduardo VII, que planeava ter usado a peça na sua coroação em 1902, mas acabou por ter de abdicar do desejo por estar a recuperar de uma doença e não conseguir suportar o seu peso.
Desde então, George V deu início a uma nova tradição, já que tanto o seu filho George VI, como a sua neta Isabel II voltaram a usar a Coroa de Santo Eduardo nas suas respectivas coroações. A rainha gostava tanto da coroa que incluiu uma adaptação da sua imagem em vários brazões, selos e logótipos reais.
Enquanto o sucessor de Isabel II não é oficialmente coroado, qualquer pessoa pode visitar a Torre de Londres e ver as jóias de perto. Mas não fique com ideias, já que é pouco provável que Carlos III seja tão caridoso quanto o seu homónimo Carlos II com qualquer aspirante a ladrão.